MPF denuncia 22 pessoas por tráfico internacional de drogas

Hoje em Dia*
02/09/2014 às 17:18.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:03

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou 22 pessoas por associação para o tráfico internacional de drogas adquiridas no Paraguai, Bolívia e Peru. Onze delas também foram acusadas de tráfico internacional e três de associação para o financiamento ao tráfico.   A atuação do grupo, que tinha sede em Juiz de Fora, na Zona da Mata, com ramificações em outros estados brasileiros, foi desvendada por uma investigação que culminou na realização de uma das maiores operações dos últimos anos, a Operação Athos, deflagrada em 10 de junho deste ano. Foram mobilizados 250 policiais federais para o cumprimento de 22 mandados de prisão preventiva, 38 de busca e apreensão e nove conduções coercitivas [quando a pessoa é detida para prestar informações].   A denúncia, de 389 páginas, relata que o aprofundamento dos trabalhos investigativos permitiu desvendar os meandros de um grupo criminoso com alto poder econômico e de influência, apontado como um dos principais traficantes de drogas no país.   A organização era composta por núcleos, que, apesar de distintos, operavam de maneira coordenada e sistemática. Foram identificados dois núcleos fornecedores das drogas, um núcleo distribuidor, um núcleo comprador e um núcleo financeiro, que fomentava a atividade ilícita dos demais e auxiliava na ocultação patrimonial.   Segundo o MPF, os grupos gravitavam em torno do núcleo distribuidor, cuja base operacional era a cidade de Juiz de Fora e era comandado por Peterson Pereira Monteiro, vulgo Zói, traficante conhecido na região e grande fornecedor de drogas em favelas cariocas como as do Acari, Maré, Rocinha e Morro do Alemão.   Em suas atividades, Peterson Monteiro era auxiliado pelos também denunciados Seluniel Anselmo Farias, seu braço-direito e um dos responsáveis pela logística da organização; Pedro Henrique Silva Gomes (Pepê), responsável, entre outras funções, pela revenda da droga nas cidades vizinhas a Juiz de Fora/MG; por sua esposa Lívia Maria Bergamini, que atuava no apoio logístico e intermediando contatos entre os traficantes; Rafael Gustavo Ribeiro, homem de confiança e braço operacional do núcleo distribuidor; Claudiomar Ferreira, que além de auxiliar na distribuição, possuía sua própria rede de tráfico; Bruno Silva dos Santos, conhecido traficante carioca que se transferiu para a cidade de Juiz de Fora e ajudava no transporte e na venda da droga aos chefes do tráfico nas favelas do Rio de Janeiro; William Silas Leite, cunhado de Peterson e considerado o “braço armado” do grupo; e Luiz Fernando da Rocha Silva, que atuava como motorista.   Fornecedores  A droga, em especial cocaína, mas também significativas quantidades de maconha, era adquirida dos núcleos comandados por dois traficantes com extensa ficha criminal: José Severino da Silva, que operava a partir dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Triângulo Mineiro, e Álvaro Daniel Roberto, cuja base de atuação era o interior do estado de São Paulo.   José Severino da Silva, o Cabecinha, foi inclusive investigado pela agência americana antidrogas, Drug Enforcement Administration (DEA), que o considerou de “alta periculosidade”.   Nas atividades do núcleo, Cabecinha contava com o apoio do acusado Wilson Souza da Silva e dispunha de toda uma estrutura de aquisição, transporte e distribuição de drogas a partir da Bolívia, país onde fora proprietário de uma fazenda nas imediações de Puerto Suarei, na fronteira com o Brasil.   O outro denunciado, Álvaro Daniel Roberto, o Caipira, é considerado um dos mais expressivos traficantes com atuação no território nacional, com capacidade para internalizar grandes carregamentos de cocaína a partir da Bolívia e do Paraguai.   O núcleo comandado por ele tem como base logística o interior do estado paulista, nas imediações dos municípios de Aguaí, Vargem Grande do Sul, Paulínea e Limeira, e conta com o apoio operacional dos denunciados Vítor Mendes Moreschi, Fábio Vicente Carvalho e Ivan Aparecido Martins.   