Estudantes mineiros saem da escola sabendo menos do que deveriam

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
22/02/2015 às 08:16.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:06

Quase 90% dos estudantes mineiros teoricamente aptos a concorrer a uma vaga na universidade não têm conhecimento adequado de matemática para deixar a escola. Quando o assunto é a língua portuguesa, o problema se repete. Praticamente 70% dos alunos matriculados no 3º ano do ensino médio, em Minas, não dominam a leitura nem compreendem e interpretam textos de maneira satisfatória.    Os resultados correspondem à pesquisa da meta 3 realizada pelo movimento Todos Pela Educação e que estabelece: todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano de matrícula. O estudo, o mais recente feito pela ONG e realizado em 2013, considera os resultados obtidos na Prova Brasil e no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).   Os testes, ambos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), avaliam a qualidade do ensino a partir de provas padrões e questionários socioeconômicos.  Os resultados apresentados pelos estudantes de Minas –matriculados em instituições privadas e públicas – são igualmente ruins quando considerados os anos iniciais e finais do ensino fundamental. Nessas etapas, o índice de adequação do aprendizado à série de matrícula foi de 25% para a matemática do 9º ano e de pouco menos de 55% para a mesma disciplina no 5º ano.    Se os índices alcançados estão longe das metas intermediárias estabelecidas para cada série e individualizadas por estado, mais distantes ainda estão da meta proposta pela ONG para 2022. O objetivo é que, até o ano do bicentenário da Independência do Brasil, pelo menos 70% dos alunos tenham aprendizado adequado ao ano de matrícula.    Essa tendência negativa, no entanto, vem sendo apresentada não só por Minas, mas por grande parte dos alunos brasileiros, desde 2011. O indicativo de falha, aponta o gerente de Conteúdo do Todos Pela Educação, Ricardo Falzetta, é um conteúdo curricular inadequado na base do ensino. “Precisamos levar em conta que o fundamental 2 (do 6º ao 9º ano) é a etapa mais problemática. É por esse ponto, portanto, que as mudanças devem começar. Temos um currículo do século 19 para uma sociedade do século 21”, avalia.   Resposta   Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou que trata o ensino médio como prioridade e que a atual gestão está fazendo uma avaliação educacional criteriosa para propor estratégias que permitam valorizar o ensino. A gerente de Política Pedagógica e de Formação da Secretaria de Educação de Belo Horizonte, Dagmá Brandão, admitiu que, apesar de um avanço no ensino municipal nos últimos anos, o gargalo para os estudantes continua sendo a matemática. “A capital tem melhores resultados em português do que em matemática, mas, para avançar igualmente, estamos investindo muito, desde a produção de material ao incentivo de projetos diferenciados pelos professores”, afirma.    Presidente do Sindicato das Escolas Particulares de MG (Sinep), Emiro Barbini diz que a instituição incentiva os diretores a motivar os docentes no sentido de dar mais oportunidades para uma aprendizagem adequada. “Sabemos que estamos num país onde a formação dos profissionais é muito deficiente. Nesse sentido, as escolas trabalham atualizando os professores para alcançar resultados mais satisfatórios entre os alunos”, diz.    Melhora da qualidade depende de mudança estrutural   Uma melhora na qualidade do ensino ofertado em Minas Gerais deve passar pela formação dos professores e por uma mudança estrutural, principalmente no que diz respeito à forma de educar, apontam especialistas. Doutora em antropologia e professora na PUC Minas, Sandra Pereira Tosta acredita que para reverter os índices insatisfatórios da aprendizagem de matemática no estado – disciplina com os piores resultados – é preciso desmistificá-la e modificar a formação dos professores.    “Há uma certa desconsi-deração de que as dificuldades da aprendizagem da matemática decorrem também do modo como se ensina a disciplina. Precisamos entender que, assim como o português, ela é uma linguagem e a mudança tem que começar pela formação dos docentes. É preciso adotar uma formação de excelência sintonizada com os desafios que a sociedade nos apresenta”, pontua.   PHD em educação, o psicólogo João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto (IAB), vai além. Para ele, os índices inadequados de aprendizado entre estudantes de todos os níveis de ensino escolar refletem um sistema com estrutura falha decorrente de decisões equivocadas.    “Todo mundo quer colocar todos na creche, na escola em tempo integral, é a filosofia da escolarização. De nada adianta, porém, tudo passar pela escola se não temos condições de oferecer um ensino de qualidade”, critica.    Segundo ele, é preciso modificar a base da educação e a forma de repassar conhecimento, bem como incentivar uma melhor formação por parte dos professores. “Se o salário é menor, atrai gente de menor nível de qualificação. O problema nem é tanto de qualificação, mas da mão de obra que chega. É preciso haver uma pressão muito forte para mudar. No modelo atual, o fator crítico é ter um professor de excelente qualidade”, afirma João Batista. 

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