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Mais da metade dos adolescentes que consomem ultraprocessados têm sono inadequado, diz UFMG

Pesquisa foi feita pela Escola de Enfermagem com quase 67 mil alunos de 12 a 17 anos de escolas públicas e privadas em vários estados

Do HOJE EM DIA
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20/06/2024 às 16:15.
Atualizado em 20/06/2024 às 16:28
Hábitos de higiene do sono, como evitar usar aparelhos eletrônicos antes de dormir, são recomendados (Pixabay/Reprodução)

Hábitos de higiene do sono, como evitar usar aparelhos eletrônicos antes de dormir, são recomendados (Pixabay/Reprodução)

Mais da metade dos adolescentes que consomem alimentos ultraprocessados têm sono inadequado. Os dados estão em uma pesquisa de âmbito nacional realizada pela  Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas gerais (UFMG) com alunos de 12 a 17 anos de escolas públicas e privadas.

O levantamento foi feito Grupo de Estudo, Pesquisa e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (Geppaas) da Escola de Enfermagem junto a 66.791 estudantes. E revelou que 55,94% daqueles que consomem alimentos ultraprocessados apresentaram duração inadequada do sono : menos de 8 horas e mais de 10 horas por dia.

Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (20). O objetivo do estudo foi verificar a associação entre a duração do sono e o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) nos adolescentes brasileiros de cidades com mais de 100 mil habitantes, participantes do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica).

Coordenadora da pesquisa, a professora Larissa Loures Mendes, do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem, ressalta que a duração do sono influencia o padrão alimentar e a qualidade de vida e enfatiza que os ultraprocessados são responsáveis por 28% do consumo de energia dos adolescentes. 

“O aumento do consumo de alimentos ultraprocessados entre aqueles com duração inadequada do sono pode estar relacionado ao aumento da prevalência de obesidade, resistência à insulina e hipertensão arterial nesta faixa etária. Os AUP têm alta energia e baixa densidade de nutrientes, alta palatabilidade e grandes quantidades de açúcares, gorduras saturadas e sódio. Seu alto consumo tem sido associado a distúrbios de humor, início de sintomas depressivos, flutuações de saciedade, perturbações do sono e alterações de apetite”, alerta.

Questionário sobre sono

Durante o estudo, o nível consumo de AUP foi obtido por meio do registro de diário alimentar de 24 horas e utilizado como variável desfecho (em gramas). A duração do sono foi obtida por meio de questionário, estratificada em duração de sono recomendada (8 a 10 horas por dia) e duração de sono inadequada (menos de 8 horas e mais de 10 horas por dia).

Mendes explica que o questionário aplicado aos adolescentes foi composto por 105 questões divididas em 11 blocos, abrangendo as seguintes áreas: situação socioeconômica, trabalho, tabagismo, consumo de álcool, atividade física, histórico médico e de saúde, horas de sono, comportamento alimentar, saúde bucal, transtornos mentais comuns e problemas reprodutivos.

Perfil dos adolescentes

Dos estudantes que participaram do estudo, 50,21% eram do sexo masculino e 49,79% do sexo feminino; 48,83% de cor parda, 40,05% brancos, 8,31% pretos, 2,12% de descendência do Leste Asiático e 2,12% indígenas; 35,1% com idade entre 12 e 13 anos, 34,99% entre 14 e 15 anos e 29,9% entre 16 e 17 anos; 73,97%, com nível socioeconômico médio, 23,6% nível alto e 2,42% baixo. 

“Quanto à caracterização segundo a duração do sono, os adolescentes que dormem o número recomendado de horas são mais jovens (na faixa etária de 12 a 13 anos) do que aqueles que não dormem o número de horas recomendado (com idade de 14 a 17 anos)”, observa a coordenadora do estudo.

Os adolescentes do sexo masculino com idade de 14 e 15 anos e com alto nível socioeconômico apresentaram maior consumo médio de ultraprocessados. Adolescentes que se autodeclaram brancos apresentam maior consumo médio de AUP quando cumprem a recomendação de sono em comparação aos adolescentes que se autodeclaram pardos. Entre aqueles com duração de sono inadequada, os adolescentes que se autodeclaram pretos ou brancos apresentam consumo médio de ultraprocessados maior do que aqueles que se autodeclaram pardos e indígenas.

Alimentos mais consumidos

Os alimentos ultraprocessados mais consumidos por esses adolescentes têm alto teor de carboidratos: pães embalados produzidos em massa; macarrão instantâneo; bolos e misturas para bolo; produtos prontos para aquecer, incluindo tortas pré-preparadas, massas, pratos de pizza, bolo e pão; biscoitos embalados; refrigerantes; salsichas, hambúrgueres, cachorros-quentes e outros produtos de carne reconstituída.

A pesquisadora alerta que a duração do sono pode impactar na qualidade de vida, pois o tempo adequado é essencial para o pleno desenvolvimento dos adolescentes. “Caso contrário, observam-se danos à saúde psicossocial, afetando o desempenho escolar e até promovendo o desenvolvimento de comportamentos de risco, como uso de álcool e tabaco em adolescentes com duração inadequada do sono. Além disso, esses estudos sugerem que a qualidade do sono também está associada ao maior consumo de AUP entre adolescentes, apoiando a hipótese de que hábitos alimentares inadequados em adolescentes podem estar relacionados a um aumento da prevalência da obesidade devido à duração inadequada do sono”, relata.

Mendes pontua, ainda, que reconhecendo que o consumo alimentar é multifatorial, as intervenções para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados devem incluir múltiplos componentes, considerando mudanças políticas, ambientais e individuais. “Essas medidas devem ter como objetivo reduzir a disponibilidade desses alimentos nos ambientes escolares e domésticos por meio da regulamentação da venda em ambientes escolares, bem como da publicidade e exibição, além da tributação e rotulagem apropriadas”.

Além disso, em nível individual, a professora ressalta que é fundamental implementar atividades de educação alimentar e nutricional com o intuito de promover a sensibilização para hábitos de vida saudáveis entre os jovens e alertá-los sobre os malefícios causados pelo consumo excessivo de AUP. 

“É necessário também desenvolver ações e estratégias que promovam a higiene do sono, como construir uma rotina diária, evitar consumir produtos com cafeína e usar aparelhos eletrônicos antes de dormir e ajustar a temperatura do local para proporcionar um ambiente mais confortável”, conclui.

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