Economia em alta não significa vaga de emprego na terra do tio Sam

Ana Lúcia Gonçalves - Hoje em Dia
23/09/2015 às 07:36.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:49

(Leonardo Morais)

A recuperação da economia norte-americana, no entanto, não significa que há oferta de emprego para quem decide tentar uma vida melhor nos Estados Unidos. Além disso, para a pesquisadora Sueli Siqueira, o aumento na emissão de passaportes ou na venda de passagens não significa crescimento da emigração.

“Ainda é cedo para afirmar o começo de um novo ciclo migratório, mas não dá para descartá-lo. Temos que avaliar com cuidado”, afirma.

A estudiosa observa que a maioria dos que emigram agora já esteve no exterior e conquistou facilidades para ir e vir quando quiser. Deixaram parentes, filhos e amigos que formam uma rede social que recebe e facilita a  vida dos novatos.

O emigrante não quer voltar para os EUA apenas porque o dólar subiu. Existem muitas variáveis, como também o indicativo de que o novo boom emigratório vai acontecer caso a economia brasileira não reaja e o dólar continue subindo”, explica Sueli, que está coordenando novas pesquisas sobre o assunto.

Motivo

Se antes a motivação do emigrante era a sobrevivência, ganhando para comprar casa e carro, hoje, de acordo com a pesquisadora, é a facilidade para conseguir o visto e a necessidade de manter o padrão de vida e o consumo.

Foi o que aconteceu com o ex-modelo valadarense Diogo da Silva Medeiros, de 27 anos, que emigrou pela primeira vez em 2008. Nesse período ele conseguiu o Green Card, abriu uma empresa de limpeza nos EUA e comprou três imóveis.

Dois dos cinco irmãos do jovem estão no exterior. “Venho ao Brasil quando quero e isso facilita, diminui a saudade”.

Há quem tente emigrar ilegalmente montando documentos ou fazendo a arriscada travessia pelo México

Crise leva trabalhador de país periférico para um desenvolvido

A socióloga e pesquisadora Zenólia de Almeida também está atenta a esse novo momento. Segundo ela, com a globalização, a internacionalização do capital criou espaço para a mobilidade do trabalho, estimulando os deslocamentos populacionais. Sucessivas crises econômicas marcadas por crescente desemprego levaram trabalhadores dos países periféricos para os desenvolvidos.

E esse fato justifica, em parte, a emigração de valadarenses, gerando importante fonte de recursos financeiros para a economia local e regional. “Um importante fator certamente está colaborando ainda mais para o retorno dos emigrantes brasileiros: trata-se da remuneração do trabalho. Com o dólar valorizado, o valor do trabalho nos EUA torna-se um grande atrativo”.

Zenólia acredita que, com o dólar valorizado e as redes sociais formadas por amigos e parentes já consolidadas, a tendência é a de maior intensidade do fluxo emigratório. “A crise que se aprofunda no Brasil é um fator gerador e alimentador desse novo ciclo”.

Entrada ilegal

A socióloga lembra que a migração ilegal nunca acabou. O que aconteceu é que, com o endurecimento das leis anti-imigratórias nos EUA, maior vigilância nas fronteiras e a exigência do visto de entrada para o México, novas rotas foram criadas.

Dentre as alternativas, emigrantes viajam para países da comunidade europeia – que não exigem visto de entrada – e, de lá, vão para os Estados Unidos. Outros permanecem em países com maior tolerância em relação à diversidade étnica, ou lugares com uma “rede social” já consolidada, favorecendo o emprego e a permanência de quem chega.

Nos últimos quatro anos, Valadares recebeu quase 100 mil remessas de dinheiro vindas de países estrangeiros
 

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