Terminou no início da noite desta quarta-feira (18) uma reunião entre moradores dos distritos atingidos pela tragédia em Mariana, órgãos públicos, Governo do Estado, movimentos sociais e representantes da Samarco Mineradora. A principal queixa dos desabrigados é sobre o desconforto de viver em hotéis e casas alugadas pela empresa.
Coordenador de Desenvolvimento Sócioinstitucional da Samarco, Estaneslau Klein, garantiu que as ações emergenciais estão sendo tomadas e disse que é preciso aguardar as soluções temporárias para construir um “processo definitivo”.
Segundo ele, pelo menos 400 funcionários da empresa estão empenhados em atender as vítimas dos distritos de Mariana, entre eles Bento Rodrigues e Paracatu de Cima e de Baixo, atingidos pela enxurrada de lama proveniente da barragem de Fundão.
“Estamos pensando no processo de reassentamento, mas agora vamos trabalhar com as questões emergenciais para que as pessoas tenham tranquilidade para iniciar um diálogo”, explicou.
Moradora de Mariana há dez anos e proprietária de uma pousada na cidade, Patrícia Simões Baeta da Costa denunciou as condições precárias em que as pessoas estão sendo mantidas nos locais disponibilizados pela mineradora. Segundo ela, faltam estrutura nos hotéis e diálogo entre os representantes da empresa e as vítimas.
“No meu modo de ver, a Samarco está empurrando com a barriga as decisões. Uma empresa lucrativa ainda não ter tomado nenhuma atitude? Está todo mundo deprimido, deitado, enrolado em colchões. Eu converso com muita gente na cidade e todos reclamam”, detalha.
Coação
De acordo com ela, funcionários da empresa de mineração estariam coagindo as pessoas. “A gente tem informações de que as pessoas estão tristes, deprimidas e com medo. As pessoas estão sendo pressionadas a não aderir aos movimentos sociais, do contrário deixariam de ser indenizadas".
Representante da Samarco na reunião, Estaneslau Klein negou as acusações e reafirmou que o diálogo vem sendo mantido. “A empresa preconiza o diálogo social e a participação. Entendemos que construir conjuntamente é o melhor caminho. A atuação da Samarco é totalmente transparente. Todas as reuniões são de ciência da prefeitura, da Defensoria Pública, do Ministério Público e demais órgãos envolvidos”, afirmou.
Cartão salário
Anunciado no último fim de semana, o pagamento de um salário mínimo a cada uma das famílias desabrigadas – acrescido de 20% do valor total para cada dependente – deverá ser feito até o próximo dia 3. O benefício, concedido por meio de um cartão magnético, poderá ser sacado e utilizado de maneira individualizada por cada morador. O prazo é de 12 dias úteis contados partir da última terça-feira (17).
Novo povoado
O subsecretário estadual da Casa Civil, Rômulo Ferraz, também participou da reunião, que durou mais de quatro horas. Segundo ele, a Companhia de Habitação de Minas Gerais (Cohab) não irá intervir na construção de um novo povoado, como reivindicam os moradores de Bento Rodrigues.
“A princípio não há previsão ou possibilidade, nem a necessidade, pois as tratativas que têm sido capitaneadas pelo Ministério Público e defensoria são no sentido de que a própria empresa disponibilize não só os recursos, mas as condições para a construção dessas moradias”, afirmou.
Ainda de acordo com ele, o Estado tem se colocado como uma espécie de mediador para evitar conflitos entre as partes envolvidas.
Até esta quarta-feira, 1147 moradores haviam se cadastrado na Assistência Social de Mariana. Deste total, 944 foram confirmadas como sendo vítimas do acidente com a barragem da Samarco, 566 estão em hotéis e 388 em casas de família. Apenas cinco famílias estão em imóveis alugados pela mineradora.