Leite materno vendido na web não passa por testes e pode conter até drogas

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
18/05/2015 às 06:13.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:04
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Substituir o ato de dar de mamar no peito por um frasco de leite fresco, entregue em casa após um comando no computador ou celular, tem se tornado rotina na vida de mães norte-americanas e europeias. Sites do Reino Unido e dos Estados Unidos, especializados no comércio de leite materno, estão difundindo pelo mundo o equivocado e perigoso hábito de comprar o alimento, tratado, nesse contexto, como um produto qualquer.


No Brasil, especialistas alertam para os riscos que o mercado negro oferecem à saúde, e até a vida, de milhares de bebês e recém-nascidos. O receio é de que a prática ganhe corpo e chegue ao território nacional, onde é proibida por lei, desde 1993, a chamada amamentação cruzada, quando uma mulher amamenta o bebê de outra.


“O leite humano comercializado por sites não passa por testagem sorológica para doenças como hepatite e Aids, por exemplo. Dar a um bebê um leite como esse, cuja procedência é desconhecida, deixa a criança suscetível a doenças muito perigosas”, ressalta o pediatra e homeopata Moisés Chencinski, autor do blog “Mama que te faz bem”.


Sem qualidade


Pesquisa publicada no British Journal of Medicine mostrou que o leite vendido na web, a preços reduzidos, já que não passa por teste de qualidade nem pasteurização, continha quatro vezes mais micro-organismos danosos à saúde em relação aos coletados nos bancos de leite.


Em somente uma das 20 amostras recolhidas em bancos foram encontrados citomegalovírus – da família dos herpes zóster e genital e da catapora. Nas que foram adquiridas on-line, os resultados mostraram aumento de todo tipo de organismo prejudicial à saúde. Somente nove entre as 101 recebidas da internet não continham crescimento bacteriano, resultado do manejo inadequado do leite.


“Como o leite humano vendido pela internet não é 100% testado nem fiscalizado, há ainda a possibilidade de que contenha drogas ilícitas e mistura com leite de vaca e água para aumentar o volume”, reforça o especialista.


Substâncias tóxicas para o corpo humano, como o bisfenol, composto químico cancerígeno, também foram detectadas nas amostras obtidas pelos sites da internet, segundo a pesquisa.


SÓ NO PEITO


O pediatra ressalta que até os seis meses de vida os bebês devem ser alimentados exclusivamente com leite materno. É importante, porém, que o alimento não seja proveniente de doações ou de outra mulher que não a mãe da criança.


“O leite da mãe é próprio para o bebê, ajudando a formar a flora intestinal, ajudando na imunidade, favorece o crescimento e o desenvolvimento e aumentando o vínculo entre mãe e filho”, diz.


Alimento doado e fornecido a bancos é 100% seguro e indicado para bebês prematuros


Para bebês nascidos antes da hora, os bancos de leite são, além do próprio peito da mãe, a única fonte de alimento 100% segura e recomendada pelos médicos. Em Belo Horizonte, os cerca de 300 litros doados, mensalmente, por mulheres que ganharam neném há pouco tempo, servem de comida para mais de cem bebês, com saúde frágil, em função do nascimento prematuro.


Da coleta na casa da doadora, à forma como é testado e armazenado, o alimento passa por um controle rigoroso de higiene e qualidade. No mês passado, apenas 12% dos 257 litros recebidos pelo banco de leite da Maternidade Odete Valadares, na capital, foram descartados.


“Frascos com trincas, fio de cabelo ou qualquer tipo de testagem positiva para doença tornam o leite inadequado para o consumo”, resume a coordenadora do banco de leite, Maria Hercília Barbosa.


Mulheres saudáveis, que estejam amamentando, tenham excesso de leite no peito e não sejam portadoras de doenças como hepatite e HIV podem doar leite. Interessadas podem procurar a maternidade, de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h30, ou se informar pelo (31) 3337-5678.




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