De um balanço econômico vem mais um indício de como as barragens de rejeito de minério de ferro em Mariana, na região Central de Minas, sofreram maior “pressão” em 2015. O município foi o líder em geração de royalties no setor, com R$ 104 milhões (ficando a prefeitura com 65% – R$ 67 milhões). Na mesma proporção, também gerou mais rejeitos do processo de extração.
O preço do minério registrou forte desvalorização no mercado internacional, com o valor médio da tonelada passando de US$ 96,8 em 2014 para US$ 55,5 no ano passado, numa queda de 42,6%.
Mas, em Mariana, o caixa acabou compensado graças à intensificação na produção, especialmente das duas maiores mineradoras instaladas no município: Samarco e Vale.
Esse movimento já havia sido iniciado há dois anos, quando a própria Samarco elevou em 32% (5,4 milhões de toneladas métricas) o volume depositado anualmente nas barragens em Mariana.
Dentre essas estruturas de contenção estava a de Fundão, que rompeu no início de novembro. A avalanche de lama matou 17 pessoas e causou prejuízo ambiental incalculável.
Ponderação
Especialistas não veem problema em ampliar a produção, desde que haja garantia de estabilidade das estruturas de destinação dos resíduos. O aumento do depósito de rejeitos em Fundão é investigado pelo Ministério Público Estadual como uma das possíveis causas do rompimento da barragem.
Quando ocorreu o desastre, Fundão passava por obras de alteamento. “Não estou falando especificamente da Samarco, mas de barragens de modo geral. Se for programado e projetado, não tem problema na estabilidade (a oscilação de volume depositado). Se for emergencial, pode ser problemático”, disse o consultor Joaquim de Ávila.
Diretor do Comitê Brasileiro de Barragens, Ricardo Aguiar Magalhães também não vê restrição na aceleração do depósito de rejeitos, mas aponta ressalvas. “Pode sofrer variação e não causar problema, desde que a estrutura esteja pronta e alteada para isso”, diz.
Volume
Apenas a Samarco foi responsável por depositar 21,9 milhões de toneladas métricas secas de rejeito de minério de ferro, em 2014, contra 16,5 milhões em 2013.
O último dado de produção disponibilizado pela empresa, de janeiro a setembro de 2015, indica um produção de 22,2 milhões de toneladas, volume 19,3% superior ao mesmo período do ano anterior.