Desleixado, Centro de BH está longe de ser cartão de visitas

Renata Galdino - Hoje em Dia
04/11/2013 às 07:27.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:53
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

Belo Horizonte precisa rever alguns conceitos para fazer do Centro um cartão de visita aos turistas esperados para a Copa do Mundo de 2014. Longe da “sede” dos jogos, na Pampulha, a região, por onde circulam cerca de 1,6 milhão de pessoas diariamente, revela aspectos nada elogiáveis, capazes de ruborizar qualquer anfitrião.

O coração do comércio da cidade oferece diversas atrações culturais, mas calçadas esburacadas, pichações, lixeiras destruídas, inclusive em locais considerados cartões-postais, apontam paro o descaso e a imediata necessidade de intervenções. Soma-se a isso o abandono de imóveis que, em algumas áreas do hipercentro, representam insegurança para quem passa diante deles, principalmente à noite.

Muitas pessoas que transitam pelo marco zero de Belo Horizonte, a Praça 7, não sabem que a revitalização do espaço aconteceu há apenas oito anos, quando o local ganhou nova decoração, pisos e iluminação. Agora, o que se vê é um lugar totalmente degradado, sujo, malcheiroso e dominado por ambulantes, um enorme contraste com o recém-reformado e inaugurado Cine Theatro Brasil, localizado em um dos extremos da praça.

Vandalismo

Há pelo menos dois meses, cinco dos nove painéis “A trama do Centro / O centro da trama”, instalados no quarteirão da rua Rio de Janeiro, entre avenida Afonso Pena e rua Tupinambás, tiveram os vidros quebrados. Os que ainda resistem, trincados, estão prestes a ruir.

Caso a Fundação Municipal de Cultura (FMC) consiga um parceiro, a revitalização da estrutura poderá ser entregue à população no aniversário de Belo Horizonte, em dezembro.

O projeto está sendo discutido há vários meses e, segundo a assessoria de imprensa da fundação, a ideia é retirar a ferrugem das estacas, colocar vidros e atualizar com novos painéis. O prazo da reforma ainda é incerto.

O comerciante José Bicalho, de 59 anos, lamenta a depredação. “Passo aqui todos os dias e reparei o estrago. Uma pena”. “Parece ser falta de vigilância. Não vemos policiamento à noite”, afirma o lapidário Mauro Sérgio Cordeiro, de 41 anos.

O problema não é falta de policiais nas imediações. É o que garante o major Gedir Rocha, comandante da 6ª Companhia do 1º Batalhão da Polícia Militar. “As bases no canteiro central e em um dos quarteirões da Praça 7 monitoram o lugar 24 horas”.

Sem divulgar o número de policiais lotados na unidade, Rocha afirma que o efetivo no Centro foi reforçado nas últimas duas semanas, inclusive com homens da cavalaria. O número deve aumentar a partir da segunda quinzena, quando deverá começar a operação natalina no hipercentro.

“Mas não é só a segurança. O Centro está repleto de moradores de rua e ambulantes. Tudo isso degrada o cenário. Tínhamos tudo para ter um hipercentro muito bonito”, diz Pedro Bacha, diretor de relações públicas da entidade que representa os comerciantes da região.

Exceção

Mas nem tudo está perdido. A passagem por algumas atrações clássicas do hipercentro, como o Mercado Central e o Parque Municipal, podem salvar o turista de uma total frustração. “O parque está bem cuidado. É um lugar bonito para ir”, diz a manicure Solange Eustáquia de Souza, de 28 anos.

Guaicurus incluída em projeto de revitalização

Famosa pelos bordéis, a rua Guaicurus já recebeu várias promessas de restauração, principalmente do conjunto arquitetônico. No entanto, nenhuma vingou. Espera-se que com o programa Nova BH, em estudo pela Prefeitura de Belo Horizonte, a via seja de fato revitalizada.

Em uma das propostas, anunciada há quatro anos pela Secretaria Municipal de Regulação Urbana, galpões que abrigam sex shops e bares seriam demolidos, desde que não fossem tombados. No lugar deles, hotéis de luxo e um centro de convenções seriam erguidos. A Prefeitura de Belo Horizonte foi acionada para falar sobre os projetos de restauração, mas não respondeu até o fechamento desta edição.

Museu

Um dos raros imóveis cuidados na Guaicurus está na esquina com a rua da Bahia. Pintado e sem pichação, o prédio abriga o Centro de Memória da Escola de Engenharia da UFMG, gerido pela associação dos ex-alunos do curso. O espaço foi o único dos dez da antiga escola que não foram cedidos para o Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

Presidente da associação de ex-alunos, Tárcio Primo Belém espera ansiosa pela revitalização dos imóveis incorporados pelo TRT. “Isso vai melhorar o aspecto visual. Sei que os engenheiros estão fazendo projetos para interligar um prédio ao outro”. Por causa do feriado do servidor federal, na última sexta-feira, não foi encontrada nenhuma fonte para especificar quando os prédios serão reabertos.

Desdém

Para o arquiteto e consultor do Instituto Horizontes, Jorge Vilela, o hipercentro de Belo Horizonte tinha tudo para ser mais valorizado. Isso aconteceria, segundo ele, se a região fosse o destino das pessoas. “A maioria que transita por lá tem a região como rota de passagem. Descem no hipercentro para pegar outro ônibus. Esses não reconhecem o espaço como seu e potencializam a degradação”, diz.

Professor do Departamento de Projetos da Escola de Engenharia da UFMG, Mateus Moreira Pontes se diz otimista em relação a melhorias no hipercentro, mas reconhece que a manutenção dos equipamentos e espaços públicos deve ser constante. “O hipercentro é a imagem da cidade, precisa de um olhar mais cuidadoso. A Praça 7, por exemplo, foi revitalizada mas os equipamentos se deterioraram com o tempo”.

Pontes defende a revitalização do Centro para estimular novas moradias na região, como na avenida Santos Dumont e rua Guaicurus.

Residenciais

O projeto Centro Vivo, elaborado pela prefeitura em 2007, identificou 14 espaços que poderiam ser transformados em habitações. Mateus diz que, até agora, foram revitalizados quatro desses imóveis. “É um trabalho demorado, que pode levar até dois anos”. 

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