Governo de Minas inclui abordagem da igualdade racial no âmbito escolar

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20/11/2017 às 06:00.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:45

(Carlos Alberto/Imprensa MG)

Política de ensino voltada às relações de igualdade racial nas escolas, a campanha AfroCons-ciência, lançada no início de 2015, levou projetos relacionados à História da África e Cultura Afro-brasileira para as instituições. Hoje, 70% delas têm trabalhos voltados para a temática.

Em quase três anos, estima-se que mais de 1 milhão e 200 mil alunos foram impactados pela campanha em todo o Estado. O aumento do número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) é reflexo do trabalho: em 2016, foram 114 mil matrículas a mais em relação ao ano anterior, sendo cerca de 70% delas de alunos negros.

A Lei nº 10.639 tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio e serviu de base para que as Superintendências Regionais de Ensino (SREs) e as escolas estaduais desenvolvessem atividades e resgatassem a contribuição do povo negro nas áreas social, cultural, econômica e política brasileira.

Para a superintendente de Modalidades e Temáticas Especiais de Ensino da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Iara Pires Viana, os índices são resultado do fomento realizado desde o início desta gestão.

“Para implementar a campanha, fizemos um levantamento nas escolas estaduais e descobrimos que o tema não era tratado, e, quando era, era feito de forma superficial e apenas em datas comemorativas. Precisávamos pensar em políticas públicas que olhassem para estes sujeitos, que reconhecessem a identidade deles, e implementar de fato a Lei nº 10.639, trabalhando esse conteúdo de forma permanente”, afirma Iara.

“Eu não gostava nem da minha cor. Passava pó facial mais claro, para ficar mais clara. O cabelo era sempre liso. Hoje em dia eu vejo o mundo de outra forma. Vejo o cabelo cacheado e a minha cor de outra maneira”Flávia Eduarda Machado, de 17 anos

Mudança

A Escola Estadual Nair Mendes Moreira é um dos grandes exemplos da campanha. Com mais de 900 alunos, a maioria negra, a escola registrava historicamente vários problemas de racismo entre os alunos.

Em 2015, a direção e os professores resolveram implementar um currículo interdisciplinar, que trabalhasse a importância da cultura negra e a história africana. Cada professor incluiu o tema dentro das aulas, e a iniciativa deu certo.

“Hoje, o que se vê na escola é outro cenário. Os alunos assumiram cabelos crespos e cacheados, estão se amando mais, e isso fica evidente. A violência e a evasão escolar diminuíram, e, em contrapartida, o rendimento de aprendizagem melhorou muito”, relata a diretora da escola, Luciene Ferreira.

Professora de química na escola, Glenda Rodrigues da Silva foi uma das embaixadoras do projeto. “Sempre usei meu cabelo natural. Pelo cabelo ser o traço mais marcante, quase sempre ele é o que mais incomoda. Eu já fui chamada de bruxa, de cabelo ‘bombril’. Então quando o projeto começou eu vi uma forma de levar isso para a sala de aula, inclusive ensinando as alunas a cuidar dos cabelos. Hoje o que mais se vê na escola são meninas e meninos de trança e cabelo natural”, afirma.

“Tem que ensinar para a criança desde pequena que nós somos uma miscigenação de povos, que não tem como ser todo mundo igual”Natiele DiasEstudante da Escola Estadual Nair Mendes Moreira, 17 anos

Além Disso

A implementação da Lei 10.639, que é a base da campanha AfroConsciência, significa uma ruptura profunda com um tipo de postura pedagógica que não reconhece as diferenças resultantes do processo de formação nacional brasileiro. Outra mudança ocorrida a partir da aprovação dessa lei foi a inclusão, no calendário escolar, do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.

Como parte das ações da campanha estão a realização de seminários, palestras e diversas formações para os professores estaduais, de forma que eles estejam capacitados para tratar a temática dentro do ambiente escolar.

De acordo com a superintendente de Modalidades e Temáticas Especiais de Ensino da Secretaria de Estado de Educação, Iara Pires Viana, a campanha trouxe de volta muitos estudantes negros que tinham evadido do ambiente escolar.

“Eles voltam com sua identidade posta. E, para fortalecer isso, construímos um trabalho de identidade junto às SREs. A escola hoje trabalha a pauta étnico-racial durante todo o ano letivo. E o melhor: não só nas datas comemorativas, e abordando o tema em diversas disciplinas”, comemora.

Projeto de iniciação científica contempla jovens do ensino médio de instituições estaduais

A Secretaria de Estado de Educação lançou, em junho, em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Instituto Unibanco, Ação Educativa e Observatório de Favelas, o projeto Iniciação Científica no Ensino Médio. 

A ideia é levar a experiência de pesquisa e extensão a 3.452 estudantes, 221 professores, de 221 instituições de ensino estaduais, de todas as 47 Superintendências Regionais de Ensino (SREs). Inicialmente, já foram selecionados, por meio de edital, 120 projetos de escolas estaduais para integrar dois eixos de pesquisa.

O projeto está estruturado em três ações, sendo uma delas o “Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos, Afro-brasileiros e da Diáspora” (Ubuntu/Nupeaas), que tem como enfoque a promoção da igualdade racial pautada no reconhecimento da diversidade como elemento preponderante para o desenvolvimento escolar.

“A iniciação científica vai ao encontro dos desejos das nossas juventudes do ensino médio, que pleiteiam entrar na academia, algo que é distante para alguns, principalmente negros e negras que vivem nas periferias. Nesse sentido, os Nupeaas vêm dizer a esses jovens que eles também são capazes e têm plenas condições de estar na Universidade”, afirma Iara. Os núcleos também compõem agenda da campanha AfroConsciência.

Foram selecionados 94 projetos para integrar o eixo Ubuntu/Nupeaas. Iara acredita que a iniciativa deverá impactar mais de 13 mil jovens. “São 12 estudantes que se tornam jovens pesquisadores e cada um no processo do projeto irá agregar alunos de outras escolas também. Diretamente, vamos atingir cerca de 2 mil estudantes, mas, indiretamente, serão mais de 13 mil”, conclui a superintendente.

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