(FREDERICO HAIKAL)
Minas Gerais tem pelo menos 8,6 mil quilômetros de rodovias sob a tutela do poder público em condições regulares, ruins ou péssimas. A extensão representa 69,4% das malhas estadual e federal avaliadas em pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional de Transportes (CNT).
Falta de manutenção é o principal fator apontado por especialistas para a situação considerada crítica, que pode impactar na segurança de quem trafega por essas vias. As principais falhas são buracos, pavimento irregular, sinalização precária ou mesmo a inexistência de placas.
Por outro lado, as estradas administradas pela iniciativa privada apresentam índices satisfatórios: 76% são ótimas ou boas. Nas que estão nas mãos dos governos estadual e federal, no entanto, somente 30,6% ganharam essas classificações.
Consultor em transporte e trânsito, Osias Baptista Neto atribui à redução de investimentos o cenário das pistas, o que afetou a manutenção. “Se a rodovia começou a dar defeito, ele cresce em progressão geométrica se não houver correção imediata. No caso de asfalto trincado, por exemplo, a água da chuva infiltra e o pavimento começa a se soltar. Sem falar no tráfego, que potencializa o estrago”.
Ele diz, ainda, que a pesquisa aponta problemas nos projetos das estradas. Erros não são descartados, mas, afirma Osias, o que chama a atenção é que o sistema rodoviário brasileiro, construído há décadas, não comporta mais a atual frota. Hoje, o tráfego cresceu, com veículos maiores e mais pesados, o que sobrecarrega o asfalto.
Apesar de ser uma alternativa viável, o especialista diz que ceder as pistas para a iniciativa privada é uma solução complicada. As já foram transferidas para as concessionárias, conforme o consultor, são mantidas por meio do dinheiro arrecadado com o pedágio.
“A medida é boa para rodovias com grande fluxo, mas as de menor volume de veículos não são atrativas. Nesses casos, ou o poder público dá a concessão pagando mais ou ele mesmo faz o que se tem que fazer”, acrescenta.
Discrepância
O levantamento da CNT destaca, ainda, a discrepância da qualidade entre as estradas estaduais e federais. Dentre as geridas pela União, segundo a pesquisa, 39,4% estão em condições regulares, ruins ou péssimas. Já as do Estado são 92,7%.
Os dados, porém, são contestados pelo Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER). Em nota, o órgão informou que 66,1% das vias estão em bom estado de conservação, 24,7% são regulares e 8,6% encontram-se em más condições.
Desde 2015, conforme a pasta, foram investidos R$ 2,2 bilhões em obras rodoviárias, incluindo pavimentação, manutenção e ampliação da capacidade de rodovias, pontes e viadutos em todo o território.
Federais
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) foi procurado para comentar o levantamento da CNT, mas não se posicionou até o fechamento desta edição. Porém, na última semana, o Dnit havia divulgou que, embora o orçamento tenha reduzido 28% nos últimos quatro anos, manteve os investimentos na manutenção da malha federal.
Dos 57,2 mil quilômetros de rodovias pavimentadas no Brasil, sob a administração da União, 33,7 mil (59%) estariam em bom estado. O órgão, entretanto, admite queda na qualidade das estradas.
Custo operacional
As más condições das estradas impactam nos custos operacionais do transporte rodoviário. Em Minas, de acordo com a pesquisa da CNT, o acréscimo para os empresários pode chegar a 28,9% por conta de manutenção dos veículos decorrente do desgaste com pneus e freios. Há também aumento no consumo de combustível.
“Tudo isso afeta a população em geral. Os gastos são somados ao valor final do frete e, consequentemente, ao preço dos mais diversos produtos comercializados no mercado”, frisa o vice-presidente da Federação das Empresas de Transportes do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Francisco Costa.
Acidentes
O gestor também destaca que estradas precárias representam riscos para quem trafega pelas pistas. “Desastres são comuns por causa de um buraco, por exemplo. A atenção precisa ser redobrada”, diz.
No ano passado, conforme a pesquisa CNT, acidentes custaram cerca de R$ 10,8 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). Os gastos, ainda segundo o levantamento, foram maiores que os investimentos feitos na malha rodoviária brasileira no mesmo período, que chegaram a R$ 8,3 bilhões.
Prevenção
O vice-presidente da Fetcemg diz que, em meio a esse cenário, a alternativa é buscar formas de prevenção. Os motoristas da transportadora do qual é proprietário foram capacitados em direção defensiva.
Além disso, a empresa faz levantamentos dos trechos críticos no território mineiro. Os pontos são encaminhados para cada funcionário, que passa a ter mais atenção ao passar pelos pontos com problemas. “No nosso caso, há três anos não registramos acidentes com a frota”, conta Vander Francisco.