A poucos dias do pico de contágio da Covid-19 em Minas, o isolamento social tem sido cada vez mais desrespeitado, principalmente em BH. Pessoas saem de casa para praticar esportes ou passear. Capaz de favorecer a contaminação, as atitudes reprovadas por médicos, porém, têm uma explicação.
Segundo a psicologia, o ser humano consegue absorver situações indesejadas, com forte estresse, apenas por um curto período. Depois, a mente começa a relaxar, mesmo diante dos riscos. Nesses casos específicos da pandemia, o fenômeno pode ser classificado como "fadiga da quarentena" ou "fadiga do isolamento".
"Nosso corpo, inicialmente, se prepara para receber um ataque, revidar, fugir ou se esconder. Só que ele está preparado para aguentar essa situação por pouco tempo. Como a quarentena foi se estendendo, o cérebro entra em um desgaste", explicou a psicóloga Sylvia Flores.
De acordo com a especialista, isso explica porque no início da pandemia, em março, a adesão ao isolamento era maior. "Depois de aproximadamente duas semanas, a pessoa não consegue mais reconhecer o perigo. Por mais que se fale que estamos no pico, que corremos o risco de um colapso, esse medo começa a decair", esclareceu.
Neste momento, mesmo quem defende e sabe da importância da quarentena se permite pequenas escapadas.
Veja a explicação do que é "fadiga da quarentena":
Quebra financeira
Na avaliação da psiquiatra Vera Prates, as opiniões divergentes dos governantes, que discordam sobre qual a melhor maneira de se barrar a transmissão, também prejudica o entendimento dos moradores. "Passam a não acreditar que a quarentena é importante e negam a gravidade da doença", pontuou.
Outra questão levantada pela psiquiatra é a dificuldade econômica. Ela observa que muitos moradores têm que sair de casa para ganhar dinheiro. "O auxílio emergencial é insuficiente", destaca.
Nesta semana, o Hoje em Dia publicou uma série de reportagens sobre os belo-horizontinos que têm se arriscado a sair de casa para praticar esportes ou passear. Flagrantes de desrespeitos foram vistos no Mangabeiras, Pampulha, Cidade Nova e praças da cidade.
Claudia saiu de casa para conhecer o sobrinho
Realidade
A estudante do curso de técnico em enfermagem Cláudia Lucas Alves da Silva, de 35 anos, ficou confinada no início da pandemia. No entanto, com o passar dos dias, deu pequenas escapadas. No fim de maio, saiu de casa para visitar o sobrinho recém-nascido. Trinta dias depois, participou de uma reunião, apenas com os mais próximos da família, para comemorar o aniversário de um mês do bebê.
"São momentos únicos que não voltam nunca mais. Deixei de lado todas as comemorações e tudo aquilo que pode ser adiado. Mas não tinha como não conhecer o meu sobrinho. Mas, sabendo dos riscos, mantemos o distanciamento e usamos máscaras", justificou.
Escapada segura
A recomendação, sempre, é permanecer em casa. Por isso, o infectologista Estevão Urbano frisa a necessidade de a pessoa se reinventar. Ele orienta que a população se movimente e distraia dentro da residência. Agachamento, alongamento e leitura de livros são opções. "Tem vários aplicativos e vídeos disponíveis para ajudar neste momento", destaca.
Mas, para quem não está suportando o confinamento 24 horas por dia, os especialistas listaram algumas dicas que, se seguidas à risca, diminuem o risco de contaminação pelo novo coronavírus. Professor da UFMG e integrante do Comitê de Combate à Covid-19 em BH, Unaí Tupinambás explica que a pessoa pode ir ao supermercado a pé, e priorizar um estabelecimento mais longe de casa. "Isso força ela a andar. Mas tem que ser em um horário de pouco movimento. E ela deve escolher vias sem aglomeração".
O virologista da UFMG Flávio da Fonseca dá outra dica para relaxar e distrair as crianças. "A pessoa pode andar de carro pela cidade, mas lógico que com o vidro fechado. Faço isso com meus filhos, às vezes. É uma saída segura para deixar um pouco o confinamento".
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