(Valéria Marques / Hoje em Dia)
Com a greve do metrô desde a meia-noite desta quinta-feira (25), Belo Horizonte já sente os reflexos da paralisação. Sem o transporte sobre trilhos circulando, a população tem buscado alternativas de última hora como táxi e carros por aplicativos.
A auxiliar de serviços gerais Ozana Núbia, de 51 anos, pagou cerca de R$ 35 para ir da estação Vilarinho, na região de Venda Nova, para ir até o Centro da capital, local onde trabalha. Com ida e volta, ela gastaria em média R$ 70, o que pesaria no bolso no final do mês.
"Vou ter que pagar do meu bolso para poder chegar ao trabalho. Ainda corro o risco de atrasar. Dinheiro que vai fazer falta no meu orçamento", reclama.
João Guilherme, de 47 anos, também precisou tirar dinheiro do bolso porque foi pego de surpresa com a paralisação dos metroviários. O usuário disse que corria o risco de perder uma consulta médica, marcada após muito tempo de espera. "Vou ter que pegar um uber, mas com certeza vai estar bem caro", opina.
A reportagem fez uma estimativa do valor gasto por um passageiro, caso optasse por uma corrida por aplicativo saindo da estação Vilarinho para chegar até a avenida Paraná, uma das principais vias do hipercentro da capital. Por volta das 9h, o preço da corrida estava em R$38,54, valor bem mais alto do que a tarifa única de R$4,50 cobrada pelo metrô.
No entanto, a alternativa não cabe no bolso de todos. É o caso da promotora de vendas, Ariene Araújo, de 30 anos, que só tinha o cartão Ótimo - bilhetagem eletrônica do transporte público metropolitano - como meio de chegar ao trabalho. A mulher desabafa ainda que, com o vale, ela não pode nem mesmo utilizar os ônibus municipais.
"Eu passei aqui ontem às 16h e não tinha nada avisando sobre a greve. Chego aqui hoje de manhã para trabalhar e está fechado. Eu só tenho o cartão Ótimo e não passa nem no ônibus para ir para o Centro. Vou tentar ligar para o meu marido para ver se ele consegue me levar. Vou ter problemas porque com certeza vou atrasar".
A promotora de vendas diz que, além do problema para ir ao trabalho, ainda terá a incerteza de como voltar para casa no fim do dia. "A volta para casa é outro problema", afirma. Ao saber que a paralisação é por tempo indeterminado ela se desespera.
"Nossa, vai me prejudicar todos os dias até abrir. Até chegar o dia de receber a passagem de novo vou ter que pagar do meu próprio bolso", completa.
Greve
O Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (Sindimetro-MG) confirmou, na tarde de quarta-feira (24), que os trabalhadores do metrô de Belo Horizonte entraram em greve, a partir da meia-noite desta quinta-feira (25). A paralisação acontece por causa da aprovação do Tribunal de Contas da União (TCU) das condições para a desestatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), em BH.
A paralisação já havia sido aprovada em assembleia da categoria realizada na última segunda-feira (22). Os trabalhadores temem as consequências da privatização. Os metroviários alegam que após a desestatização haverá uma demissão de quase 1,6 mil funcionários da CBTU que atuam em Minas Gerais.
Segundo a categoria, a greve é por tempo indeterminado e não haverá escala mínima. Em nota, a CBTU informou que vai acionar a Justiça para garantir uma escala mínima no transporte público.
Reforço
Devido a paralisação dos metroviários, o Sistema de Transporte Coletivo Metropolitano anunciou que vai ampliar número de viagens e linhas, para assegurar o atendimento da população.
"O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano – SINTRAM, informa que a partir de amanhã, desta quinta, irá retomar também as operações da linha emergencial E019 para atender os passageiros prejudicados pela greve anunciada pelos metroviários", disse em nota.
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