(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)
Erguido em desarmonia ao traço modernista de Oscar Niemeyer, um anexo do Iate Tênis Clube, construído quatro décadas após a inauguração do projeto original, é o calcanhar de Aquiles do conjunto arquitetônico da Pampulha. A descaracterização do edifício, principal obstáculo para que o complexo receba o título de patrimônio mundial da humanidade, poderá ser revertida. Negociação para retomar as formas criadas pelo arquiteto está em andamento. A novidade integra o dossiê da candidatura da Pampulha à chancela internacional. O documento será entregue nesta sexta-feira (12), dia do aniversário de 117 anos de Belo Horizonte, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em seguida, as mais de 500 páginas serão remetidas à análise da Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco). Um termo de compromisso, assinado entre a prefeitura de Belo Horizonte, Iphan e a direção do Iate, prevê a elaboração de um projeto de readequação urbanística do anexo e restauração completa do espaço. A obra está estimada em R$ 7,5 milhões, e a maior parte dos recursos seria bancada pelo município e pela União. Uma contrapartida, como a abertura à visitação pública, estaria prevista no acordo. “Muito se fala sobre a despoluição da Lagoa da Pampulha como empecilho à busca pelo título de patrimônio mundial. Claro que essa revitalização é importante, mas o principal desafio é o resgate do Iate. A edificação foi muito descaracterizada ao longo dos últimos anos”, afirma o presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas Oliveira. Projetado em 1940 como espaço de lazer e esportes, o local recebeu o nome de Iate Golfe Clube. O imóvel foi pensado por Niemeyer como uma grande embarcação às margens da lagoa. No dossiê, a prefeitura se compromete a retirar o trânsito de frente da igrejinha e unir a área com a da praça (Foto: Wesley Rodrigues/Hoje em Dia) Intervenções em todo o complexo arquitetônico O Iate Tênis Clube foi privatizado em 1961 e passou por uma série de reformas nas décadas seguintes, tanto no edifício-sede quanto nas áreas externas. O prédio principal manteve a leitura externa original, mas sofreu modificações no interior. Por volta de 1980, foi construído o anexo, que abriga um salão de festas e ofusca a vista da lagoa. Responsável por elaborar, há três anos, um plano diretor para o local, o professor Flávio Carsalade, da Escola de Arquitetura da UFMG, destaca algumas das intervenções necessárias: a demolição dos elementos descaracterizados e a restauração do edifício projetado por Niemeyer e dos jardins de Burle-Marx. “Não é uma obra muito complicada. Acredito que levaria cerca de um ano para ficar pronta”, diz. A diretoria do Iate evita adiantar detalhes do termo de compromisso assinado e aguarda as medidas e condições de restauro a serem apresentadas pelos órgãos envolvidos. Em nota, garante que “vai contribuir para o desenvolvimento de ações propostas, de acordo com a sua realidade”. O clube acrescentou que a revitalização do espelho d’água contribuirá para o retorno dos esportes náuticos na região. Além da restauração do Iate e da recuperação da água da lagoa, estão previstas no dossiê obras no antigo Cassino (atual Museu de Arte da Pampulha) e na Igreja São Francisco de Assis. No templo religioso, as juntas de dilatação da estrutura, em forma de abóbada, serão impermeabilizadas com um produto especial para evitar novas infiltrações. Parte do mobilário original, que está guardado a sete chaves em outra igreja, retornará à capela. Na igrejinha, será criada uma esplanada, integrando o espaço à praça Dino Barbieri. O tráfego de veículos nesse trecho da avenida Otacílio Negrão de Lima, sentido oposto ao Mineirão, será proibido. A obra custará R$ 5,5 milhões. Reconhecimento Atualmente, a histórica Ouro Preto e o santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na região Central, e o centro de Diamantina, no Campo das Vertentes, integram a lista mineira de patrimônios culturais da humanidade. No Brasil, estão cidades como Rio de Janeiro, Brasília e Olinda. No mundo, são 190 países. O título é concedido a monumentos, edifícios, trechos urbanos e até ambientes naturais que tenham valor histórico, estético, arqueológico e científico. O objetivo não é apenas catalogar esses bens, mas ajudar na sua identificação, proteção e preservação. Em setembro de 2015, está prevista uma visita de técnicos da Unesco ao complexo moderno de BH. O julgamento deve durar um ano e meio.