(Frederico Haikal)
Do alto do Mangabeiras, com a cidade aos pés, o papa João Paulo II (1920-2005) atraía milhares de fiéis para uma missa celebrada na então praça Israel Pinheiro. Na Pampulha, era inaugurado o estádio Jornalista Felippe Drummond, o Mineirinho – uma das maiores arenas da América do Sul. Na região central, o Arrudas, símbolo de poluição e enchentes, começava, com as obras de canalização, a desaparecer da paisagem.
Mas não eram somente esses os principais acontecimentos de Belo Horizonte no início da década de 80. Na época, a cidade passava pela maior transformação viária da história, com a implantação do Projeto da Área Central (Pace), da extinta Empresa de Transportes Urbanos da Região Metropolitana de BH (Metrobel). Praticamente toda a circulação no perímetro da avenida do Contorno foi modificada, obrigando motoristas a reaprender a dirigir na capital.
Passadas três décadas, novamente os condutores encararam outras formas de andar pelas vias de BH. Desde 1980, nunca houve tantas alterações no trânsito como agora: proibido virar à esquerda, alteração do sentido de direção, novos e mais distantes retornos, pistas estreitadas e até a implantação de mão-inglesa, só para ficar em alguns exemplos.
Sete mudanças
Em menos de três meses, importantes corredores de tráfego passaram por sete mudanças. Só na primeira quinzena de janeiro foram quatro. O transtorno, porém, não está restrito aos motoristas. Usuários do transporte coletivo também sofrem: 128 linhas de ônibus tiveram itinerários ou pontos de embarque/desembarque alterados.
Responsável por gerenciar o tráfego na metrópole, a BHTrans garante que as modificações são baseadas na “análise criteriosa de estudos de engenharia de tráfego”. O objetivo é buscar um rumo para o trânsito, dando mais fluidez e mobilidade, a fim de garantir a implantação do transporte rápido por ônibus (BRT), agora chamado de Move, na área central de BH.
Intervenções essas que dividem opiniões. De um lado, a esperança de melhorias que dependem desse transtorno inicial. Do outro, a descrença em soluções que possam desatar o nó do trânsito. Há divergências até entre os chamados especialistas da área.
O engenheiro e consultor Frederico Rodrigues é categórico. Para ele, as alterações são “ótimas”, pois eliminam conversões à esquerda, tendo sido planejadas com simulação de tráfego. “Tenho conhecimento dessas simulações. Foram estudadas várias alternativas e essas são as que mais se adequam”.
A escolha do mês de janeiro, por ser uma época de férias, também foi acertada. “Quando o tráfego aumentar, as pessoas já se acostumaram”, acrescenta.
Na marra
Já para o especialista em urbanismo e consultor em engenharia de tráfego José Aparecido Ribeiro, as soluções encontradas pela BHTrans são “meramente paliativas” e pouco vão contribuir para a mobilidade urbana. “Estão querendo obrigar as pessoas a largar os carros e a usar o transporte coletivo. É obvio que a solução para o trânsito passa pelo transporte público, mas o BRT não tem apelo para isso. Somente um metrô eficiente ou mesmo outras alternativas, como o monotrilho”, aponta Ribeiro.
A intervenções fazem parte de um amplo cronograma de obras, que foi iniciado nas avenidas Santos Dumont e Paraná. “Todas as intervenções foram priorizadas para seguir um cronograma que viabilizasse a execução, minimizando ao máximo o impacto à população”, mostra nota enviada pela BHTrans. Segundo a empresa, a escolha de janeiro busca minimizar impactos.