"É imprescindível que as mulheres saibam que não estão sozinhas", declarou a delegada Ana Paula Balbino, da Delegacia Especializada em Proteção à Mulher, responsável pelo inquérito que apura as denúncias de assédio contra um tatuador de um famoso estúdio na Savassi, região Centro-Sul de BH, que vieram à tona nesta segunda-feira (18).
De acordo com ela, logo que a corporação tomou ciência das ocorrências e uma vítima procurou a delegacia, as primeiras diligências já foram iniciadas e o inquérito policial aberto. “Isso é tudo o que podemos revelar sobre esse caso, porque as investigações desses tipos de denúncias sempre correm em sigilo no sentido de preservar as vítimas e evitar até mesmo uma revitimização”, explicou.
Balbino aproveitou o caso para chamar a atenção das mulheres para a importância de sempre denunciar crimes como os relatados pelas denunciantes do tatuador. “Se a mulher se sentir incomodada, se sentir qualquer atitude desrespeitosa, que a importune, orientamos que ela procure a Delegacia da Mulher, que aqui na capital tem plantão 24h com uma equipe especializada a postos para oferecer todo o suporte necessário às vítimas de qualquer tipo de violência”, orientou.
Entenda
O caso ganhou repercussão na última segunda-feira quando a ativista e ex-candidata ao Senado Federal Duda Salabert divulgou em sua conta no Instagram relatos que recebeu de mulheres assediadas por tatuadores, dos quais, segundo ela, cerca de 40% diziam respeito ao profissional do estúdio Tattoo Reggae, na Savassi.
Ao Hoje em Dia, três vítimas relataram situações em que o homem as teria assediado durante sessões de tatuagem. Uma delas contou que ele chegou a tocar no órgão genital dela e tentou beijá-la a força no fim da sessão. "Foram as quatro horas mais desconfortáveis da minha vida", declarou.
Procurado, o tatuador não quis se manifestar em um primeiro momento, mas afirmou ao Hoje em Dia nesta quarta-feira (20) que é inocente de todas acusações e que ainda não foi intimado para depor sobre o caso, mas se coloca à disposição da Justiça. “Sou profissional há mais de 30 anos e sempre respeitei minhas clientes. Tenho família, tenho uma filha que não para de chorar, um filho que não quer mais ir à escola e estou sofrendo com ameaças e crises de pânicos. Eu preciso trabalhar e não consigo”, se defendeu.
Rede de proteção
Para a delegada, é importante que as mulheres saibam que existe toda uma rede de enfrentamento pronta para ajudá-la a superar os traumas e buscar a punição dos culpados, e a Polícia Civil faz parte dessa rede. “Esse tipo de violência está presente em todos os lugares, em todas as esferas, e essa rede de enfrentamento existe para combatê-la, para mostrar que as mulheres não estão sozinhas”, ressaltou.
Como chave para o enfrentamento desse tipo de violência, a delegada destacou a resolução de 2018 que transformou de contravenção para crime o ato de importunação sexual. Para ela, a inovação é um avanço no sentido de trazer a punição de forma mais efetiva e eficaz a quem tenha esse tipo de comportamento. “O que antes era punido com multa, passa a ser um crime inafiançável passível de reclusão de 1 a 5 anos, e isso leva segurança à mulher”, comemorou.