(Riva Moreira)
Os atropelamentos de pedestres são a principal causa de mortes no trânsito da capital. Dados da BHTrans revelam que, dos 113 óbitos registrados no tráfego da cidade em 2018, 46 eram de quem estava a pé no momento do acidente. Nem mesmo entre os motociclistas, que são os que mais se acidentam na metrópole, foram contabilizadas tantas vítimas.
Dentre as razões, afirmam especialistas, estão a imprudência dos próprios transeuntes, o desrespeito dos motoristas e a velocidade em que os automóveis se deslocam nos grandes corredores.
A maioria das mortes com pedestres acontece no Anel Rodoviário, via que concentra também a maior parte dos acidentes em geral, incluindo colisões, capotamentos e quedas de motos. Em seguida, estão as avenidas Afonso Pena e Amazonas, que cortam a região Centro-Sul de BH, local onde está a maior aglomeração de pessoas.
Mas os flagrantes de quem se arrisca em travessias fora das faixas próprias e passarelas são comuns em várias regiões. Na avenida Cristiano Machado – segunda com maior número de acidentes no ranking – muita gente evita a passarela em frente ao Minas Shopping para tentar ganhar tempo cruzando a via em meio aos veículos.
“Aqui, o tempo inteiro tem correria na frente dos carros, e isso é embaixo de uma passarela. Para piorar, alguns ainda fazem isso mexendo no celular”, comenta o músico André Anderson, de 47 anos, que espera pelo ônibus todos os dias no local.
Mão dupla
Consultor em transporte, Osias Baptista Neto explica que a morte de quem anda a pé é frequente porque são os agentes mais frágeis no trânsito. Por não usarem nenhum tipo proteção, acabam sendo os mais prejudicados ao serem atingidos por um carro.
“Mas há também a questão cultural. Os motoristas não têm o hábito de respeitar o pedestre que, por sua vez, não cria a consciência de se autoproteger. Ou seja, por que eu vou atravessar fora da faixa? Porque usando a faixa também sou desrespeitado”, analisa o especialista.
Para tentar impedir novos atropelamentos, a BHTrans informa que já realizou ações como a implantação de redutores de velocidade (quebra-molas), diminuição dos ciclos dos semáforos e aumento do tempo destinado a quem faz a travessia a pé, além da realização de programas educativos.
Travessia usando o celular é fator complicador, diz especialista
De janeiro a setembro, 365 atropelamentos foram registrados pelo Batalhão de Trânsito da PM (BPTran) na região Centro-Sul de BH. Sete pessoas morreram. Houve queda nas estatísticas em relação a 2018, mas as ocorrências ainda se concentram nos mesmos pontos.
A avenida Afonso Pena lidera o ranking com maior número de transeuntes feridos. Foram 43 nos nove primeiros meses do ano passado, contra 48 no mesmo período de 2019.Riva Moreira / N/A
RISCO - Imprudência de pedestres que atravessam fora das faixas e passarelas é parte do problema
Na metrópole, a dispersão dos caminhantes é fator decisivo para aumentar a chance de acidentes, afirma Agmar Bento, professor de Segurança Viária do Cefet. “O pedestre anda muito distraído usando o celular. Há até quem use fone de ouvido, o que atrapalha ainda mais porque a pessoa perde a referência e pode atravessar com o sinal fechado para ela”.
A estruturação das vias também é apontada pelo especialista como um problema. Ele destaca que, como a maioria das metrópoles, a capital mineira “foi pensada para os automóveis”. “Por aqui, temos cruzamentos de três vias, o que compromete a segurança de quem está a pé durante travessias. Na região Centro-Sul, onde está concentrada a maioria dos pedestres, a situação é ainda mais delicada”, completa Agmar Bento.