Este “jeitim” mineiro de falar nosso de cada dia é a inspiração para um grupo de quatro amigos de Belo Horizonte, idealizadores do perfil “Indiretas Mineiras”. Criado há menos de um ano, o endereço locado no Facebook e no Instagram, onde reúne mais de 80 mil seguidores, recebe, no mínimo, cem sugestões/dia do mais autêntico “mineirês”.
Um único post chega a “alcançar” quase 182 mil pessoas, entre curtidas, compartilhamentos e comentários. “A inspiração foi um outro perfil, o ‘Indiretas do Bem’ (que publica frases de otimismo)”, diz o analista de mídias Charlles de Assis Neto.
A versão com o linguajar mineiro do “Indiretas” foi criada por ele, juntamente com as colegas de trabalho Beatriz Vieira, Maria Luiza Gondim e Priscila Patrício (foto abaixo). “Queremos propagar o nosso amor por Minas”, anuncia.
Amor, sim, mas também é empreendedorismo, uai! Com a ideia, os jovens na faixa dos 20 anos, já recebem propostas para criar anúncios com as frases, mas sem macular a espontaneidade da brincadeira.
Mineiros unidos
No mesmo clima, o músico mineiro Affonsinho postou no YouTube a música “Sas Sies Sions”. “Sas sies sions pass na Savassi?”, brinca ele no refrão visualizado quase que instantaneamente por mais de dois mil internautas.
Outra ode ao “mineirês”, foi conhecida em julho deste ano. Nela, a professora Carolina Antunes publicou o “Dicionário do Dialeto Rural do Vale do Jequitinhonha de Minas Gerais”, com mil palavras, expressões e frases típicas daquela região.
Para tirar a prova dessa versátil maneira de falar o português em Minas, a reportagem foi até a rodoviária de Belo Horizonte, onde identificou uma verdadeira torre de babel do “mineirês”. Leia ao lado.
Maria Aparicida Carvalho, bibliotecária aposentada, de Lavras. Maria Aparicida de quê? “Cããirvalho!”, frisa a professora, entre gargalhadas, ao se flagrar no próprio sotaque. A professora ainda cita algumas expressões do Sul de Minas como “coisar”, por exemplo: “Ô, coisa!” ou “Eu esqueci de ‘coisar’ isso daqui”. Ela diz que tem um filho “mais ao Sul de Minas ainda”, em Pouso Alegre, de quem ela “morre de rir”. “Eles falam com o ‘r’ mais carregado e com pressa. Eu vou alí, ‘jáqueuvolto’!”, diverte-se.
Geraldo Henrique Moreira, 80 anos, desde 1975, em Belo Horizonte. Nascido em Mutum e criado em Mantena, Geraldo falou da região do Vale do Rio Doce. “Tudo é Minas Gerais. Mas eu gosto de falar é a verdade. Carne seca lá chama é jabá”. E o povo lá era bravo, sr. Geraldo? “Nada! Povo humilde. Quando eu fui pra lá tinha dois destacamentos: mineiro e capixaba. Isso, porque Mantena é ligada ao Espírito Santo. Tem mais história, mas minha mente fugiu um pouco”. José Carlos de Almeida, 49 anos, vive em Taquaraçu, na Região Central “Ih, Zééé...!” é uma expressão que o morador de Taquaraçu observa na fala dos habitantes da região rural da cidade em que vive. “Mineiro tem as suas origens, mas até que esse pessoal da roça está mais ativo que o pessoal da cidade”, considera ele, sobre o fim do isolamento de muitas comunidades quanto às referências culturais. Sorridente, José Carlos se despede da equipe com um mineiríssimo: “Brigadão, ocês”!