(Frederico Haikal)
A exatos 515 dias do primeiro jogo da Copa do Mundo no Mineirão, Belo Horizonte está mais suja do que nunca. Por mais que a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) deflagre campanhas de conscientização, instale placas proibindo o descarte irregular e ameace infratores com multas que quase nunca são lavradas, a imundície castiga endereços da capital.
E ameaça manchar até a melhor das impressões a serem guardadas por turistas.Basta um giro pelas ruas para encontrar pilhas de resíduos. Na Geraldo Faria de Souza, no Sagrada Família (Leste), uma casa está sendo “engolida” por lixo e detritos. Por estar fora de sacos, o material é desprezado durante a coleta. Transformado em criadouro de moscas, baratas e ratos, é motivo de desespero para os vizinhos, a maioria idosa. Segundo uma moradora que pediu anonimato, o descaso dura meses. “Não adianta reclamar, ligar para a regional. Ninguém faz nada”.
Sem vergonha
No bairro São Paulo (Nordeste), a situação está fora de controle. Na rua Joaquim Veiga há dois “lixões” próximos a um hospital e uma escola do Sesi. Alheias à equipe do Hoje em Dia, pessoas jogaram lixo no local, que deveria ser um “ponto limpo”.
“É um absurdo”, diz a dona de casa Cláudia Márcia Brandão, de 39 anos, que mora nos arredores com dois filhos e cuida de outras crianças. Os riscos a que a população fica exposta, devido à proximidade com os dejetos, são vários, diz o infectologista Carlos Starling. Incluem doenças gastrointestinais,leptospirose e dengue, entre outros.
“O lixo atrai moscas, que entram nas casas e contaminam os alimentos. Na época da chuva, o contato das pessoas com água contaminada por urina do rato pode causar leptospirose. Além disso, objetos servem de criadouros do mosquito da dengue”, explica o médico, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia.
No período chuvoso, o acúmulo de entulho se torna um grande vilão. “O descarte irregular entope bueiros, deixando pessoas vulneráveis às inundações. A questão do lixo está intimamente ligada à qualidade de vida urbana”, afirma Sérgio Myssior, vice-presidente da seção mineira do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-MG)