Implantação de viagens turísticas de trens em Minas depende da divisão de espaço com cargas

Rosiane Cunha*
rmcunha@hojeemdia.com.br
Publicado em 22/11/2018 às 19:28.Atualizado em 28/10/2021 às 01:57.

Minas Gerais tem pelo menos três projetos para implantação de circuitos turísticos de trens de passageiros no Estado, mas a viabilidade de criação dessas linhas está em discussão com as concessionárias dos trechos e com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). 

Nesta quinta-feira (22) uma audiência na Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), discutiu o assunto, que tem como o principal entrave a divisão das linhas com o transporte de cargas.

Um dos projetos e o da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Apito em parceria com a ONG Cidades, para criar uma linha ligando o bairro Belvedere, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, ao complexo de Inhotim, em Brumadinho, na Grande BH. 

Segundo o presidente da Apito, Sérgio Motta de Melo, há investidores dispostos a bancar o projeto. “Uma linha de 51 quilômetros de extensão, que utilizaria vagões abandonados do antigo trem de passageiros Vera Cruz, que ligava Minas ao Rio de Janeiro. O trem começaria a operar progressivamente até atingir um total de 10 vagões de luxo, com capacidade para 780 passageiros”, explica.

Mas na opinião do diretor de relações institucionais da MRS Logística, Luiz Gustavo Bambini, empresa concessionária do trecho, a implantação é extremamente complexa. “É um trecho de alta densidade de carga, que escoa grande parte da produção brasileira de minério, cerca de 170 milhões de toneladas úteis de minério por dia”, pondera.

Outros projetos discutidos foram a implantação do chamado Trem Rio/Minas, na rota Cataguases, Além Paraíba, Três Rios, na Zona da Mata; e Expresso do Rei, circuito turístico que sairia de Lavras, passando por Três Corações até Varginha, no Sul de Minas, com vários trechos controlados pela empresa VLI Logística.

O diretor de relações institucionais da VLI, Flávio Henrique Rodrigues Pereira, informou que qualquer inciativa nesse sentido precisa da autorização da ANTT e que, para o caso de Cataguases, já foram empenhados vários itens, como locomotivas e vagões, e que outras demandas serão estudadas. “Sobre o trem que partiria de Lavras, a empresa tem interesse em devolver o trecho para a União”, disse.

Já o representante da ONG Trem, André Tenuta, vê na manutenção precária das linhas o maior obstáculo. "No trecho Cataguases/Três Rios, por exemplo, a ANTT exige que sejam substituídos 90% de todos os dormentes dos 150 quilômetros da linha e se fosse realmente necessária essa troca, a linha já não deveria estar sendo usada para transporte de cargas há muito tempo”, lamentou.

Toda a discussão envolvendo as concessões ferroviárias é acompanhada de perto pela Justiça e por vários órgãos que levam em consideração a posição das empresas, mas também a necessidade da população. "Mas ter hoje 2/3 da malha ferroviária, no Brasil, abandonada, é um crime", finalizou João Leite (PSDB), presidente da comissão Pró-Ferrovias Mineiras.


(*Com informações da ALMG)

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