Depois de um fim de tarde de caos em Belo Horizonte na última quarta-feira (8), em que o trânsito parou nas principais vias da cidade e não se viu a ação dos órgãos de trânsito para minimizar o transtorno à população, o prefeito Alexandre Kalil disse, nesta manhã (9), que a BHTrans não pôde organizar o tráfego na cidade porque "estava presa no trânsito".
"Eu fui querer saber hoje de manhã o que aconteceu e me deram essa notícia. Então nós estamos treinados para falar que não conseguimos conversar com eles porque eles estavam presos no trânsito", disse, em tom de brincadeira.
O prefeito admitiu que faltou planejamento para enfrentar a situação. "Poderíamos ter nos preparado melhor, mas não foi feito. Mas, apesar daquela tromba d'água de ontem não houve vítimas e ficamos aliviados porque só vamos ter que trabalhar dobrado hoje para limpar tudo que aconteceu", disse. Segundo o prefeito, o Centro de Operações da Prefeitura (COP) e o sistema de monitoramento utilizado pelo órgão ficaram sem sinal e sem acesso à internet.
Planejamento para emergências
No entanto, para o especialista de engenharia de transporte e trânsito e coordenador da disciplina de Transporte na Fumec, Márcio Aguiar, o órgão deveria ter se planejado para agir mesmo sem rede. Ele afirma que a BHTrans já tem mapeados quais são os pontos mais críticos de problemas de trânsito na capital e poderia ter enviado os agentes às ruas.
“A BHTrans sabe quais são as intersecções mais problemáticas e poderia se preparar com antecedência, mesmo caindo a internet. Então, quando o órgão está preparado, é preciso um atendimento emergencial. Eles poderiam ter conduzido os agentes de forma preventiva e independente do centro operacional, para minimizar a situação caótica nesses locais para a população e transmitir eficiência”, afirma.
De acordo com Márcio, alguns locais como os cruzamentos da rua Rio Grande do Norte com as avenidas Brasil e Getúlio Vargas, da rua da Bahia com a Augusto de Lima, toda a avenida Afonso Pena, as praças da Liberdade e Milton Campos e vários pontos ao longo da avenida do Contorno, especialmente na região do Santa Efigênia, já são identificados como pontos problemáticos no centro da cidade. Neles, os semáforos recorrentemente desligam com impactos de chuvas e temporais.
O especialista acredita que poderia ter ocorrido uma ação integrada entre os agentes de trânsito, a guarda municipal e a Polícia Militar para conter a confusão. “Quando chove, a gente já sabe que vai ter problema, aí é batalhão nas ruas, chamar a guarda municipal, pedir ajuda da PM e mobilizar todo o efetivo para não virar o caos que foi ontem”, diz.
Plano de ação
Para evitar transtornos à população, como na noite de quarta-feira, o prefeito assegurou que será criado um projeto de prevenção, que terá como base obras de saneamento básico. Ele assegurou que 95% das verbas da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, que chegam a R$ 1,6 bilhão, serão destinadas ao saneamento durante os próximos quatro anos de gestão.
"A chuva não pode ser colocada nas costas de ninguém a não ser de São Pedro, apesar de que cidade tem que se preparar para receber esse tipo de chuvas nos próximos 10, 15, 20 anos. É uma preparação longa e a cidade tem que se prevenir em situações como essa, cada vez mais comuns", afirmou.