(Lucas Prates/Hoje em Dia)
Com pouco mais de 600 habitantes, Bento Rodrigues era reconhecido pela maior parte dos seus moradores como um vilarejo familiar. Assim como todas as pequenas cidades de Minas havia em Bento a igreja perto da praça que ficava perto do bar. Um cenário que não existe mais.
"Conhecíamos todo mundo, cada canto, cada lugar. É incrível como uma cidade que por tanto tempo foi a nossa casa simplesmente desapareceu no meio da lama", lamenta Altieri Caetano que, ao lado do irmão, Roni Caetano, tentou reconhecer o que sobrou do pequeno distrito, hoje escondido sob escombros e a lama.
"A gente era uma cidadezinha danada de bonita. Com direito a praça, igreja, escola. Namoro na rua, amigos no bar. Éramos uma família. Hoje somos luto porque o que tínhamos aqui dinheiro do mundo nenhum vai nos dar de volta", completa.
A procura da filha
Quando chegou ao centro de apoio montado para receber as vítimas do soterramento, em Santa Rita, também distrito de Mariana, a estudante Pamella Raiane, 21 anos, estava em estado de choque.
"Eu só ouvi o barulho e corri junto com todo mundo para o lugar mais alto que podíamos. Eu pensei nos meus filhos, na minha mãe, meu marido. Tudo se perdeu", lamenta, atônita, a jovem que conseguiu ter notícia do filho (encaminhado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII), do marido (levado para o hospital de Santa Bárbara) e da mãe (atendida no abrigo de Mariana).
"Mas a minha Emanuele, de 5 anos, eu não sei onde está. Ninguém a viu. Meu marido não conseguiu puxá-la. Não teve forças para segurar os dois. Meu Deus, as pessoas tentaram ajudar, mas ninguém conseguiu nadar naquela lama toda. Ela desapareceu".
O pedreiro Marcos Eufrásio Messias, de 38 anos, estava trabalhando no momento que ouviu o estrondo. "Era um barulho que eu nunca tinha escutado antes. Por isso mesmo pensei: 'é a barragem'. Quando corri pra rua, tinha um monte de gente correndo também. Fui junto com eles. A gente olhava pra trás e a lama vinha com toda força. Eu não sei de onde tiramos tanta força. Idosos, crianças. Todo mundo correu para sobreviver. A gente saiu carregando um ao outro. Foi um milagre".
Dono de um açougue no distrito, Agnaldo Pereira, 42 anos, conseguiu tirar toda a família do local. "Mas meus animais estavam lá. Gado, cachorro, gato. Tudo ficou para trás. Uma parte da minha vida morreu ali. Só peço a Deus que eles já estejam mortos mesmo. Ninguém merece sofrer tanto castigo".