A busca por água tirou o valadarense da cama cedo, neste domingo (15). O dia de descanso foi substituido por longa espera em filas quilométricas, debaixo de sol quente, e por idas e vindas com baldes cheios nos braços, esforço para garantir água mineral ou potável. “Precisamos estocar, mas estou cansada dessa luta. Não tenho mais idade pra isso”, reclamou Maria Onorato, 73 anos. Governador Valadares, no Leste do Estado, está sem água desde a chegada da lama, na segunda-feira no dia 9.

A aposentada mora no bairro Jardim Perola, onde os caminhões trazendo a água chegaram escoltados pela Policia Militar. Atiradores do Tiro de Guerra ajudavam funcionários do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) a organizar a fila para distribuição de galões de água mineral de 20 litros, com direito ao vasilhame. Para evitar que uma mesma pessoa pegasse mais de um galão, distribuíram senhas. No caminhão-pipa, a distribução era livre.

“Estou sem água em casa há mais de dez dias e sem dinheiro para comprar a mineral porque aumentaram demais os preços. Preciso estocar essa água porque atá o tratamento do rio Doce ficar confiável, não vou beber a que sair das torneiras”, revelou Maria Onorato. O autonomo Adiroldo Rocha, de 49 anos, fazia o mesmo. “O meu dia de descanso foi por água abaixo”, brincou, contando que vai guardar o maximo que puder.

“Mesmo se for tratada, acho perigoso tomar a água do rio antes de seis meses”, diz. Com cinco pessoas em casa e o pai de 75 anos operado, a atendente de lanchonete Amelia Meireles, de 43 anos, parecia desolada. Ela conseguiu encher dois vasilhames de 60 litros de água potável, mas esperava ajuda para levá-los para casa. “Isso é revoltante. A cirurgia do meu pai infeccionou por falta de banhos adequados e estou cansada dessa luta. O tratamento da água tem que funcionar”.

“Esse lugar esta parecendo um campo de guerra com gente brigando por água e policia por todo lado. Tá todo mundo estressado”, comparou o estudante Manuel Silva, de 25. O Cras do bairro Jardim Perola é referência para 17 bairros e neste domingo atenderia mais de 4,7 mil pessoas.

Solidariedade

Além da água em galões e caminhões-pipa, a prefeitura distribuiu água em caixas de 20 mil litros, instaladas em 30 pontos da cidade. Duas foram colocadas na Rua Marechal Floriano, fila que o seguranca Wellington Carlos da Silva, de 30 anos, frequentou mais de três vezes, somente na manhã deste domingo (15). A água não era para ele.

“Levei para um casal de idosos e agora vou atender mais um doente acamado. Tenho caminhonete, bomba e tonéis. Nao conseguiria ficar em casa com tanta gente precisando de ajuda”, disse. Segundo ele, o valadarense nao tem outra alternativa senão acreditar que a água do rio Doce poderá ser tratada.

SAAE

A noticia de que a água do rio Doce poderá ser tratada foi dada pelo governador Fernando Pimentel no sábado (14). Ele entregou à prefeita Elisa Costa (PT) laudo da Copasa que atestou a possibilidade de tratamento. A potabilidade, segundo o diretor do Saae, Omir Quintino, será garantida com o uso de um coagulante natural liquido que acelera a separação entre água e sedimentos, chamado de Polímero de Acácia Negra.

O reagente é 100% orgânico e produzido no Sul do país. O produto será misturado à água antes de iniciar o tratamento nas três ETAS que atendem a sede e nas duas da zona rural. Antes é preciso fazer uma retrolavagem das estações para limpar filtros e equipamentos que estão sujos de lama.

“ A água do rio entra na calha baixa ou nas bombas, ganha o tanque de captacao de agua bruta e depois sobe e entra nos tanques de tratamento, onde recebe o coagulante para decantar todo o barro. Aí o barro e expulso e a água segue para tratamento”, explica Quintino. A expectativa é que a partir desta segunda-feira (16) a água comece a chegar nas partes baixas de Valadares.

A prefeita Elisa Costa (PT) garante que a água do rio Doce será distribuída com 100% de qualidade.

Compartilhar