(Frederico Haikal - Hoje em Dia)
No lugar do livre acesso a um espaço de lazer e convivência, rodeado por árvores ornamentais e espelho d’água, entrarão grades, portões e até horário de funcionamento, limitando as atividades noturnas. É o que reza uma proposta protocolada na última sexta-feira (13) para cercar o entorno do parque Jornalista Eduardo Couri, mais conhecido como Barragem Santa Lúcia, na zona Sul de Belo Horizonte. A solicitação partiu da Associação dos Amigos do Parque da Barragem Santa Lúcia e foi entregue à Fundação de Parques Municipais da capital. A demarcação seria uma forma de preservar a vegetação e banir os constantes assaltos no espaço. Mas a ideia divide opiniões entre os frequentadores, que cobram, apenas, mais policiamento. Apesar da polêmica, a prefeitura sinaliza no caminho da possível aprovação do projeto. Isso porque o presidente da Fundação de Parques, o administrador Hugo Vilaça, que está há três meses no cargo, se mostrou favorável à iniciativa. Segundo ele, nos próximos dias técnicos irão ao local para fazer a medição da área e a identificação das intervenções necessárias para cercar a barragem, caso o projeto seja concretizado. Além disso, a Fundação avalia a possibilidade de o custo da obra ser bancado por uma empresa, por meio do mecanismo de compensação ambiental. “Não somos contrários à proposta. Mas, claro, vamos nos reunir com representantes da população e ouvi-los”, disse Hugo Vilaça. Defesa do diálogo Localizada na divisa de um aglomerado e bairros nobres como São Bento, Luxemburgo, Cidade Jardim, Vila Paris e Santo Antônio, a Barragem Santa Lúcia foi implantada em 1996 e tem uma área aproximada de 86 mil metros quadrados. Morador da região, o deputado Fred Costa participou da reunião ocorrida na última sexta-feira (13) entre a Fundação de Parques e a associação que pede o cercamento. O parlamentar disse que a segurança precisa ser reforçada no espaço devido aos constantes assaltos. “São casos diários e muitas pessoas, inclusive, já deixaram de frequentar o espaço”, diz. Ele acredita que a delimitação por meio de grades e portões pode ser um boa alternativa, mas faz ressalvas. “Se for fechado e tivermos guardas municipais em todos os acessos, sem discriminar a presença de ninguém, a segurança será, certamente, melhorada. Porém, essa é uma decisão que envolve toda a comunidade. Ela precisa ser ouvida e a vontade dela deve prevalecer. As pessoas precisam ser ouvidas para chegarmos a um entendimento do que é melhor para todos”, afirmou o deputado. Plano é de pôr guardas municipais na portaria De um lado, o clamor por segurança e o apelo por mais policiamento. Do outro, o temor da segregação, da discriminação e a oposição aos horários restritos de funcionamento. À frente da proposta de cercamento da barragem está o jornalista Eustáquio Augusto dos Santos. Autor de um blog que luta pela preservação do espaço e morando há 25 anos no bairro Vila Paris, ele conta que nunca foi assaltado, mas afirma que os relatos são diários. Segundo ele, 46 moradores foram ouvidos pela associação e todos se mostraram favoráveis ao projeto. A ideia é colocar guardas municipais nos portões e que os acessos fiquem abertos das 6h às 22h. “As principais vítimas são idosos e os assaltantes são adolescentes que agem em grupos”, diz Eustáquio Santos. Dono de uma barraca que funciona há 15 anos na barragem, o comerciante Paulo Roberto Faustino, de 50, é categórico. “Isso é uma forma de privilegiar um grupo de pessoas e discriminar os moradores do morro. Temos sim problemas com a violências, mas precisamos é de mais policiamento e não de cercas”. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, mas ninguém na corporação informou índices de ocorrências no local e se o policiamento será reforçado.