Médico alerta para dor de cabeça por excesso de remédios

Izabela Ventura - Do Hoje em Dia
01/10/2012 às 06:57.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:42
 (André Brant)

(André Brant)

O uso abusivo de analgésicos pode provocar dor de cabeça, em vez de curá-la. Reflexo disso é que a cefaleia causada pelo excesso desses remédios já é considerada uma pandemia mundial. O alerta é de médicos do Instituto Nacional de Excelência Clínica e de Saúde (Nice, na sigla em inglês), da Grã-Bretanha.
 
“Quem ingere medicamentos como aspirina, paracetamol e triptan regularmente pode estar causando mais dor do que alívio”, diz documento elaborado pelo Nice à comunidade médica, no dia 19 de setembro.
 
Segundo o neurologista membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, Ariovaldo Alberto da Silva Júnior, a popularidade da automedicação no Brasil agrava o problema. “As farmácias brasileiras expõem esses remédios como se fossem produtos de desejo e a mídia da indústria de analgésicos não alerta sobre os perigos do excesso”, diz.
 
Ariovaldo, que também é assistente do ambulatório de cefaleias do Hospital das Clínicas da UFMG, salienta não ser errado tomar os remédios para a dor, desde que não se ultrapasse o limite de duas vezes por semana. É considerado abusivo consumir analgésicos comuns em mais de 15 dias por mês, por mais de dois meses; ou analgésicos combinados em mais de dez dias por mês.
 
Dor crônica
 
Quando a dor de cabeça ocorre em mais de 15 dias por mês, por mais de três meses, ela é chamada de cefaleia crônica diária.
 
Além de predisposição genética e do uso abusivo de analgésicos, são fatores de risco ao problema: distúrbios de sono; ter sofrido estresse traumático externo, como divórcio ou perda de um ente querido; e, para o sexo feminino, estar entre os 20 e os 49 anos, faixa que coincide com o período reprodutivo, quando o cérebro feminino fica mais sujeito a variações hormonais.
 
Suspensão

 
Para interromper o ciclo da dor diária por abuso de remédios, médicos recomendam a suspensão abrupta deles, mas reconhecem que é difícil fazer isso sem traumas.
 
Conforme Ariovaldo, a solução é, nos primeiros cinco dias, fazer um tratamento de desintoxicação com outros medicamentos específicos, seguindo orientação médica.
 
“Se a pessoa conseguir parar por conta própria, verá benefícios em duas ou três semanas”, explica.
 
Dois tipos: tensional e enxaqueca
 
O neurologista Antônio Lúcio Teixeira destaca os dois tipos mais comuns de cefaleia: a tensional e a enxaqueca. Estima-se que mais de 70% da população mundial tenham o primeiro tipo em algum momento. Ela não é muito intensa e comum no fim do dia. A enxaqueca é uma dor mais forte, que pode afetar toda a cabeça ou apenas um lado. Vem acompanhada de náuseas, desconforto com a luz e barulho. “A dor de cabeça pode ser sintoma de problemas mais graves de saúde”, alerta Teixeira.
 
Analgésicos fazem parte da rotina
 
Para o empresário Santiago Ferreira Maia, de 49 anos, analgésicos viraram uma forma de prevenir a dor de cabeça. Um perigo, segundo neurologistas. Ele ingere os remédios quase diariamente. “Cheguei a tomar oito comprimidos para dor no mesmo dia”, conta. Há cerca de três anos, ele teve uma crise forte e foi diagnosticado com enxaqueca. “Reduzi a quantidade de remédios, mas ainda não me livrei deles”, diz.
 
A restauradora Jacqueline Anelina Evangelista, de 42 anos, procurou um médico. Ela passa por um bateria de exames para saber a origem das crises de cefaleia. “São tão fortes que minha pressão sobe e vou parar no hospital. Quando os picos ocorrem, chego a tomar quatro comprimidos contra a dor em uma hora”, conta.

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