Moradores dos terrenos da Granja Werneck se acorrentam em frente ao TJMG

Cristina Barroca - Hoje em Dia*
Publicado em 12/08/2014 às 13:37.Atualizado em 18/11/2021 às 03:45.
 (Luiz Costa/Hoje em Dia)
(Luiz Costa/Hoje em Dia)
Dezena de moradores dos terrenos da Granja Werneck, na região do Isidoro, zona Norte de Belo Horizonte, se acorrentaram em frente ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais nesta terça-feira (12). Os manifestantes protestam contra a ordem de despejo de oito mil famílias expedidas pela Justiça. O cumprimento da decisão  e reintegração de posse pode ocorrer a qualquer momento. Na segunda-feira (11), os manifestantes estiveram na frente do Palácio da Liberdade. Nesta quarta-feira (13) será realizada uma audiência pública pela Comissão de Direitos Humanos para debater a situação das ocupações, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
 
O objetivo é pressionar para que a ordem de despejo das oito mil famílias que vivem na região sejam suspendidas e que representantes do movimento sejam recebidos pelo presidente do TJMG, Pedro Bitencourt, e pelo governador Alberto Pinto Coelho com a finalidade de estabelecer uma mesa de negociações.
 
O movimento busca o diálogo para que algumas das propostas levantadas em reunião com a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos na segunda-feira (11) sejam levadas em consideração. Entre as propostas apresentadas está a inclusão das famílias no programa Minha Casa, Minha Vida, mesmo que seja em outro terreno. Uma alternativa, sugerem os líderes dos ocupantes, é reduzir a área invadida, garantindo a permanência apenas de quem tenha renda de zero a três salários mínimos.
 
"Estamos muito preocupados e entendemos que as autoridades não têm consciência da real situação da área. Os moradores vão resistir e a polícia não está preparada para uma operação desse tipo. Uma grande tragédia está prestes a acontecer pois há crianças, idosos e mulheres no local", lamentou Rafael Bitencourt, membro das Brigadas Populares.
 
O governo federal também promete auxiliar, mas, em um primeiro momento, pede que o prazo de reintegração de posse seja estendido. “Não há para onde essas famílias irem. O município passou alguns galpões, mas não são adequados. A situação é grave e urgente”, diz o ouvidor nacional Bruno Renato Teixeira.
 
 
Audiência pública
 
Nesta quarta-feira (13), a partir das 9h, a Comissão de Direitos Humanos irá se reunir na sede da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para discutir a situação das ocupações da Granja Werneck. O autor do requerimento é o deputado estadual Celinho do Sinttrocel. Para a reunião, foram convidados o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, o procurador-geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, Carlos Andre Mariani Bittencourt, o procurador da República no Estado de Minas Gerais, Edmundo Antônio Dias Netto Junior, a promotora de justiça coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos, Nivia Mônica da Silva, a promotora de justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Controle das Atividades Policiais, Cláudia do Amaral Xavier, a defensora pública Especializada em Direitos Humanos, Coletivos e Socioambientais, Cleide Aparecida Nepomuceno, o assessor da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais, Frei Gilvander Luís Moreira, a secretária Municipal Adjunta de Regulação Urbana, Branca Macahubas Cheib, a coordenadora da Ocupação Rosa Leão, Charlene Egídio, a coordenadora da Ocupação Esperança, Edna Gonçalves Dias, e a coordenadora da Ocupação Vitória, Elielma Carvalho do Nascimento.
 
 
Tensão
 
Nessa segunda-feira, os cinco acessos ao acampamento Rosa Leão foram fechados com barricadas. Pneus, telhas, sacos de terra e até pedras impedem a entrada de veículos. A informação é a de que ninguém deverá sair das casas para ir trabalhar. “Nós vamos resistir. Nossa arma é o número elevado de pessoas e a força da nossa voz”, diz uma das líderes da ocupação, Charlene Cristine Egídio. Lá, moram 1.500 famílias. São pelo menos 900 crianças. Em todo o Isidoro são 8 mil famílias.
 
Na tarde de domingo (10), houve tumulto entre invasores do Rosa Leão e militares no cruzamento das ruas Leila Diniz e Raul Pompéia. Os ocupantes acusam a PM de efetuar disparos. Balas de borracha também teriam sido usadas. Em nota, a PM informou que “integrantes da invasão obstruíram as vias de acesso e que os moradores da região, que utilizam as ruas, teriam acionado a corporação. Militares teriam ido ao local para restabelecer o fluxo de veículos e mesmo tendo sido recebidos por pedradas e tiro, conseguiram desocupar as vias”, informa o documento.
 
Reforço
 
A Polícia Militar intensifica a preparação para cumprir a determinação de tirar 2.507 famílias de uma área conhecida como Isidoro. O terreno, da prefeitura, é destinado à construção de moradias do programa Minha Casa, Minha Vida, e foi invadido há um ano e três meses. Na segunda-feira, mais 400 policiais militares do interior do Estado chegaram à capital e receberam treinamento especial no estádio Independência.
 
Eles se juntam a outros 1.500 militares já designados para o cumprimento da ordem de despejo. Uma fonte da PM informou que a ação deveria ocorrer ainda na madrugada desta terça-feira.
 
Ação civil
 
Uma ação civil pública já tinha sido proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da Promotoria de Direitos Humanos, com o objetivo de garantir o direito à moradia pra as famílias que vivem nos acampamentos Rosa Leão, Esperança e Vitória, localizadas na região Norte de Belo Horizonte.
 
A proposta objetiva também a transparência de informações no que se refere à realização de perícia para esclarecer a metragem da área em ocupação, sua real localização e o tipo de denominação legal de parte dela. O MP busca clareza sobre uma porção da Ocupação Rosa Leão; se ela é ou não de interesse público, uma vez que foi definida como Zona de Especial Interesse Social (ZEI) em 2011, mas nenhuma política pública foi realizada no local.
 
O MP questiona que, mesmo apesar da maior parte das ocupações estarem localizadas no município de Belo Horizonte, uma outra parcela considerável das Comunidades Comunidades Rosa Leão e Vitória se encontram dentro do município de Santa Luzia e não só nos limites entre estas cidades. E assim, propõe a perícia para que seja definido o tamanho exato da ZEI, os limites e a posse de cada área.
 
Em uma pesquisa prévia realizada pelo órgão, constatou-se que há presença de população de várias regiões de Minas Gerais, o que demonstra a natureza do interesse não só do município, mas também do Estado, segundo a ação.
 
"Não é necessário ser expert em mapas para se perceber, claramente, que as áreas declaradas como de propriedade, seja pelo Município ou pelos demais autores das reintegrações de posse, se confundem e não há uma clareza em sua delimitação. O local exato em que se encontram as três Comunidades não estão traçados com exatidão", afirma a Promotoria na ação.
 
Atualizada às 14h03.
 
*Com informações das repórteres Renata Evangelista e Thais Oliveira
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