Delegado que teria atirado em namorada nega crime e reza pela vítima

Celso Martins - Hoje em Dia
09/05/2013 às 15:49.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:33

O delegado da Polícia Civil Geraldo Toledo Neto, suspeito de atirar contra a namorada de 17 anos, alega que está sendo vítima de uma armação planejada por inimigos da corporação. A revelação consta em uma carta enviada ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, deputado Durval ângelo (PT). A tentativa de homicídio ocorreu no dia 14 de abril deste ano, no carro de Geraldo Toledo, na estrada que liga Ouro Preto ao distrito de Lavras Novas, Região Central de Minas. O delegado foi convocado pela Comissão a prestar esclarecimentos em uma audiência realizada nesta quinta-feira (9), mas não foi liberado pela juíza Lúcia de Fátima.   Alegando inocência, o delegado diz que é “padrinho e protetor da menor". Na carta, ele confessa que chegou a morar com a adolescente depois de uma suposta gravidez. A jovem está internada no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), em Belo Horizonte, mas seu estado de saúde não foi divulgado, a pedido da família.   “Rezo todos os dias pela melhora de tão preciosa pessoa. Mas rezo também pela Justiça e para que afaste os “Joseph Goebbels” da mídia que existem (sic) em me crucificar. Sou voluntário em obras sociais e já ganhei prêmios por trabalhos contra as drogas e combate a pedofilia”, segundo trecho da carta.   Contradições   Segundo a delegada adida de Polícia Civil, Agueda Bueno do Nascimento, que investiga o caso, a menor foi deixada na unidade sem nenhuma identificação e transferida para Belo Horizonte como indigente. Ela apontou várias contradições entre os depoimentos de Toledo Neto e as investigações realizadas pela instituição.    A delegada justificou que a conduta adotada pelo suspeito na data do incidente pressupõe uma série de atitudes para dificultar a apuração do caso. Apesar do inquérito ainda estar em andamento, Agueda Bueno adiantou que a versão do delegado aponta muitas falhas, omissões e mentiras. Uma delas é a ausência de vestígios de pólvora nas mãos da adolescente, o que afasta a hipótese de tentativa de suicídio apresentada por Toledo.   Ela contou, ainda, que o médico do hospital João XXIII, que atendeu a menor, tirou fotos do ferimento causado pela bala. Análises da perícia, a partir das imagens, indicam que o disparo não é característico de tentativa de suicídio.    O corregedor-geral da Polícia Civil, Renato Patrício Teixeira, que participou da audiência, informou que o delegado é alvo, atualmente, de dez inquéritos policiais, nove sindicâncias e ainda dois processos administrativos. Cópias de todos esses processos foram requisitadas pela Comissão de Direitos Humanos.    Nova audiência   O deputado Durval Ângelo marcou nova audiência com a presença do delegado Geraldo Toledo Neto para o próximo dia 27. O parlamentar classificou a decisão da juíza de “absurda”, por não ter liberado o réu para prestar esclarecimentos na Assembleia.    Diante da situação, os deputados presentes na audiência aprovaram um requerimento de autoria da Comissão de Direito Humanos, solicitando o envio de ofício ao corregedor-geral de Justiça de Minas Gerais. No documento, os parlamentares pedem que seja cumprida a requisição pela convocação do delegado, com base em vários artigos da Constituição da República e do Estado.    Eles esperam que a liberação para que Toledo Neto seja conduzido à Assembleia saia a tempo para que a audiência não precise ser remarcada novamente. Outro requerimento aprovado pela Comissão pede que seja apurada, pela Corregedoria-Geral de Justiça, a conduta da juíza Lúcia de Fátima nesse episódio.   Leia na íntegra a carta escrita pelo delegado.   Belo Horizonte, 28 de Abril de 2013.   Nobre Deputado Durval Ângelo,   Com muita honra e respeito me dirijo a V.exa para esclarecer alguns fatos apresentados pela imprensa, nos últimos dias, contra minha pessoa.   