Diagnóstico vai nortear medidas para reduzir crimes contra a juventude em BH

Malú Damázio e Bruno Inácio
horizontes@hojeemdia.com.br
22/11/2018 às 20:49.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:57

Jovens do sexo masculino, de 15 a 29 anos, que moram na periferia e têm baixa escolaridade são as principais vítimas de homicídios na capital. Estudo inédito feito pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) revela que eles correspondem a 62% das mortes ocorridas em 2017.

No ano passado, foram 523 assassinatos. Em 81% dos óbitos houve uso de arma de fogo. As regiões com maiores índices de violência também foram mapeadas na metrópole. No topo da lista está Venda Nova. Outras áreas com números elevados são a Leste, Norte e Oeste. 

A partir deste diagnóstico, a PBH pretende elaborar medidas para a redução desses crimes capazes de desestruturar famílias inteiras, como conta a técnica em química Lorrayne Gabrielle Molina Fonseca, de 25 anos. O irmão dela, Renato, foi assassinado em 2013, aos 23 anos, por causa de uma desavença com traficantes. 

“Ele sempre foi muito esperto, imagino que se envolveu com o tráfico porque convivia com pessoas erradas. A gente teve que mudar de cidade. Meus pais também mudaram de emprego, porque não aceitavam a situação”, diz a jovem.

Até hoje, eles veem o crime impune e dizem estar de mãos atadas. “A gente preferiu não denunciar, pois o psicológico dos meus pais se abalou. Minha mãe tem só 48 anos e é afastada do INSS, usa fortíssimos remédios controlados. Meu pai trabalha como autônomo, sendo que tinha carreira. O crime mudou nossas vidas”.

O pesquisador Frederico Marinho, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da UFMG, reforça que essa é uma realidade histórica. “Jovens, negros, do sexo masculino, são os mais vulneráveis no Brasil. E essas mortes acontecem exatamente nas periferias, onde a segurança pública é mais falha e onde há menos oportunidades de emprego, educação, socialização”, afirma.

Ações

Dentre as ações a serem planejadas, a partir deste diagnóstico, está a ampliação de estudantes na Educação de Jovens e Adultos (EJA), o monitoramento diário da frequência escolar, o acompanhamento da saúde e das relações familiares de vítimas de agressão, além do investimento em programas de esporte e cultura. O plano de enfrentamento aos homicídios vai reunir várias secretarias e começa em 2019.

O programa de prevenção será implementado nas áreas de maior vulnerabilidade identificadas pelo estudo. A diretora de Prevenção Social ao Crime e à Violência da Secretaria Municipal de Segurança Pública da PBH, Márcia Alves, lembra que o homicídio é “apenas a consequência final” de um contexto de desvantagens sociais. “O problema é muito maior. Por isso, vamos agir de forma integrada com cultura, educação, saúde, esportes”, destaca.

Enfrentamento

O investimento no EJA é uma das principais frentes de enfrentamento, conforme a secretária de Educação Ângela Dalben. Ela lembra que nesse tipo de ensino estão inseridas pessoas que não tiveram percurso escolar regular. A pasta passará a oferecer turmas fora das escolas, como no Centro de Referência da Juventude e em igrejas.

A articulação com Ministério Público, Defensoria Pública e Conselho Tutelar também é uma das frentes para entender as demandas de adolescentes e jovens que têm baixa frequência escolar.

Expandir a rede de cuidados e proteção para adolescentes vítimas de agressão em BH é um dos passos previstos para o próximo ano. Atualmente, os jovens submetidos a situações de violência e atendidos no Hospital João XXIII são acompanhados por equipes de saúde da família. Neste ano, 50 pessoas foram assistidas.

O objetivo, segundo o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, é ampliar o serviço para os hospitais Risoleta Neves e Odilon Behrens. Os jovens beneficiados pelo programa são analisados individualmente. Em casos extremos, o projeto prevê, inclusive, a mudança de endereço dessas pessoas.

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