A história de formação do primeiro grupo de gorilas em um zoo da América do Sul perpassa a própria história de uma figura simbólica e bastante querida pelos visitantes do Zoo. Trata-se do gorila Idi, que viveu durante 27 anos na instituição. O gorila era um dos mais celebrados durante as visitas de final de semana e teve a oportunidade, ao final da vida, de viver e interagir com duas fêmeas que foram trazidas para serem as companheiras dele: Imbi e Kifta.
O convívio durou pouco mais de seis meses. Em março de 2012, aos 38 anos, Idi morreu em decorrência de uma insuficiência renal crônica, associada a poliartrite crônica ativa-bacteriana, conforme o laudo médico-veterinário na época.
Mesmo que não tenha tido a chance de gerar filhotes (considerando-se a idade avançada), Idi “abriu as portas” para que a Fundação adquirisse os conhecimentos técnicos necessários para receber novos animais e assim, finalmente, se preparar para a chegada de outros gorilas. Entre os maiores desafios estavam as medidas que pudessem atender às exigências técnicas requeridas pelas instituições internacionais.
As tentativas de se formar um grupo com potencial reprodutivo, só foram concretizadas em outubro de 2013, com a chegada do macho “Leon” e da fêmea “Lou Lou” que passaram a viver com a fêmea, “Imbi”, que chegou em 2011. A adaptação entre eles se deu de acordo com o esperado para a espécie e, associando aos cuidados no manejo e qualidade do recinto, resultou na formação de um grupo maior, com o nascimento de quatro filhotes ao longo dos anos, Sawidi, Jahari, Ayo e Anaya.
Para o gerente do Jardim Zoológico da FPMZB, o biólogo Humberto Mello, o êxito na formação do grupo coloca o zoo de BH como referência nos cuidados com a espécie. “O manejo de gorilas sob cuidados humanos, realizado de forma integrada pelas instituições que abrigam esses animais, deve ser cuidadosamente planejado, baseando-se em critérios genéticos, dentre outros. Essa estratégia garante a proteção, nessas instituições, de um percentual significativo da população mundial de gorilas em condições saudáveis e geneticamente viáveis, para possíveis projetos de reintrodução na natureza”, afirma.
A estratégia do bem-estar
Segundo o chefe da Seção de Veterinária, o médico-veterinário Carlyle Mendes Coelho, além da experiência no manejo do Idi, por meio de treinamentos e intercâmbio institucional, a equipe do Zoo aperfeiçoou as técnicas de manejo de gorilas e, a partir do sucesso da reprodução do grupo em BH, também se tornou bem-sucedida no manejo das fêmeas e filhotes.
O médico-veterinário também chama a atenção para outro fator primordial no êxito alcançado pelo “Projeto Gorilas”. “Talvez seja o objetivo que mais nos motivou a estabelecer o nosso projeto há quase 20 anos. O fato de o Idi ser, à época, o único gorila na América do Sul e solitário, tornou a obtenção de fêmeas a nossa principal meta para melhorar o seu bem-estar. Além disso, o fato da espécie ser extremamente ‘social’ e a complexidade de suas relações familiares estarem diretamente relacionadas com o bem estar e saúde do grupo, fez com que as práticas de bem-estar desenvolvidas e aplicadas por nossa equipe no manejo dos gorilas, como o enriquecimento ambiental e o condicionamento animal, contribuíssem significativamente para o sucesso do manejo dos gorilas em BH”, afirma.
Do ponto de vista da saúde dos animais, Carlyle avalia a experiência adquirida ao longo dos anos. “Assim como para as demais espécies mantidas no Zoo, o programa de manutenção da saúde dos gorilas é resultado de um planejamento bem feito e executado, envolvendo vários profissionais da equipe. Desde o recinto, que foi inteiramente reformado em 2000, especialmente para receber novos animais e manejá-los adequadamente, assim como a nutrição, as práticas de medicina-veterinária preventivas e curativas foram aperfeiçoadas ao longo do tempo. Particularmente no caso dos gorilas, pela extrema semelhança fisiológica com os humanos, algumas vezes recorremos a médicos para nos darem suporte em algum tratamento mais específico”, finaliza.
Animais que estão sob os cuidados do Zoológico de BH:
- Macho “Leon” – veio do Loro Parque, Espanha, para o Zoológico de Belo Horizonte/FPMZB, em 12 de outubro de 2013, com 15 anos.
- Fêmea “Lou Lou” – veio da Fundação Aspinall, Reino Unido, para o Zoológico de Belo Horizonte/FPMZB, em 12 de outubro de 2013, com 9 anos.
- 1º Filhote de “Leon” e “Lou Lou” é “Sawidi” – nascido no Zoológico de Belo Horizonte/FPMZB em 05 de agosto de 2014.
- 2º Filhote de “Leon” e “Lou Lou” é “Anaya” – nascida no Zoológico de Belo Horizonte/FPMZB em 08 de junho de 2019.
- Fêmea “Imbi” – veio da Fundação Aspinall, Reino Unido, para o Zoológico de Belo Horizonte/FPMZB, em 19 de agosto de 2011, com 11 anos.
- 1º Filhote de “Leon” e “Imbi” é “Jahari” – nascido no Zoológico de Belo Horizonte/FPMZB em 10 de setembro de 2014.
- 2º Filhote de “Leon” e “Imbi” é “Ayo” – nascido no Zoológico de Belo Horizonte/FPMZB em 08 de maio de 2017.