Janeiro Roxo

Minas registra mais de 1,1 mil casos de hanseníase e reforça importância do diagnóstico precoce

Sem o devido tratamento, doença pode causar graves sequelas

Do HOJE EM DIA
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Publicado em 19/01/2025 às 12:38.

Mais de 1,1 mil casos de hanseníase foram registrados em Minas em 2024, aponta relatório do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Na tentativa de conscientizar a população sobre a doença, já que pacientes ainda enfrentam preconceito - antigamente a enfermidade era conhecida como lepra -, ocorre nesse mês o Janeiro Roxo. 

A campanha busca informar sobre os sinais e sintomas, a importância do tratamento precoce e o papel crucial da saúde pública na erradicação da hanseníase, que é infecciosa, contagiosa e afeta a pele e os nervos da pessoa. Sem o devido tratamento, pode causar graves sequelas.

Por se tratar de uma bactéria, as formas de contaminação se assemelham às demais doenças, sendo a principal a transmissão por meio de gotículas respiratórias de uma pessoa doente sem tratamento e o contato prolongado próximo. Vale ressaltar que apenas o contato físico, como apertos de mão e abraços, não transmite a hanseníase - muitas pessoas possuem imunidade natural, fator que reduz o risco de adoecimento.

Principais sintomas

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em caso de contaminação, a pessoa poderá apresentar manchas claras, avermelhadas ou escuras na pele, com alteração ou perda de sensibilidade (térmica, tátil e dolorosa). 

Também fazem parte do quadro o surgimento de áreas da pele sem pelos ou com diminuição de suor; formigamento ou dormência em extremidades (mãos e pés); diminuição da força muscular, levando às deformidades e lesões em nervos periféricos (conectados à cabeça), ou seja, a face, os olhos, o nariz, os músculos e os ouvidos ao cérebro (nervos cranianos). Com a evolução da doença essas extremidades podem sofrer engrossamento.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico pode ser realizado de três formas distintas. Sendo que a primeira requer que o paciente realize um exame clínico passando por uma avaliação das lesões da pele e testes de sensibilidade. Outra forma é avaliação neurológica, a qual o toque dos nervos pode identificar alterações dor ou espessamentos e, caso necessário, são feitos exames laboratoriais, como o qPCR em tempo real, exame que é realizado na Fundação Ezequiel Dias (Funed) desde 2024 e se baseia na biópsia da pele.

Após análise e confirmação da hanseníase, inicia-se o tratamento medicamentoso por meio da Poliquimioterapia Única (PQT-U), que se baseia na associação de três antimicrobianos: Rifampicina, Dapsona e Clofazimina. De acordo com a SES-MG, a duração desse procedimento pode variar de seis à doze meses e, com o devido tratamento, a hanseníase é curada, evitando sequelas e problemas no futuro.

Em alguns casos, o paciente pode apresentar uma reação inflamatória chamada Eritema Nodoso Hansênico (ENH), também curável e caracterizada por febre, mal-estar e nódulos corporais. Como primeira escolha de tratamento para essa reação, utiliza-se o medicamento à base de talidomida, produzido pela Funed.

Papel da Funed

De acordo com a servidora e farmacêutica do Serviço de Farmacovigilância e Estudos Clínicos (SFEC), Paula Drummond, a talidomida é produzida pela Funed desde 1970, sendo a única fabricante do medicamento no Brasil e distribuindo exclusivamente ao SUS. 

“O papel do laboratório oficial se faz essencial no atendimento às demandas do SUS no que se refere às doenças como a hanseníase, que são consideradas doenças negligenciadas. Os laboratórios privados não têm interesse na fabricação de medicamentos para esse tipo de doenças”, afirma Paula.

Em 2024, foram produzidas 5,1 milhões de comprimidos de Talidomida encaminhados para o Ministério da Saúde. A servidora destaca a importância da produção desse medicamento, especialmente diante do estigma associado à hanseníase. 

“A produção de Talidomida pela Funed é fundamental para garantir assistência à saúde integral dos pacientes que sofrem um estigma muito grande com a doença. Além disso, o próprio medicamento é estigmatizado, dado seu histórico trágico cujo início do uso foi marcado pela ocorrência de diversos casos de malformação fetal na década de 1960, o que pode tornar o tratamento ainda mais complicado”, completa Paula. 

No entanto, a legislação brasileira prevê de forma bastante rigorosa o controle do uso da talidomida, para que não ocorram casos desse tipo. “As pacientes em idade fértil, por exemplo, devem evitar a gravidez todos os meses antes de terem acesso ao medicamento nas unidades dispensadoras e ainda fazer o uso de dois métodos contraceptivos, sendo um deles de barreira (como a camisinha)”, explica.

Para controle de eventos adversos são adotados o monitoramento dos sintomas dos pacientes e o manejo de dose que podem prevenir o agravamento do quadro, além de ser necessário o uso de medicamentos preventivos de trombose em alguns casos. “Seguindo esse protocolo, os riscos e eventuais prejuízos em decorrência do uso do medicamento são compensados em termos da qualidade de vida do paciente”, ressalta.

* Com informações da ASCOM Funed

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