Mercado de trabalho pode garantir ressocialização de morador de rua

Gabriela Sales - Hoje em Dia
03/03/2015 às 07:21.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:12
 (Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

(Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

O empenho na assistência ao morador em situação de rua, pedido na última semana pelo prefeito Marcio Lacerda às regionais de BH, pode não depender apenas do esforço da fiscalização e da retirada dos pertences desse público.

Dados do 3º Censo da População em Situação de Rua mostram que mais de 70% das pessoas que vivem em logradouros públicos da capital não têm sucesso quando pedem inserção no mercado de trabalho. Essa dificuldade em conseguir emprego pode ser um dos motivos pelos quais 93% dos moradores de rua atendidos por programas sociais prefiram retornar à vida sem endereço fixo.

O coordenador do Censo, Frederico Garcia, acredita que o preconceito na hora de contratar ainda fala mais alto. “Nem mesmo a qualificação profissional assegura essa vaga”, destaca.

O pesquisador observa que um simples registro de endereço de moradia é capaz de determinar o sucesso ou fracasso do abandono das ruas. “A primeira negativa faz com que esse indivíduo, muitas vezes, desista da ajuda de programas sociais. Os acolhimentos são temporários e não oferecem a estrutura familiar de que eles precisam na hora da consolidação do emprego”, explica.

PERMANÊNCIA

Para muitos, a assistência temporária acaba se tornando permanente, na opinião da educadora social da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte Claudenice Rodrigues Lopes. “O indivíduo faz com que esse abrigo seja rotineiro e acaba não saindo das ruas”, relata.

A educadora social assinala que o serviço pode se tornar uma experiência negativa para quem busca a ressocialização. “Dentro dos abrigos, eles passam por falta de privacidade, higiene, entre outras carências. A definição de um espaço permanente é que traria o aspecto familiar, referência perdida por quem vive nas ruas”, ressalta.

Acolhimento

Atualmente, estão disponíveis na capital, 900 vagas entre abrigos, albergues e repúblicas para atendimento social. Além da restrição em horários, não é permitido guardar objetos pessoais. “O espaço é pequeno e a rotatividade é alta, por isso o espaço é um local temporário”, conta Claudenice.

A Secretaria Municipal de Políticas Sociais reconhece que são necessárias parcerias para que haja maior inserção do público no mercado de trabalho. “O estigma ainda é grande e, para combatê-lo, precisamos da ajuda de todos os segmentos da sociedade”, aponta a coordenadora do Comitê de População em Situação de Rua, Soraya Romina.

Quanto à flexibilidade de acesso aos albergues e áreas de acolhimento, a secretaria informou que o serviço avalia cada caso, levando em consideração a necessidade dos assistidos.
 

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