(Reprodução/Facebook)
A ocupação denominada "Okupa na Real UFMG" terminou na tarde desta segunda-feira (23). Depois de 18 dias acampados no saguão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estudantes do curso de Ciências Sociais resolveram desocupar o local.
De acordo com Frederico Lopes, estudante e membro do grupo de manifestantes, o balanço da ocupação é positivo. "Conseguimos chamar a atenção de muita gente e retomar debates importantes como o valor da bolsa concedida aos estudantes, que está defasado em relação ao salário mínimo", avaliou.
Para a estudante Larissa Duce Antunes, a postura da Reitoria ainda é insatisfatória. "Nenhuma das pautas propostas foi aceita pela universidade. Desocupamos o local por medo da repressão policial que poderia aumentar", afirmou.
Os membros da ocupação pretendem continuar as reivindicações "por meio das vias institucionais", mas não descartam a possibilidade de iniciar uma nova ocupação caso a reitoria não corresponda às expectativas do grupo.
O que está sendo reivindicado
Dentre as várias pautas levantadas pelo Okupa na Real UFMG, estão o bandejão gratuito para os estudantes dos cursos de extensão, abertura de todas as bibliotecas ao público aos fins de semana e a assistência às alunas e funcionárias que são mães, com a criação de creches dentro do Campus.
Nesta quarta-feira (25), o Conselho Univertário da UFMG se reunirá para avaliar, dentre outras questões, os impactos da ocupação na reitoria. O movimento Okupa na Real UFMG deve divulgar, amanhã (24), uma nota sobre a desocupação. Apesar de não terem acesso à reunião, os manifestantes pretendem enviar uma carta para ser lida na ocasião.
Agressões e quebra-quebra
Estudantes afirmam ter sido agredidos por seguranças da universidade, no último sábado (21), quando tentavam colocar uma faixa na portaria da Av. Abraão Caram, próxima ao Mineirão. Após o incidente, de acordo com a universidade, o grupo teria retornado à reitoria e quebrado móveis, câmeras de segurança e vidros. Uma denúncia contra as agressões foi apresentada ao Ministério Público. A pró-reitoria da instituição nega o abuso dos seguranças. Veja abaixo a carta divulgada pelos integrantes da ocupação: II Carta Aberta OKUPA NA REAL Segunda-feira, dia 23 de junho, completou 11 dias de resistência do Okupa na Real UFMG. Essa ocupação teve uma caráter de reivindicação por estudantes autônomos que durante a graduação não tiveram suas demandas por melhores condições de permanência ouvidas e atendidas, por isso decidimos ocupar a reitoria da UFMG. Desde o primeiro momento, nos primeiros dias de ocupação, tivemos direitos violados. No sábado, dia 14 de junho, uma grave violação ocorreu: os únicos mantimentos dos estudantes foram roubados pela guarda universitária, proibindo-se a entrada de comida. No dia seguinte, domingo, dia 15 de junho, outra grave violação: dois estudantes foram presos no interior da reitoria, o saguão foi trancado e foi proibida a entrada ou saída dos estudantes no interior do local. Ou seja, direitos humanos violados. Para a garantia do direito a manifestação foi chamada a Comissão de Direitos Humano da OAB; a Frente Única de Advogados e a imprensa. Estes foram os primeiros atos de violências promovidos contra os estudantes. Contudo, o ápice da repressão e agressão ocorreu no sábado, dia 21 de junho, às 15:00h, quando cinco estudantes caminhavam para fixar dois cartazes na entrada da Abrahão Caran em sinal de protesto a Copa do Mundo. Um dos cartazes escrito em espanhol dizia: “9 obreiros muertos en los estadios”. “Quando avancei em direção à portaria da Abrahão Caran um guarda universitário concursado puxou a blusa que estava na minha mão e me deu um soco no nariz. Cai sem consciência no chão e ele começou a correr para esconder o rosto.” L.D. estudante de ciências sociais.” Os estudantes correram para socorrer a estudante agredida e logo começaram a filmar e fotografar o agressor. Outros guardas (tinham mais de 20 no local) tentaram impedir a filmagem, perseguiram o estudante que estava fazendo a gravação, e tentaram interceptar e agredir o mesmo. O estudante foi perseguido até a reitoria, ali, dentro do banheiro, ele foi trancado com dois guardas terceirizados, agredido com um soco no peito e no chão, já caído, levou um chute. Outro participante da ocupação foi agredido com socos e chutes pelo mesmo segurança quando foi ao banheiro na intenção de socorrer o estudante trancado e