De dentro da boleia, "comando de guerra" mata mais de 100 em menos de seis meses

Renata Evangelista - Do Portal HD
24/08/2012 às 13:06.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:43

(Danilo Emerich/Arquivo Hoje em Dia)

Mais de 100 mortos e quase mil feridos em menos de seis meses. Os números, que impressionam, não se referem a uma guerra civil, e sim as vítimas envolvidas em acidentes com veículos de cargas somente em Minas Gerais. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que de janeiro a junho deste ano foram registrados 12.339 acidentes nas rodovias federais que cortam o Estado. Destes, 4.705 tinham pelo menos um veículo de carga envolvido.

Em 2011 os números foram ainda mais alarmantes, quando 240 pessoas perderam a vida nas estradas federais mineiras em 10.908 acidentes com veículos de cargas. No total, 2.109 pessoas ficaram feridas. Nas rodovias estaduais e federais delegadas pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) os números não são diferentes. Apenas no ano passado foram contabilizados 5.665 acidentes. Veja os dados completos na arte abaixo.
 


 

Segundo balanço da PRF, os tipos de batidas mais comuns envolvendo caminhoneiros são colisão traseira, com 1.227 acidentes, que vitimou 124 pessoas e deixou 12 mortos em 2012, e colisão lateral, com 1.097 acidentes, 61 feridos e 11 mortos. Mas o tipo de acidente que mais matou no Estado neste ano foi atropelamento, capotamento e tombamento, com 16, 15 e 14 óbitos, respectivamente.

Para o engenheiro civil e mestre na área de transportes, Silvestre de Andrade Puty Filho, apesar dos dados chocantes, estatisticamente os números de acidentes nas rodovias envolvendo caminhoneiros são o esperado. Na opinião do especialista, os motoristas de veículos de carga são os que estão nas rodovias o tempo inteiro e estão mais dispostos a se envolverem em acidentes. “A probabilidade é bem maior, uma vez que os caminhoneiros trabalham nas estradas, enquanto o motorista de veículo leve fica menos tempo nas rodovias”, considerou.
 
Mesmo assim, Puty Filho considera que o ideal seria que não houvesse tantos acidentes. Para o engenheiro, vários fatores influenciam para que o número de ocorrências nas rodovias seja tão alto, como o não cumprimento da legislação e a sinalização inadequada. “Existem problemas que estão documentados, como a sobrecarga de trabalho, a pressão do mercado, as condições das rodovias, os problemas nos veículos, entre outros. Essa série de fatores é concorrente com os problemas nos acidentes nas rodovias”, disse.

Ele acredita que se as normas impostas pelo Código de Trânsito fossem cumpridas, os números de mortes e acidentes poderiam ser menores. “A primeira coisa fundamental para reduzir os acidentes é aumentar a fiscalização ostensiva desse tipo de questão, paralelo as condições nas vias”, este seria o cenário ideal para o especialista.
 
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que considera que a sinalização nas rodovias federais em Minas está em boas condições. Além disso, o órgão disse que em várias modalidades de contratos (para implantação/pavimentação, revitalização, restauração e duplicação), que abrangem quase a totalidade da malha federal no Estado, cerca de 8.500 quilômetros, existe renovação ou implantação de nova sinalização horizontal e vertical. Conforme o Dnit, sempre que há necessidade, as placas nas rodovias são trocadas.
 

Imprudência e irresponsabilidade

Todos os órgãos e especialistas ouvidos pela reportagem do Portal HD são unânimes na hora de listar os motivos que ocasionam os acidentes nas rodovias mineiras. São eles: a falta de atenção do condutor, o excesso de jornada de trabalho, o excesso de velocidade, o uso de rebites, bebidas alcoólicas e outras substâncias ilícitas, além do excesso de peso.

 


Cerca 30% a 35% de todos os acidentes ocorridos em Minas e no Brasil são com veículos de carga. Para a PRF, o alto número de ocorrências registradas no Estado também se deve as características do traçado das rodovias mineiras, que são de declive, aclive, curvas, curvas com pontes.

Grande parte dos acidentes ocorre com caminhoneiros que não são do Estado e desconhecem que o traçado das estradas mineiras é mais complicado, por ser montanhoso. Além disso, o Estado é o ponto de passagem de caminhoneiros que vão de Norte a Sul do país. Somente em Minas são 7 milhões de veículos licenciados, e está frota aumenta em média 8% ao ano.
 
A PRF alerta que não há no Estado um ponto mais crítico, onde os caminhoneiros devem redobrar a atenção. Balanço do órgão revela que os acidentes estão concentrados em várias rodovias, por diversos trechos. O motivo da disseminação das ocorrências, conforme a PRF, é que os motoristas de veículos de carga se acostumam com os trechos críticos e relaxam em outros, considerados bons.

Prova disso foi o grave acidente ocorrido na BR-040, no dia 17 de março, que deixou 15 mortos. A tragédia, que envolveu um ônibus que transportava trabalhadores e uma carreta que levava um grande tubo de aço, aconteceu no KM 395, em Felixlândia, na região Central de Minas. O local, conforme indicou a PRF, geralmente não ocorre acidentes. Além das boas condições da pista, a batida ocorreu no início da tarde de um fim de semana, quando não havia trânsito na rodovia, e não chovia no dia.

Veja no vídeo abaixo como evitar acidentes nas estradas:
 

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