Cerca de 70 índios Xakriabá de São João das Missões, no Norte de Minas, ocuparam na manhã desta terça-feira (26) a sede do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), em Governador Valadares, região Leste do Estado. Vinte e seis funcionários foram mantidos reféns, mas liberados por volta das 17 horas depois de uma reunião com representantes do Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal, Dsei e a promessa de uma audiência pública em Montes Claros, agendada para 30 de janeiro de 2014.
Segundo o cacique Santo Caetano Barbosa, a ideia é reunir representantes do MPF e outras autoridades de Montes Claros que conhecem a realidade dos Xakriabá. Além de pedir a exoneração da atual chefe do Dsei, Elizabeth Cristina Gosling Stehling, os índios reclamam da falta de exames, remédios, água tratada e saneamento básico nas 23 aldeias que formam o território indígena de São João das Missões. “Aqui ela (Elizabeth) ficou falando que estávamos mentindo, mas lá não terá como desmentir a realidade”, diz o cacique.
De acordo com Barbosa, desde a entrada de Stehling, há um ano e meio, a saúde dos Xakriabás “que já andava ruim, piorou”. “Tentamos o diálogo muitas vezes, mas não fomos recebidos e nem ouvidos. Agora queremos a saída dela”. O cacique conta que apesar de formada por cerca de dez mil indígenas, a comunidade Xakriabá tem direito a apenas 20 ultrassons por mês. “Tem pessoas na fila para exames há um ano e outras já morreram por falta de atendimento. Falta médico, remédio, falta tudo”.
Os índios estariam fazendo “vaquinha” para comprar canos e tentar garantir o abastecimento de água nas aldeias, muitas delas atendidas com caminhões pipa. A falta de saneamento básico seria outro problema. “O esgoto adoece as crianças”, conta. Ele também reclama que a atual administração do Dsei não respeita a organização interna das aldeias, um direito garantido pela Constituição Federal e do qual não abrem mão.
Um exemplo seria o envio de contratados para trabalhos internos sem aviso prévio ou aceitação das lideranças. “Enviam pessoas que não sabem trabalhar ou não respeitam os índios. A saúde indígena virou cargo político, em todas as esferas”, reclama. O cacique não considera que tenham feito reféns. “Mantivemos os funcionários em seus setores para cuidarem das suas coisas e depois não alegarem que fizemos baderna e assim comprometerem a imagem do protesto e dos índios”, justifica.
Protesto
O fim do protesto e liberação dos reféns foi acordado em reunião intermediada pelo procurador federal do MPF em Valadares, Bruno Ferraz, e contou com a participação de representantes da PF, PM e Dsei. A chefe do Dsei não foi encontrada para falar sobre o assunto. Funcionários informaram que desde que os rumores da ocupação surgiram, há 15 dias, ela vem despachando de outro endereço. “Tudo será resolvido e esclarecido”, disse Áurea Monteiro, que presta serviços de assessoria à coordenadora e uma das reféns.
A funcionária Fátima das Dores Silva, que trabalha com a saúde indígena há 26 anos, estava entre os reféns. Ela conta que esta foi a quarta vez, só em Valadares, que passou pela mesma situação. Na última, em 2007, ficou de 9 às 2 horas da madrugada como refém. “O jeito é manter o controle, aguardar com paciência. Estamos todos bem”, disse.
Os índios Xakriabá percorreram 783 kms até Valadares, onde chegaram por volta das 9h30. Os portões foram fechados e os funcionários impedidos de sair, com exceção de três que passaram mal, duas mães que estão amamentando e também foram liberadas e dois servidores que pularam o muro e fugiram correndo. A Polícia Militar e a Federal ocuparam as imediações, na Avenida Piracicaba, Ilha dos Araújos, mas não houve confrontos.