Uma faxina em casa é suficiente para encontrarmos no fundo da gaveta objetos guardados para uma eventual necessidade. Mas, às vezes, eles ficam lá mais de duas décadas. Essa situação é comum principalmente na região Sudeste, segundo levantamento do site de classificados OLX. O objetivo da pesquisa era mostrar quantas pessoas perdem a oportunidade de ganhar um dinheirinho extra com a venda de itens “esquecidos”. Porém, também revelou que é hábito do brasileiro acumular objetos. “Para essas pessoas, vale o velho ditado da vovó: ‘quem guarda tem’. Acontece de elas nunca terem usado um objeto guardado por 25 anos, mas pode ser que precisem dele depois e, assim, não terão que pedir a ninguém. Inconscientemente, o pensamento é esse”, explica o analista comportamental do Instituto Você, Getúlio Chaves. Segundo ele, o mais difícil nessas situações é a pessoa aceitar que é uma acumuladora. Exemplo disso é a terapeuta Elzi Sena Costa, de 65 anos. Há uma década, ela faz origamis. Desde então, não pode ver um pedaço de papel que leva para casa. “Sempre que vejo uma pessoa desembrulhando um presente, corro para pegar o embrulho. Hoje, tenho cerca de dois mil pedaços de papel em casa, porque já guardo eles cortados nos tamanhos que vou utilizar”, diz. Elzi, no entanto, garante que não é uma acumuladora, já que o material tem rotatividade. “Ele não fica parado. Presenteio muita gente com origamis, dou aulas e levo papéis da minha casa para os alunos”, defende-se. Mas o marido dela revela que a terapeuta, na verdade, “guarda várias coisas”. Resistência Apesar da resistência das pessoas em aceitar o diagnóstico, é inevitável constatar que, em graus leves ou acentuados, a acumulação é um tipo de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). É o que afirma o presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, Maurício Leão Rezende. Hábito é saudável apenas quando se trata de colecionadores, adverte especialista Há dois grupos de pessoas com mania de acumular objetos, segundo Getúlio Chaves, do Instituo Você: o de colecionadores e o de acumuladores, propriamente ditos. No primeiro caso, eles se sentem bem com os itens colecionados, o que é saudável. No segundo, no entanto, pode haver um desequilíbrio prejudicial à saúde. “A coisa torna-se daninha quando aquilo que se guarda não tem valor de mercado, apenas sentimental. Tem pessoas que juntam coisas e não conseguem dimensionar o espaço que elas ocupam. Já vimos casos em que familiares tiveram que sair de casa”, afirma Chaves. O bartender Diego Sena Ribeiro, de 25 anos, garante que é colecionador, embora pareça ter herdado da família o hábito de guardar objetos. Sobrinho de Elzi, o mineiro que mora há dez anos na Flórida, nos Estados Unidos, guarda cerca de 200 copinhos de doses de bebidas, conhecidos por lá como “shots”. “Tenho copos de diferentes cidades e países, alguns de times ou frases engraçadas. Compro alguns, mas como a família e os amigos sabem do meu gosto, sempre que viajam trazem para eu adicionar à coleção”. Apesar de parecer um hábito inofensivo, Chaves alerta: se houver excessos, é preciso buscar ajuda. “Esse momento chega quando a pessoa sente que tem um padrão de comportamento que não consegue mudar sozinha”.