Quinze mortos e 508 pessoas feridas em oito meses. Esse é o saldo deixado por engavetamentos, colisões e atropelamentos no Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Os dados são da Polícia Militar Rodoviária. Sem obras de revitalização previstas a curto prazo, quem vive às margens da rodovia busca conscientizar a população e alertar autoridades sobre a necessidade de melhorias na via.
Foi o que fez o comerciante Wagner Alves, morador do bairro Jardim São José, na região Noroeste, ao criar um memorial em homenagem às vítimas. O monumento decorado com flores tem uma réplica em miniatura do Cristo Redentor. “Fiquei sensibilizado porque conheci algumas pessoas que perderam a vida aqui”. Ele garante ter perdido a conta de quantos acidentes viu acontecer por ali. Mas nem as ocorrências parecem despertar quem passa pela rodovia.
Casos de imprudência de pedestres, por exemplo, são frequentes, como constatou o Hoje em Dia. A reportagem flagrou um homem atravessando a pista exatamente em frente ao memorial, mesmo havendo duas passarelas a poucos metros do local.
Situações como essas acontecem porque muitas pessoas ainda consideram o Anel como uma via urbana, diz Agmar Bento, professor de segurança viária do Cefet-MG. Para mudar a postura de pedestres e motoristas, avalia o especialista, além da conscientização, é preciso melhorar a infraestrutura da rodovia e reduzir a velocidade.
Outro ponto destacado é a necessidade de respeito às regras de tráfego em estradas com trânsito misto. “Não existe divisão física para o fluxo de caminhões, mas há uma regulamentação que obriga esses veículos a andar na faixa da direita”, acrescenta o professor.
Pedestres se arriscam ao atravessar a via fora das passarelas
Desastre
Foi justamente um acidente envolvendo uma carreta que tirou a vida do jovem Deivid Nobre, em julho de 2015. O rapaz, à época com 20 anos, seguia de moto para o trabalho, no sentido Vitória, quando foi fechado em uma ultrapassagem e jogado embaixo do veículo de carga.
“Nunca conseguimos descobrir nada. A família tentou de todas as formas, até que desistiu de correr atrás”, relata Elisia Pereira, tia de Deivid.
Responsável pelo policiamento no Anel, o tenente Geraldo Donizete diz que a irresponsabilidade é a principal razão dos acidentes. “Pedestres que não usam a passarela, motoristas que exageram na velocidade, caminhoneiros que trafegam pela faixa da esquerda, motociclistas que ultrapassam em local proibido. Pelo menos 90% das ocorrências são por falha humana”.
A prefeitura de BH ainda batalha para assumir a responsabilidade sobre a via. Depois de ter tido o pedido negado pela Justiça, o município recorreu e espera por novo julgamento, em Brasília (DF).
(Colaborou Simon Nascimento)