Primeiramente saliento que não sou o mostro que injustamente tentou me retratar. Fui criado em tradicional cultura mineira. Sou bisneto do ex-governador Eduardo Amaral, neto do desembargador Geraldo Toledo e filho e parente de políticos, juizes, delegados e procuradores de justiça. Fui aprovado em 3º lugar no concurso para delegado e fui destaque na Academia, sendo nomeado pelo então governador Itamar Franco, o orador oficial na formatura de todos os aspirantes. Em todas as cidades onde trabalhei fui homenageado, inclusive na própria Contagem, onde também sou cidadão honorário.   Como V.Exa. , também sou professor e doutrinador.    Em 2005, tive a honra de estar em seu gabinete e em autografar seu livro.   Neste mesmo ano entrei para a politica interna e me tornei vice-presidente da Associação dos Delegados, o que me angariou alguns desafetos.   No ano seguinte, um destes me acusou de fazer parte de uma quadrilha de roubos de motocicletas. Recentemente, duas testemunhas foram até a Corregedoria e confessaram que foram torturadas, na época, para inserirem propositadamente, meu nome, como membro daquela quadrilha.    Não satisfeitos, em 2011, me acusaram de fazer parte de uma quadrilha que “licenciava” caminhões roubados no Espirito Santo. Em uma “Escuta”, o principal suspeito diz que fizeram uma “armação” para me incriminar e que o verdadeiro responsável é um delegado de nome semelhante e que o “aposentaram” em receio de um enorme escândalo institucional.   O caso A .L   Em agosto de 2010 a família da A.L. Mudou-se para meu prédio e rapidamente nos tornamos amigos. Sabendo que sou professor, a mãe Rubiany solicitou que eu orientasse A.L. , que estava escrevendo um livro, o que selou um forte vinculo entre todos nos.    Em 2011 eu já não mais morava naquele predio mas a amizade familiar se mantinha. Já busquei, inclusive à pedido da mãe Rubiany, A.L e sua irma T. na escola, já que ela estaria em Betim.    A amizade familiar foi rompida quando, desesperada, A.L. me procurou chorando muito, dizendo que seu padrasto a teria assediado e que sua mãe estaria tendo um caso com o vereador Celso Rosa, de Betim.   Ela foi expulsa de casa, por ter me contado, e foi morar com os avos em Goias.   Voltou em 2012 e começou a me procurar insistentemente. Reatamos nossa amizade e A.L. resolveu   morar numa “republica”, pois sua família a ignorava e estava mudando para a cidade de Cons. Lafaiete.   A.L. começou a frequentar festas “raves”, a tomar ecstasy e fumar maconha. Preocupado, fui ate sua “republica” e a tirei de lá, quando obtive forte desentendimento com suas “amigas”.   Em agosto de 2012, já com 17 anos, comecei a ter um ligeiro relacionamento com A.L. logo após finalizar um outro com Rafaella.   A.L. , percebendo que o nosso relacionamento não estava serio, já que nos finais de semana eu viajava ou saia com amigos, simulou uma gravidez e pediu para morar comigo. Aceitei imediatamente, já que era um sonho antigo ter mais um filho. A inscrevi no programa governamental “Mães de Minas” e a coloquei como dependente em meu plano de saúde “UNIMED” e começamos a viver realmente como um casal como bem retratou o jornal Estado de Minas de 17 de Abril de 2013.   Aconteceu que, desconfiado, insisti em exames médicos e, após 40 dias em exame de “ultrassom” descobri que ela nunca esteve gravida.   Desesperada, A.L. veio para Belo Horizonte e me pediu abrigo, o que foi negado, ate porque eu estava saindo de férias. Ciente disto e inconformada, simulou ter sido agredida e se dirigiu ate uma delegacia solicitando minha prisão e o impedimento de minha viagem.   Fui para o aeroporto e viajei tranquilamente. A.L. me pediu perdão, confessou a mentira e solicitou a delegacia a desistência do procedimento criminal.   Voltou para Cons. Lafaiete e mantivemos nossa amizade. No dia 08 de abril, ela me mandou mensagens alegando que estava desesperada porque teria que morar com seu primo que também a assediava. Disse também que queria devolver um pen-drive meu, que continha importantes documentos e fotos da minha vida.   