(Eugênio Moraes/Hoje em Dia)
Clima de medo e revolta reina entre moradores de uma vila do bairro Calafate, na região Oeste de Belo Horizonte, após o incêndio de três ônibus - um Move, na noite desse sábado (22), e dois na manhã deste domingo (23), todos estavam na avenida Tereza Cristina. No local, no sábado, o motorista Alexsandro de Souza, 23 anos, conhecido como Leco, foi morto, e um adolescente de 14 anos, que teria deficiência mental e o pai dele, ficaram feridos durante um confronto com a Polícia Militar (PM). Moradores que pediram para não serem identificados disseram que "Leco", como o motorista era conhecido e "querido por todos". Ele tinha uma filha pequena e era filho do presidente da Associação dos Moradores da Vila Calafate, Elton Moura, que estava em estado de choque em casa e não pode conversar com a imprensa. Moradores alegaram que o adolescente atingido por uma bala de borracha teria sido dado por Leco por ter deficiência mental. "O menino toma remédio controlado. Todo mundo sabe disso. Eles (os policiais) chegam e batem em todo mundo. Tem muito trabalhador aqui também. Não é justo. O Leco viu quando eles batiam no menino. Ele gritava: 'É covardia! É covardia!'. Então deram tiro nele", contou um morador, que não quis se identificar. Há algumas semanas, o pai de Leco tinha comprado um caminhão com o qual estava trabalhando juntamente com o filho. O caminhão estava estacionado em frente da casa do líder comunitário, na avenida Tereza Cristina, onde os ônibus foram incendiados por moradores da região. "Nós não temos nada a ver com isso. Tentamos falar com o pessoal para não fazer isso, mas não temos como controlar. Eles estão revoltados, a notícia está correndo por aí", disse uma mulher da família do motorista. Um dos ônibus ficou totalmente destruído. O outro, da linha 6587, que fazia o trajeto para o bairro Ipê Amarelo e seguia no sentido Centro, teve as chamas debeladas pela própria PM. O trocador Marcos Neves estava em um dos ônibus atingidos e presenciou tudo. O coletivo da empresa Saritur fazia a linha 6587. "Um monte de gente cercou o ônibus, tacaram pedra e umas estopas molhadas. A gente pediu para que não fizessem isso, tinha muita criança. Eles não estavam nem aí. Tinha umas dez pessoas na viagem. Graças a Deus, ninguém se feriu", contou. Entenda o caso A PM informou que fazia um patrulhamento na região por volta das 21h40 de sábado, quando um militar teria abordado um adolescente de 14 anos na rua Bimbarra. Com ele, teriam sido encontrados oito pinos de cocaína. O policial acionou o restante da equipe para fazer a apreensão. Porém, antes da chegada dos demais policiais, quatro indivíduos tentaram impedir a ação do militar, sendo um deles o pai do adolescente. Segundo a PM, o pai do garoto tentou, sem sucesso, retirá-lo do militar. Os outros três homens teriam agredido o policial até que ele caiu ao chão. No momento em que o restante da corporação se deslocava para dar apoio ao militar, cinco homens foram vistos correndo na rua Bimbarra. A PM deu ordem de parada a eles. Teria sido nesse momento que cerca de 50 populares começaram a hostilizar a ação da PM. De acordo com a PM, durante o confronto entre militares e moradores, Alexsandro de Souza, que estava entre eles, tentou pegar a arma de um militar e foi atingido por um tiro na cabeça. Conforme o boletim de ocorrências, o tiro teria sido disparado "acidentalmente". Uma das moradoras, amiga de Leco desde a infância, disse que após o crime, viu que os policiais teriam recolhido as cápsulas das balas no chão. Para dispersar os populares, a PM afirmou ter dado quatro tiros de bala de borracha e explodido uma granada. O tenente do 22º Batalhão da PM, Jacson Paulo, presente na ocorrência na tarde deste domingo disse "não ter ideia" da motivação dos ataques. "Pode ser, como pode não ser por causa da morte do rapaz. Ainda não sabemos. Há o prejuízo material. Ontem incendiaram um Move". Alexsandro chegou a ser levado para a Unidade Atendimento Oeste (UPA), onde foi constatado o óbito. Dois militares também ficaram feridos e foram levados para o Hospital da Polícia Militar. O pai do adolescente envolvido na ocorrência também foi levado para a UPA Oeste. Policiais do 22º Batalhão disseram que vão manter ronda na região para tentar interceptar outros ataques. A perícia da Polícia Civil foi acionada no sábado e esteve no local. *Com informações da repórter Thais Oliveira