(Eugênio Moraes/)
Mais de 70 dias após a queda da alça Sul do viaduto Batalha dos Guararapes a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) ainda não sabe se a estrutura será reconstruída ou se desistirá da intervenção na avenida Pedro I.
Segundo a PBH, os esforços agora estão voltados apenas para a remoção dos escombros do elevado, demolido na manhã deste domingo (14), e a liberação para o tráfego. Parte do viaduto desabou em 3 de julho, deixando dois mortos e 23 feridos.
A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) não revelou se já há algum projeto para um novo elevado no local. Segundo o coordenador municipal da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas Alves, a prioridade atual é encerrar os trabalhos de remoção do entulho até 21 de setembro, com o uso de diversas tecnologias disponíveis.
A limpeza foi iniciada no domingo, momentos depois da implosão do restante da alça Norte. “Essa técnica faz mais barulho e poeira, mas é mais rápida. É uma operação complicada. Podem ocorrer percalços e atrasos, mas espera-se que no próximo domingo seja resolvido”, disse.
Caso a prefeitura decida reerguer o elevado, moradores da região prometem brigar para evitar a construção de uma nova estrutura. Segundo a advogada dos moradores dos residenciais Antares e Savana e presidente da Associação de Moradores e Comerciantes das avenidas Pedro I e Vilarinho e Adjacências, Ana Cristina Dumont, os moradores sugerem a construção de um memorial no local. “Aqui não tem construção de novo viaduto”, enfatizou.
Implosão
A alça Norte do viaduto Batalha dos Guararapes foi implodida pontualmente às 9h, sem contagem regressiva e durou apenas três segundos. O estrondo, precedido de sirenes, chegou a ser ouvido a dez quilômetros de distância. Uma grande nuvem de poeira se elevou, mas se dispersou rapidamente.
Com 155 metros de extensão, a alça foi demolida com o uso de 125 quilos de explosivos, ao custo de R$ 1,2 milhão. Uma megaoperação foi montada para garantir a segurança no entorno.
Mais de 150 pessoas participaram da organização, entre elas funcionários da empresa contratada para a implosão, representantes da Defesa Civil, policiais militares e bombeiros.
Nenhum dano estrutural foi constatado pela Defesa Civil nos imóveis vizinhos. Os prejuízos foram vidros de janelas quebrados em 61 apartamentos nos condomínios Antares e Savana, devido ao impacto do deslocamento do ar causado pela implosão. Os reparos estão previstos para esta segunda-feira (15) e serão custeados pela Fábio Bruno Construções Ltda, empresa responsável pela operação. O valor do seguro para os consertos é de R$ 1 milhão.
O deslocamento do ar com a implosão do viaduto quebrou vidros de 61 apartamentos, como o de Helena Dias. Fotos: Eugênio Moraes/ Hoje em Dia
A demolição da alça foi necessária devido à constatação de falha na execução da obra. Até 10 de dezembro a apuração será concluída pela Polícia Civil e o caso será encaminhado à Justiça. O prazo para conclusão do inquérito foi prorrogado por mais 90 dias.
Demolição atrai centenas de curiosos
A implosão do viaduto Batalha dos Guararapes foi o espetáculo do domingo para centenas de pessoas. A operação reuniu curiosos e moradores próximos, que filmaram com celulares e câmeras a demolição da alça Norte. Muitos se emocionaram e duas moradoras do edifício Antares chegaram a passar mal.
Nos limites do isolamento, principalmente na avenida Olímpio Mourão Filho, era possível ver até famílias inteiras para acompanhar a implosão. Cristina de Souza, de 38 anos, foi com os dois filhos. “Nós viemos ver. Dá um frio na barriga”, disse momentos antes do estrondo.
O administrador de empresas Marcelo Ramos, de 36 anos, também foi acompanhar a operação. “A implosão é bacana. Tirei fotos. Mas o fato em si é triste. A gente vê as pessoas chorando”, disse.
Muitas pessoas acordaram cedo para acompanhar a demolição do elevado. Foto: Eugênio Moraes/ Hoje em Dia
A militar Mauriceia Saraiva, de 52 anos, também foi ver a demolição. “Achei rápida a explosão. Cheguei até a tomar um susto”, afirmou.
A comerciante Luciane Alcântara, de 52 anos, também acordou mais cedo para acompanhar a operação. “Gostei, foi muito bem feita. Espero que resolva o problema”, afirmou.
Também houve quem aproveitou a oportunidade para lucrar. A proprietária de uma lanchonete na região, Sandra Ameno Salman, de 53 anos, abriu ontem o estabelecimento e lucrou vendendo água e refrigerantes.
Moradores de imóveis mais altos na região também chegavam a oferecer o espaço para fotos a vídeos por valores entre R$ 200 e R$ 600.
Hotel
Apesar da liberação das moradias, muitas pessoas preferiram retornar para o hotel pago pela Construtora Cowan, como a secretária escolar Helena Dias, de 51 anos. Ela alugou um apartamento no Antares há seis meses e disse estar feliz com a implosão. “Esperamos que consertem logo as janelas e possamos voltar para casa. Finalmente ter sossego”, afirmou.
“É um passo para encerrar essa novela”, completou o engenheiro civil Erasmo de Souza Mendes Júnior, de 43 anos, morador do bloco 8 do edifício Antares, um dos mais próximos do antigo elevado. Ele foi com a família acompanhar a operação e vistoriar o imóvel após a implosão.
Moradores temem abalo na estrutura
Mesmo com implosão do viaduto Batalha dos Guararapes, na avenida Pedro I, a luta das famílias afetadas pela tragédia não terminou. Moradores dos edifícios Antares e Savana conviveram mais de dois meses ao lado do que restou do viaduto e tiveram vidros de janelas dos apartamentos danificados ontem. Apesar de comemorarem a operação, o temor agora é a trepidação causada pela remoção dos escombros.
A advogada dos moradores dos residenciais Antares e Savana e presidente da Associação de Moradores e Comerciantes das avenidas Pedro I, Vilarinho e Adjacências, Ana Cristina Dumont, pede que o trabalho das máquinas seja cuidadoso para não afetar a estrutura dos prédios. “Essa ação causa trepidação. A pressa tem que vir junto com a segurança”, alertou.
Antes da operação, mais de 570 imóveis, em um raio de até 200 metros do viaduto, foram desocupados. Faltando dez minutos para a implosão, a Defesa Civil ainda retirava algumas pessoas das residências. Elas foram liberadas para retornar cerca de meia hora depois.
A remoção dos escombros começou no domingo mesmo, após a implosão da alça Norte; pista da Pedro I deve ser liberada no próximo dia 21. Foto: Samuel Costa/ Hoje em Dia
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Outro ângulo
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Confira algumas imagens dos bastidores, da implosão e após a operação