Fuga do abuso sexual ocorrido em casa é cada vez mais comum

Ernesto Braga - Do Hoje em Dia
04/11/2012 às 11:25.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:51
 (LUIZ COSTA)

(LUIZ COSTA)

Há 11 anos no comando da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida, a delegada Cristina Coelli Cicarelli demonstra preocupação com o avanço da violência contra crianças e adolescentes em Minas Gerais. “Nunca expedi tanta guia de corpo delito para crimes contra a dignidade sexual de menores de 18 anos”, afirma.

Segundo a policial, o desaparecimento da maioria das pessoas nessa faixa etária é voluntário. Ou seja, elas saem de casa por vontade própria. Algumas escrevem cartas comunicando o motivo, outras preferem não deixar rastro do paradeiro.

Mas a decisão de deixar o lar não é tomada por acaso. “A principal motivação é o conflito familiar. São menores com histórico de maus-tratos, outros tipos de violência doméstica e abuso sexual dentro de casa”, diz a delegada.


Socorro
 
A violência contra crianças e adolescentes foi tema da série de reportagens do Hoje em Dia que termina hoje. Segundo a delegada, quando os menores resolvem abandonar a família, estão dando “o grito de socorro”. “É a resposta para o conflito, embora essa seja a pior decisão. Eles fazem isso por causa dos excessos dos meios de correção usados pelos pais. Há casos em que os maus-tratos se transformam em tortura”, diz.

A chefe da divisão está alarmada com o aumento dos crimes sexuais cometidos por pessoas ligadas às vítimas ou a familiares delas. “Os menores fogem de casa para se libertar dos agressores. Quando são localizados, têm que fazer exame no Instituto Médico-Legal (IML). A quantidade de procedimentos para confirmar se houve violência sexual nunca foi tão grande como agora”.

É o que a delegada chama de desaparecimento por causas criminosas. “A vítima reclama de falta de oportunidade para se expressar, de ser ouvida em casa. A fuga é a forma de se ver livre da violência doméstica”, diz.

Confirmadas as violações, os menores localizados são encaminhados à Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca).


Quatro por dia
 
De janeiro a setembro deste ano, 1.087 menores foram dados como desaparecidos em Minas, média de 120,7 casos por mês ou quatro por dia. O número representa 47% do total de desaparecimentos no Estado (2.316).

Em Belo Horizonte, foram 769 casos envolvendo crianças e adolescentes (85,4 por mês ou 2,8 por dia). Em todo 2011, 1.260 pessoas com menos de 18 anos desapareceram em Minas, sendo 893 na capital.
 
Leia mais sobre este abuso contra os jovens na Edição Digital.

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