Fiquei bastante preocupado pois sabia que A.L. estava em estado depressivo. No mês anterior ela me furtou minha arma e escreveu que iria suicidar. Tanto esta, como aquela vez, a convenci em se acalmar, propondo que ficaríamos juntos num futuro próximo.   A.L. pediu para leva-la a Ouro Preto no domingo pois queria reviver sua infância na casa dos parentes.    Passamos por toda cidade, nas ruas onde ela brincava. Tiramos muitas fotos e tivemos uma excelente tarde, com profunda emoção para ela.   Quando pegamos a estrada, entretanto, ela começou a entrar em desespero, pedindo para morar comigo pois teria sido expulsa de casa mais uma vez e viveria com um primo que a assediava.   Tentei consolá-la e convence-la de enfrentar tal situação. Ela se desesperou mais e começou a me agredir e tirou a chave do contato do carro. Sai do veiculo, na estrada, dizendo que iria embora. Em berros ela pedia para eu voltar. Quando olhei para trás, ela retirou da bolsa uma pequena arma e disparou contra si mesmo, na cabeça. Atordoado, levei-a para o hospital e , devido ao estado de choque, não consegui encontrar a delegacia no “labirinto de Ouro Preto” e acionei imediatamente minha família, a família dela, meus superiores e minha advogada. Durante nossa discussão não estrada, e a retirada da chave do veiculo, acionei a delegacia de Ouro Preto, me identificando, o que demonstra que nada foi premeditado. Fui para Ouro Preto penas para lhe presentear com as lembranças de sua infância, o que lhe trouxe emoção, alegrias, como revelam nossas fotos em diversas pontos naquela cidade.   Um criminosos nunca avisa antecipadamente que esta no local da ocorrência.   Não existe qualquer motivo para eu desejar a morte de tao maravilhosa garota. Existe, porem, pelo menos 3 motivos para ela não querer mais viver...   A perícia detectou que a arma que eu carregava no posto de gasolina era um revolver 38 e não a arma que ela usou contra si mesmo. (fls 387 a 398 do inquérito policial).   Se eu realmente quisesse mata-la, eu não a levaria para o hospital. Alem disso, usaria a arma que trazia, um 38, que tem um poder de lesividade e de destruição maior. A tomografia compatível do suicídio descreveu uma trajetória compatível com suicídio de pessoa destra (fl331).   O exame de residuograma, feito apensa no outro dia, o que torna inidonio, descreve que a arma usada dor A.L. não solta resíduos/pólvora (fl0386).   Os exames do I.M.L foram feitos 10 dias depois, após ela ter vivido enorme assepsia, limpeza e raspagem do cabelo, o que descartaria o “corpo de delito” (fl 324).   A amiga Gabriela Braga alega que A.L. possuía uma arma e munições e queria vender (fl 156).   Enfim, volto a insistir que não havia qualquer motivo para desejar a morte de A.L., muito pelo contrario. Eu era o seu melhor amigo, o seu padrinho, professor e desejava um enorme futuro.   Sua família a abandonou e a ameaçava expulsa-la de casa novamente. Tenho todas as mensagens por escrito de A.L. relatando seu desespero.   A carta que V.Exa. Recebeu de Rubiany não foi escrita por ela porque é semi-analfabeta. Estão usando de seu prestigio como o maior nome de Minas Gerais na defesa das minorias.   Entendo a dor de uma mãe pela situação ocorrida mas desconfio da dimensão dada.   Rezo todos os dias pela melhora de tao preciosa pessoa. Mas rezo também pela justiça e para que afaste os “Joseph Goebbels” da mídia que existem em me crucificar.   Sou voluntario em obras sociais e já ganhei prêmios por trabalhos contra as drogas e combate a pedofilia.   Sou humano e cometo falhas. Sou um bom profissional e um bom cidadao, bom pai e extremamente leal.   Que Deus ilumine o senhor, nobre Deputado, para que possa tomar as atitudes certas.   Com respeito e admiração,   Geraldo Toledo Neto

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