MARIANA – Setenta e duas horas após o que pode se configurar como o pior acidente com barragens da história do Brasil, o governador de Minas, Fernando Pimentel, afirmou que os 13 trabalhadores que estavam sobre as estruturas de Fundão e Santarém, da Samarco, que se romperam na quinta-feira, dificilmente serão encontrados com vida.
"Lamentavelmente, temos que reconhecer isso. Não quero tirar a esperança de ninguém, mas o tempo vai passando e a esperança vai diminuindo”, afirmou durante coletiva na mineradora, ontem. Ainda segundo o governador, a obrigação de um aviso sonoro pode ser integrada à legislação. A população das comunidades atingidas e os empregados foram avisados por telefone, ação bastante criticada.
Os empregados da companhia, 12 terceirizados e um próprio, trabalhavam em uma obra para aumentar a barragem de Fundão quando ela estourou e atingiu a de Santarém. Cerca de 55 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério caíram sobre eles e cobriram comunidades vizinhas. Quinze moradores também estão desaparecidos. O material escoou pelos rios da região.
Até as 20h, autoridades confirmaram uma morte e aguardavam o laudo de legistas em relação a outros três corpos, o último deles localizado, no domingo à tarde, próximo a uma das barragens destruídas.
Cinquenta e oito bombeiros monitoram a região. Além das buscas a pé, eles utilizam sete helicópteros e 13 viaturas. Um cão farejador e centenas de voluntários, inclusive médicos e veterinários, ajudam nas operações.
Por volta das 17h, uma das equipes seguiu para o município vizinho de Barra Longa, também bastante afetado pela lama, após receber a notícia de que o corpo de uma criança estaria preso a galhos de uma árvore. Nada foi encontrado.
Drama
Mulher do operador de escavadeira Ednaldo Oliveira de Assis, um dos trabalhadores desaparecidos, Ana Paula Alexandre, de 40 anos, estava aflita por informações. “Para a Samarco, ele é apenas mais um. Para mim, ele é tudo”.
Embora as chances de encontrá-lo com vida sejam mínimas, ela prefere acreditar que o marido esteja abrigado em algum equipamento que tenha um bolsão de ar. “Alguém tem que ser forte”, diz.
A lama, espessa, fétida e carregada de produtos químicos, continua a devastar o rio Doce, em direção ao Espírito Santo. Segundo o coronel Helbert Figueiró, coordenador-geral da Defesa Civil, a previsão é a de que a onda chegue ao estado vizinho na terça-feira. “O barro está perdendo força, vem raleando”, diz.
Exames
A pedido do governo, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) elaborou um laudo para avaliar a qualidade da água do rio Doce. Ainda de acordo com Figueiró, o resultado atesta que o rio não está contaminado, mas o fornecimento precisou ser interrompido em algumas cidades.
Dinheiro não é problema
De acordo com Pimentel, ainda não é possível avaliar os motivos do acidente. Questionado sobre a possibilidade de ceder a parte que cabe ao Estado pela Compensação Financeira Pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), ou seja, os royalties do minério de Mariana, ele foi enfático: “não recebi nenhuma solicitação nesse sentido. Se a questão for de recurso, ele não vai faltar, como não tem faltado”, disse.
A proposta de que os recursos da Cfem cubram os prejuízos de Mariana foi do prefeito do município, Duarte Júnior. Ontem, pela primeira vez desde o dia da tragédia, ele não estava presente nas coletivas.
Júnior passou mal e foi encaminhado ao Hospital Monsenhor Horta para avaliação cardíaca. A assessoria de imprensa da prefeitura não confirmou se ele teve um princípio de infarto, como foi cogitado. O quadro seria de stress.