Dops: espaço de tortura e símbolo da resistência vira patrimônio em BH

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
16/10/2013 às 06:48.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:22

Que lembrança você guarda do Dops? A pergunta é simples, mas a resposta, reticente. Para Nilcéa Moraleida Bernardes, de 61 anos, ex-presa política da ditadura militar, o extinto Departamento de Ordem Política e Social rememora os gritos da tortura e da repressão.   A importância histórica desse imóvel, que guarda o sofrimento de presos políticos e a angústia das famílias, será resguardada a partir desta quarta-feira (16), com o tombamento como patrimônio municipal.   A partir das 14 horas, o imóvel, que fica na avenida Afonso Pena, região Centro-Sul de Belo Horizonte, atual sede do Departamento de Investigação Antidrogas da Polícia Civil, será tombado pelo Conselho de Patrimônio da capital.    A Fundação Municipal de Cultura não adiantou detalhes sobre o dossiê e o que motivou o processo. Há um mês, o Ministério Público Federal, em conjunto com a Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça de Minas, pediu à Secretaria de Estado da Cultura e ao Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de BH a proteção em instância municipal do imóvel.   “Um lugar como esse deve ser tombado e transformado em espaço de memória. É fundamental para que as pessoas o recebam como legado histórico e para que isso não volte a se repetir”, avalia Nilcéa, presa e torturada por mais de 60 dias, entre 1971 e 1974.    Memorial   No local, o governo do Estado prevê a instalação do Memorial dos Direitos Humanos de Minas Gerais, que ainda não tem data para ser inaugurado, conforme a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedese).   Para a professora do Departamento de História da UFMG, Heloísa Starling, a conclusão do processo, bem como a futura destinação do imóvel, traduzem a importância simbólica para a história.   O arquiteto e urbanista Flávio Carsalade acredita na proteção do prédio, enquanto bem tombado, como representação da história política do país. “É a personificação de um momento específico e representativo da repressão do direito. Além disso, trata-se de um edifício com características modernistas, o que também justifica seu tombamento”, afirma.   Resgate da história em Minas   Belo Horizonte também vai abrigar o Memorial Nacional da Anistia, espaço de preservação e resgate da memória do regime militar brasileiro.   A inauguração do local, orçado em R$ 24 milhões, está prevista para o primeiro semestre de 2014.  O memorial vai funcionar no prédio da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG, marco da resistência à ditadura, no bairro Santo Antônio, zona Sul da capital.   A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) seção Minas Gerais também estuda elaborar um projeto para criar um museu que contará a história da atuação dos advogados dos presos políticos durante a ditadura. A ideia é que o museu fique no prédio do antigo Dops.

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