Depois que Alexandre Kalil anunciou o fechamento do comércio não essencial a partir de segunda-feira (29), o prefeito de Belo Horizonte recebeu várias críticas de entidades representativas. A Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH) chegou a publicar uma nota em que cobrou da administração municipal a abertura de leitos de terapia intensiva, conforme havia sido prometido (veja abaixo). Mas abrir leitos de UTI não é uma tarefa fácil, especialmente durante uma pandemia com curva de crescimento tão acelerado.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que abriu 192 leitos em junho – sendo 77 de terapia intensiva e 115 de enfermaria. Dessa forma, a rede SUS na capital passou a contar com 1.059 leitos dedicados a pacientes com Covid. Mais UTIs devem ser abertas nas próximas semanas, mas isso demanda um planejamento rigoroso.
De acordo com o infectologista Estevão Urbano, membro do comitê de enfrentamento à pandemia em Belo Horizonte, a abertura de leitos de UTI demanda tempo para ser realizada de maneira adequada. Não só por conta dos aparelhos complexos necessários, mas especialmente por causa dos recursos humanos.
Para cada leito de UTI aberto, é necessário ter à disposição uma equipe formada por médicos, enfermeiros e fisioterapeutas com especialização na área. Para dar conta do aumento da demanda, os hospitais estão adequando as jornadas dos profissionais já contratados.
“Para abrir um novo leito, é preciso um prazo de 10 ou 15 dias para conseguir acertar a equipe. A prefeitura continua ampliando a oferta porque trabalha com equipes previamente formadas que já atuam nos hospitais. Há uma série de otimizações que devem ser feitas nas equipes para que os leitos possam ser disponibilizados", afirmou o médico.
Ele reforça que é fundamental que os profissionais de uma terapia intensiva tenham boa formação na área. “Poucas pessoas são habilitadas a lidar com um respirador. E esse é só um item de uma série de necessidades que envolvem a terapia intensiva”, explicou.
Urbano disse ainda que a ocupação de leitos na rede pública sempre foi grande, mas foi necessário impedir que houvesse internações por outras enfermidades (com suspensão de cirurgias eletivas e redução no número de acidentes automobilísticos, por exemplo), para que fosse possível atender aos pacientes com Covid. “Se tivéssemos as mesmas internações dos anos anteriores e a pandemia, não teria leitos para todos. As pessoas estariam morrendo dentro de casa”.
Conter crescimento
Urbano explica ainda que a alta taxa de ocupação nos leitos de UTI não foi o único motivo para que houvesse a decisão em fechar o comércio não essencial. Segundo ele, ficou evidente que era necessário desacelerar a curva da epidemia em Belo Horizonte, para evitar que mais pessoas adoecessem – e, consequentemente, mais pessoas morressem de Covid-19. Até o momento, a capital tem 5.195 casos confirmados e 121 mortes.
“As UTIs são importantes, mas elas não garantem que as pessoas sairão dali vivas. Muita gente está lavando as mãos, imaginando que, se tiver UTI, pode deixar a coisa correr solta. Não queremos que as pessoas adoeçam, porque muitas morrem mesmo com a disponibilidade de UTI”, afirmou Urbano.
De acordo com o médico, o relaxamento da população contribuiu para que houvesse um crescimento na transmissão da doença na cidade. No momento em que a prefeitura decidiu iniciar o processo de flexibilização do comércio, muitos moradores da cidade passaram a abrir mão das medidas de isolamento social – com passeios por espaços públicos e reuniões entre amigos e familiares.
“Falamos muito sobre a importância do isolamento social, mas não atingimos o âmago de algumas pessoas. Flexibilizar está muito longe de ‘está tudo liberado’. Infelizmente, muitas pessoas entenderam a flexibilização desse jeito, algumas porque não querem enxergar, outras porque estavam abaladas emocionalmente”, disse o médico.
Veja a nota emitida pela CDL sobre a expectativa de abertura de novos leitos de UTI: