Jovens bêbados promovendo quebradeira, tocando som alto e fazendo sexo explícito. Tráfico de drogas ao ar livre. Ruas e postes servindo de banheiro, muita sujeira, trânsito caótico. E, há dez dias, o auge da farra desmedida: 3 mil pessoas ocupando um quarteirão em um evento sem autorização do poder público, segurança e policiamento.
Essa bagunça sem limites nem respeito tem ocorrido frequentemente às sextas-feiras, preocupando moradores do bairro Coração Eucarístico, na região Noroeste de Belo Horizonte. O centro da polêmica são dois bares – Bandeco e do Kareka – do condomínio comercial Top Shopping, conhecido como “Shopping Rosa”, que reúne universitários da PUC Minas e jovens baladeiros de BH.
O problema ocorre desde 2007 na avenida 31 de Março, entre a avenida Dom José Gaspar e a rua Cardeal Vasconcelos Motta. Mas a situação perdeu o controle há poucos dias, numa festa de pré-Carnaval.
Durante o evento, moradores presenciaram cenas de sexo em capôs de carros, jovens brigando com garrafas de vidro, adolescentes alcoolizados. Participantes chegaram a fazer um churrasco dentro de uma agência bancária. Comerciantes do shopping fecharam as portas mais cedo e os que insistiram no dia de trabalho perderam a clientela.
Festas constantes
A vizinhança conta, porém, que festas menores, mas com os mesmos transtornos, acontecem quase toda semana. Um morador que pediu para não ter o nome revelado, por medo de represálias, contou que, além do consumo e tráfico de drogas, ambulantes vendem bebidas alcoólicas para menores de idade.
“As pessoas tomam a rua. Impedem o fluxo de carros, ônibus e pedestres. Param carros com som alto e tocam músicas com letras promíscuas. Vi meninas bêbadas caindo no chão”, relatou outro morador, Walter Freitas, de 57 anos.
Ele afirma que os imóveis estão ficando desvalorizados no bairro por causa da balbúrdia e cobra uma presença maior do poder público no local.
Já a Polícia Militar (PM) se diz de mãos atadas. O tenente coronel Wanderley Wilson Amaro, comandante do 34º Batalhão, sustenta que não pode reforçar o policiamento durante os eventos porque eles não têm alvará. “Cabe à prefeitura e ao Ministério Público fechar esses bares”, avisa.
Busca por solução com diálogo e ação judicial
Uma decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), de 2007, ordenou o encerramento das atividades dos estabelecimentos Bandeco e Kareka, em processo aberto pelo condomínio do Centro Comercial Top Shopping. Mas nenhum deles obedeceu.
O dono do Bandeco, Lisandro Souza, disse que desconhece a ordem e que a política de atendimento do restaurante não incomoda aos moradores, pois não faz festas de grande porte ou calouradas. Procurados, os responsáveis pelo Kareka não foram localizados.
“Vamos esperar providências dos órgãos públicos. Já acionamos a prefeitura e o Ministério Público (MP), além de manter diálogo com a PUC Minas”, disse a síndica do condomínio, Eunice Gonçalves Tarzam.
A PUC Minas informou que é contra as festas realizadas sem autorização nas imediações da universidade, mas que não pode desarticulá-las, por estarem fora da instituição. Segundo o assessor para assuntos estudantis da universidade, Renato Martins, há diálogo constante com a Associação de Moradores e Amigos do Coração Eucarístico (Amacor) e órgãos públicos.
Na última quinta-feira (6), houve reunião com os moradores dentro do Campus e, no próximo dia 10, haverá audiência pública na Câmara Municipal para tratar o assunto.
A Regional Noroeste informou que, em ação conjunta, com a PM e a BHTrans, intensificou as ações de fiscalização no local e que os estabelecimentos que descumprirem o código de posturas do município sofrerão sanções.
Já o MP informou que há uma representação sobre o assunto, mas ela ainda não foi analisada.