Minas na rota do tráfico internacional de pessoas

Renato Fonseca - Do Hoje em Dia
02/07/2012 às 10:22.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:15
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O desejo de conquistar fama e riqueza no exterior alimenta uma indústria criminosa que faz do mineiro uma das principais vítimas. Minas Gerais é a segunda rota no Brasil para o tráfico internacional de pessoas – atrás apenas de Goiás. Entre 1999 e 2011, a Polícia Federal (PF) instaurou 51 inquéritos no Estado, que incluem aliciamento para prostituição, adoção ilegal e trabalho escravo.

Nesse período, 108 pessoas foram indiciadas, mas apenas seis permanecem presas, conforme o Ministério da Justiça. A PF evita comentar os números e dar detalhes, mas garante que investigações estão em curso.

O medo e o constrangimento dificultam as apurações. Além disso, os parentes das vítimas preferem o silêncio por acreditar que não se trata de um crime, mas de uma decisão particular.

O tráfico internacional de pessoas só perde em lucratividade para o contrabando de drogas e armas de fogo, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU). A estimativa é a de que pelo menos R$ 20 bilhões sejam movimentados por ano.

Quem sonha com uma vida melhor em terras estrangeiras paga caro. Os “agenciadores” chegam a cobrar até R$ 20 mil para despachar e garantir hospedagem em outro país. Em Minas, a maioria dos aliciados são mulheres, travestis e transexuais.

Contêineres

Também há casos de homens enganados, como Q.A., de 35 anos. A viagem dos sonhos rumo à Europa virou pesadelo. A frustração ocorreu há dez anos, mas, até hoje, ele se lembra com chateação dos nove dias em que ficou na Irlanda.

O rapaz partiu rumo ao Velho Continente após acertar, por telefone, a viagem e o trabalho em um restaurante com a conhecida de uma amiga. Chegando ao local, foi informado de que a vaga estaria ocupada e que lhe restava descarregar contêineres.

Dias depois, a mesma mulher que ofereceu o emprego queria reter o passaporte dele. Desconfiado, na mesma noite Q.A. trocou a passagem de volta para o Brasil. “Sabe-se lá o que ela faria comigo. Não quis arriscar”, afirma.

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