Exame de vista poderia prever o Alzheimer, mostra pesquisa

Agence France Presse
Publicado em 23/08/2018 às 16:58.Atualizado em 10/11/2021 às 02:04.

Os avanços na tecnologia dos exames oftalmológicos algum dia podem ajudar os médicos a diagnosticar as pessoas com mal de Alzheimer muito antes de aparecerem os sintomas, anunciaram pesquisadores nesta quinta-feira (23). 

Usando equipamentos similares aos que já estão disponíveis na maioria dos consultórios oftalmológicos, os pesquisadores detectaram sinais de Alzheimer em uma pequena amostra de 30 pessoas, segundo um estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) Opthalmology. 

As pessoas que participaram do estudo, todos com mais de 70 anos sem sintomas visíveis do mal de Alzheimer, se submeteram ao escaneamento PET ou à análise do líquido espinhal.

Aproximadamente a metade registrou níveis elevados de amiloide ou tau, as proteínas do Alzheimer, o que sugere que, com o tempo, eventualmente poderiam desenvolver demência. 

Neste grupo, os pesquisadores também observaram um afinamento da retina, algo que os especialistas haviam notado anteriormente em necropsias de pessoas que morreram em decorrência do mal de Alzheimer. 

"Nos pacientes com níveis elevados de amiloide ou tau, detectamos um afinamento significativo no centro da retina", disse Rajendra Apte, um dos pesquisadores e professor de Oftalmologia e Ciências Visuais da Universidade de Washington, em St. Louis. 

"Todos temos uma pequena área desprovida de vasos sanguíneos no centro de nossas retinas que é responsável pela nossa visão mais precisa. Descobrimos que esta zona que carecia de vasos se ampliou significativamente em pessoas com mal de Alzheimer pré-clínico", indicou o especialista. 

Contudo, o estudo não revelou se os participantes com retinas mais finas desenvolveram Alzheimer ou não. 

Por essa razão, o diretor de política e pesquisa da Sociedade Americana de Alzheimer, Doug Brown, qualificou a área de pesquisa como "fascinante", mas foi cauteloso. 

"Sem confirmar que algumas das pessoas com Alzheimer pré-clínico desenvolveram realmente a doença, precisaríamos ver que isso foi levado à frente em um grupo muito maior durante um período mais longo para tirar conclusões firmes", disse Brown, que não participou do estudo. 

Sara Imarisio, chefe de pesquisa do Centro de Investigação de Alzheimer do Reino Unido, concordou. "Embora os testes oculares usados nesta pesquisa sejam relativamente rápidos, econômicos e não invasivos, pelo fato de só terem participado 30 pessoas do estudo, ainda precisamos ver mais pesquisas antes de poder dizer quão útil poderia ser este método para mostrar os sinais iniciais do mal de Alzheimer", assinalou.

Aumento da demência

Os especialistas dizem que o dano cerebral causado pelo mal de Alzheimer pode começar até duas décadas antes de aparecerem sinais de perda de memória. 

Cerca de 50 milhões de pessoas vivem com demência em todo o mundo, e espera-se que a cifra aumente nas próximas décadas à medida que a população envelheça. 

O Alzheimer é a forma mais comum de demência e não tem cura. Mas uma detecção precoce pode possibilitar intervenções de medicamentos ou hábitos que possam manter a doença sob controle. 

Atualmente, os médicos usam escâneres PET e punções lombares para ajudar a diagnosticar o Alzheimer, ambas as técnicas custosas e invasivas.

O tipo de tecnologia usada no estudo JAMA se chama angiografia por tomografia de coerência ótica (OCT-A). Usa-se comumente para iluminar o olho de maneira que o médico possa medir a grossura da retina e o nervo ótico.

Os pesquisadores dizem que a retina e o sistema nervoso central estão interconectados, pelo qual as mudanças no cérebro podem se refletir nas células da retina.

A principal autora do estudo, Bliss E. O'Bryhim, médica residente no Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais, declarou: "Esta técnica tem um grande potencial para se converter em uma ferramenta de detecção que ajude a decidir quem deve se submeter a testes mais custosos e invasivos para o mal de Alzheimer antes da aparição dos sintomas clínicos". 

Os autores do estudo admitem que é necessário mais trabalho para confirmar que a técnica funciona em populações maiores, mas têm a esperança de que algum dia possa ajudar a detectar sinais em pessoas com idades entre 40 e 50 anos.

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