Indenização do BRT é insuficiente para desapropriado comprar outro imóvel

Bruno Moreno - Hoje em Dia
19/08/2013 às 06:40.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:05

Moradora do bairro São João Batista, em Venda Nova, Região Norte de Belo Horizonte, a cozinheira Aledia Otto, de 36 anos, vive a expectativa de ser removida da casa dela, na rua das Pedrinhas, próximo à avenida Pedro I. Ela tem perdido o sono, sem saber para aonde vai.
 
A família de Aledia é uma das 322 que serão desapropriadas para a implantação do BRT – corredor rápido de ônibus –, obra considerada prioritária em Belo Horizonte para a Copa de 2014. “Para aonde eu vou? Meus quatro filhos estudam aqui perto. Com o que estão querendo pagar, não vou conseguir nada por aqui”.

O receio de Aledia e do marido dela é passar por dificuldades como as mostradas na edição de ontem do Hoje em Dia. Pessoas desapropriadas na década passada lamentam a falta de estrutura dos locais onde foram reassentadas e a dificuldade de alugar ou comprar um imóvel com o valor da indenização.
 
Desde 2004, cerca de 6.600 imóveis foram desapropriados na capital para obras em corredores viários e de infraestrutura urbana. Até 2011, foram 5.427 desapropriações ou remoções. A partir do ano passado, outras intervenções, como a construção da rodoviária, das vias 210 e 710 e mudanças nas avenidas Pedro I e Vilarinho, somaram mais 1.167 desapropriações, segundo o Ministério do Esporte e a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel).
 
O pagamento das indenizações é realizado pela Secretaria Municipal de Obras, que se negou a informar quantos imóveis foram desapropriados em cada intervenção e o valor total investido. A secretaria se limitou a afirmar que, no total, a desapropriação atingiu 439 imóveis.
 
Baixo valor
 
Segundo Aledia, a prefeitura ofereceu a ela R$ 32 mil pelo imóvel. “Com esse dinheiro, não dá para comprar nada. Olhamos em um bairro próximo e não achamos nada por menos de R$ 130 mil”, afirmou.
 
A casa fica no mesmo lote que o imóvel da aposentada Wilma Bernardes Pereira, de 70 anos. Além de se sentir incomodada com a futura remoção, ela sofre com a falta de segurança por causa da saída dos vizinhos que já foram desapropriados. “Entraram aqui em casa três vezes e levaram uma bicicleta. Outro dia, dei de cara com um homem olhando pelo muro”, disse a aposentada.
 
As famílias de Aledia e Wilma estão no local há mais de 40 anos, mas não têm a regularização fundiária, embora paguem Imposto Territorial e Predial Urbano (IPTU). Por isso, vão receber indenização relativa apenas às benfeitorias, ou seja, às casas.
 
Após 30 anos morando na favela do Vietnã, próximo à estação do metrô São Gabriel (Nordeste), Adauto Honorato, de 55 anos, teve a casa desapropriada por causa das obras da Linha Verde, na avenida Cristiano Machado.
 
Para conseguir comprar outro imóvel, no bairro Paulo VI, na mesma região, ele usou uma artimanha. “Me ofereceram R$ 17 mil de indenização e, com esse valor, eu sairia de uma favela para morar em outra. Criei duas entradas na antiga casa, como se fossem dois imóveis, e o valor subiu para R$ 32 mil”, disse.
 
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