impedir um possível espancamento. As câmeras de vigilância da reitoria podem comprovar as agressões no saguão. Diante da violência por parte da reitoria e da guarda exigimos justiça, um posicionamento verdadeiro e justo da UFMG; e punição aos agressores, para que nunca mais membros da comunidade acadêmica sejam agredidos dentro da Universidade Federal de Minas Gerais. Apanhamos calados, nenhum dedo foi encostado nos guardas, nenhuma defesa nos foi dada. Os vidros quebrados foram nossos gritos de socorro e indignação. Escrevemos nas paredes da reitoria nossa tristeza e raiva diante do soco de um guarda da universidade praticado contra uma aluna. Dá muita raiva na gente pensar que os membros de uma ocupação possam ser apresentados em notas oficiais quase como rebeldes sem causa. Taxações como depredador ou contraventor do “espírito democrático da Universidade” levam mesmo ao lugar do diálogo? É revoltante para qualquer pessoa ficar refém do monopólio do discurso e da deliberação política de quem o constrói. E é hipócrita, patético e nojento para uma estudante de história ler uma nota como aquela lançada pela Reitoria acerca da “depredação” de um saguão. O que motivou essa ação? Se eu já uso do capital político para difundir a informação que deturpa fatos e pautas antes de averiguá-los, como vou “apreciar” reivindicações e esforçar para garantir a democracia? Com toda postura e respostas institucionais que a ocupação obteve fica difícil identificar qual a política efetiva desta administração central. Quem não se prontifica a conhecer o outro não vai entender as motivações da luta, muito menos pelo que se luta. Durante a ocupação, tivemos momentos de ricos debates com pais, funcionários terceirizados, apoiadores da ocupação e professores. Com pessoas que (independente de portar uma matrícula ou contracheque desvalorizado), pertencem e tem o direito de usufruir do espaço universitário. O receio que aqui é alimentado é o de que tudo se torne mais um fluxo de reivindicações que se evapora por não estar em uma legitimada tubulação abstrata. A ação de canalizar a luta das minorias para espaços institucionais onde até hoje não fomos contemplados é impositiva e burocrática e, de fato, fere “os marcos legais” do livre direito à manifestação. É incompreensível não existir qualquer abertura para concretizar a primeira reivindicação da ocupação: a reunião com o reitor. Imagina só a contradição: há a possibilidade de reunir um conselho extraordinário para averiguar o vidro quebrado, mas é inviável construir uma possibilidade de audiência pública ou reunião com os membros do reitorado para atender as demandas de manifestantes. Aliás, o conselho é extraordinário para o patrimônio porque até hoje o empreendimento de garantir o fim das violações na ocupação ficou sob o encargo da Comissão de Direitos Humanos da OAB, da Frente Única de Advogados, da imprensa e de alguns professores. Se as derivações da palavra legitimidade são as que mais aparecem nas notas para criminalizar o Okupa na Real e o quantitativo é o que importa para mobilizar mudanças, entendam que um estudante já chamado de “carente” “nível 1, 2, 3 ou 4”, com sua bolsa congelada de R$400,00 representa milhares de sujeitos com matrícula (in)ativa nesse campus. Diante do exposto salientamos mais uma vez as reivindicações mais que urgentes do grupo Okupa na Real: 1 – Apuração das agressões realizadas pela guarda universitária e punição aos agressores. 2 – Audiência Pública, com a presença do Reitor, com a comunidade acadêmica para discutir as nossas reivindicações. 3– Aumento imediato do valor das bolsas acadêmicas para um salário mínimo. 4 – Bibliotecas abertas nos finais de semana, inclusive para comunidade externa. 5 – Livre direito de artistas exporem seus trabalhos no interior do campus. 6 – Bandejão gratuito para os estudantes, inclusive para alunos de cursos de extensão. 7 – Garantia de que o Convênio com a Polícia Militar não seja renovado. 8 – Plebiscito com caráter consultivo com toda a comunidade acadêmica a respeito da Paridade entre professores, estudantes e funcionários administrativos. 9 – Direito à creche a todas as estudantes mães. O recurso do PNAES garante como prioridade direito à creche. 10 – Direito de permanecer na Moradia Universitária toda estudante que engravidar e se tornar mãe. Readmissão das estudantes expulsas. Belo Horizonte, 25 de Junho de 2014. Atualizado no dia 25 de junho às 11h32