Minas tem quase 60 crimes cibernéticos por dia; veja comportamentos de risco

Liziane Lopes
llopes@hojeemdia.com.br
Publicado em 21/11/2016 às 11:57.Atualizado em 15/11/2021 às 21:44.
 (Marcello Casal Jr. )
(Marcello Casal Jr. )

56 consumidores são alvos de crimes cibernéticos diariamente em Minas Gerais, o equivalente a 2,3 vítimas por hora. É um crescimento de 20% sobre o registrado em 2015, quando 46,56 pessoas foram lesadas por dia no  Estado. Este ano, até outubro, foram 16.558 casos, frente a 16.997  no ano passado, segundo levantamento da Polícia Civil. Às vésperas da Black Friday, quando muitos consumidores vão às compras em busca de promoções pela internet, o cuidado deve ser redobrado. 

Os números comprovam que os hackers fazem vítimas em todo mundo. Segundo relatório anual da Norton Cyber Security Insights, da Symantec, empresa mundial de segurança cibernética, mais de 750 milhões de pessoas foram lesadas este ano em 21 países.  E o problema pode ser ainda maior, por causa dos maus hábitos dos usuários. Assim, consumidores que foram vítimas do cibercrime no ano passado podem ser vítimas de novo em 2016. 

O levantamento internacional constatou que o descuido do usuário com a própria segurança é cada vez maior. Ele é afetado diretamente por meio de phishing (mecanismo para roubar dados), dispositivos de Internet das Coisas e de redes Wi-Fi. Mesmo assim, muitos estão dispostos a clicar em links de remetentes desconhecidos ou anexos maliciosos. O levantamento aponta que 30% das pessoas não conseguem detectar um ataque de phishing (aquele que pode chegar de um suposto banco, solicitando a atualização de dados, por exemplo). 

A pesquisa mostra ainda que 76% dos consumidores sabem que devem proteger as informações on-line, mas ainda compartilham senhas e têm comportamentos de risco. "Enquanto os consumidores continuam complacentes, os hackers estão refinando habilidades e adaptando golpes", alertou Fran Rosch, vice-presidente executivo da Norton Business Unit da Symantec.

De acordo com Rosch, os hackers aprenderam a se beneficiar das mídias sociais e agora trabalham para ter acesso a dispositivos domésticos conectados. Pesquisadores da Symantec identificaram vulnerabilidades de segurança em 50 dispositivos domésticos, que se tornariam alvos fáceis para ataques.

Como se proteger

A delegada Renata Ribeiro, da Delegacia de Crimes Cibernéticos, relata que a maioria dos casos sob investigação estão relacionados a estelionato, atualizações de boletos e contra a honra. De acordo com ela, o consumidor tem que evitar abrir links e e-mails suspeitos com supostas promoções ou atualizações de dados por exemplo. Outra dica é sempre realizar compras em sites seguros. Para conferir, é preciso verificar o cadeado que aparece sempre do lado esquerdo da página, na parte de cima da tela. Vale também fazer buscas em sites de reclamações para verificar se tem algum problema quanto ao site pretendido. Ligar para a empresa do site também pode ajudar.

Para quem teve os dados roubados, a recomendação é ter em mãos todos os documentos que comprovem a fraude e procurar uma delegacia especializada. A pena para quem invade um sistema de segurança na internet pode chegar a um ano de prisão. Já quando inclui estelionato, que é usar esses dados de forma fraudulenta, a pena pode ser de até 5 anos de prisão. E segundo a delegada, por causa da tecnologia usada atualmente, o criminoso não fica mais impune. "É possível fazer o rastreamento. Todo crime deixa um vestígio", explica. 

Relatos das vítimas

Uma moradora de Belo Horizonte que pediu para não ter o nome publicado contou que sempre realizou compras pela internet. Hoje ela precisa andar constantemente com um boletim de ocorrência da polícia, após ter os dados roubados. Segundo a vítima, uma estelionatária chegou a realizar compras no valor total de R$10 mil reais. E ela só ficou sabendo da fraude após receber uma ligação de uma empresa de telefonia informando que duas linhas telefônicas haviam sido habilitadas no nome dela. Assustada, a vítima procurou pela polícia e também pela Serasa. Lá descobriu que estava com o nome "sujo" por causa de outras compras. "Uma gerente de uma loja chegou a me ligar falando que a mulher estava lá realizando compras em meu nome, pedi pra ela chamar a polícia, mas ela liberou a suspeita", desabafou. 

A vítima contou ainda que a estelionatária, além das compras, pegou empréstimo e fez arté curso de inglês no nome dela. Para se ver livre da criminosa, ela fez acordo com algumas empresas, entrou com ações na Justiça e a Serasa colocou um alerta para as lojas. "Na época, eu estava comprando apartamento e recusaram a venda, tive que entrar com ação na Justiça. É muito ruim essa situação. As pessoas olham pra você e acham que você é má pagadora. Isso é uma carga pra toda vida", explicou. 

Outra vítima que também preferiu não ter o nome divulgado contou que os criminosos que roubaram seus dados tentaram comprar um carro em São Paulo, onde ela nunca tinha ido. Ela ficou sabendo da fraude após receber a ligação de uma atendente de uma banco, falando que precisava confirmar os dados para aprovar um crédito de R$15 mil para a compra de um carro. "Eu falei que não havia solicitado nenhum crédito e que morava em BH. Ela falou que um casal estava na agência de carros com o meu documento comprando o carro", contou. Como ela foi alertada antes por telefone, conseguiu impedir a fraude. Mas outras tentativas ocorreram na sequência. Em uma delas, ela ficou com nome "sujo" por causa de uma conta de telefone, que ela não tinha usado. "Precisei acionar a Justiça para que a empresa pudesse tirar o meu nome da lista de maus pagadores", explica.

* O Norton Cybersecurity Insights Report é uma pesquisa on-line de 20.907 usuários de dispositivos em 21 mercados. Os dados foram coletados de 14 de setembro a 4 de outubro de 2016 pela Edelman Intelligence.

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