No final de 2013, Álvaro Daniel foi preso em Fortaleza, Ceará, em função de um mandado de prisão resultante de condenação por tráfico de drogas em Paulínia, São Paulo. A partir daí, os integrantes da organização empenharam-se para conseguir sua transferência para Juiz de Fora, o que, segundo a denúncia, lhe permitiria “ficar próximo ao núcleo principal da associação criminosa denunciada, notadamente do traficante Peterson Pereira Monteiro, seu mais expressivo cliente na compra de drogas e armas, facilitando o fluxo de informações e o planejamento operacional das atividades criminosas do grupo”.   Após transferir-se para a cidade, em 23 de março deste ano, Álvaro Daniel Roberto foi contemplado com o benefício de prisão domiciliar, o que facilitou sua fuga. Ele ainda se encontra foragido.   Compradores e núcleo financeiro  A denúncia aponta como maiores compradores das drogas comercializadas por Peterson Pereira os traficantes cariocas Carlos Sandro Simen Poeis, dono de uma extensa rede de contatos na capital fluminense, e seu filho, Sávio Silva Simen.   Estudante de medicina na cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, Sávio Simen foi apontado nas investigações inclusive como traficante de armas pesadas, que são adquiridas por ele na Bolívia e negociadas no Brasil. Segundo as apurações, ele possui sua própria rede de distribuição de drogas e seus próprios clientes, mas utiliza o mesmo local de armazenamento do pai e o mesmo fornecedor, Peterson Pereira Monteiro.   Por fim, a denúncia descreve o modo de atuação do núcleo financeiro, comandado pelo acusados Aurélio David Salgado e Saulo Marion Silva Gomes, com o apoio operacional de Jéferson José Nazarias e Jean Jacques da Rocha Moreira, que são utilizados por Aurélio e Saulo como intermediários nas negociações ou mesmo como “laranjas”.   As investigações constataram que Aurélio Salgado utilizava suas três empresas para financiar o tráfico, por meio da venda de bens móveis e imóveis aos demais criminosos. Os bens ficavam registrados no nome de Aurélio ou como integrantes do patrimônio de uma de suas empresas, embora pertencessem de fato aos traficantes.    Por sinal, merece destaque o poderio econômico da organização, dona de impressionante patrimônio, estimado, pela Polícia Federal, em cerca de 70 milhões de reais, que inclui cinco aeronaves, um jet-ski, quatro lanchas, 11 imóveis e 14 veículos, vários deles de luxo, além de valores e ativos depositados em instituições bancárias em titularidade de 28 CPFs e quatro CNPJs.   Prisões O MPF pede, na denúncia, que a Justiça Federal mantenha as prisões preventivas dos acusados, como “única medida hábil à garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal”, para evitar não apenas “a fuga dos denunciados, mas também a destruição de provas e coação de testemunhas”.   Foi pedida também a manutenção do bloqueio dos bens, para garantir a completa “descapitalização do grupo criminoso, evitando que, mesmo eventualmente condenados e presos, os delinquentes voltem a comandar atividades criminosas, aproveitando-se de seu poderio econômico”. O bloqueio irá viabilizar, também, a perda desse patrimônio em favor da União, conforme prevê a Lei 11.343/2006.   Antes da deflagração da Operação Athos, no curso das investigações, que tiveram início em 2013, a PF já havia apreendido 594 kg de cocaína (pasta base e cloridrato), cerca de uma tonelada e meia de maconha, uma pistola calibre 380, munições, seis veículos, um caminhão, R$ 203,7 mil e US$ 390 mil. Dezesseis pessoas foram presas em flagrante nesse período.   Para o MPF, essas circunstâncias demonstram que “o vínculo existente entre os criminosos não era ocasional, restando comprovado o intuito de permanecerem associados para a prática reiterada de crimes, mesmo após sucessivas e vultosas apreensões realizadas, demonstrando a capacidade organizacional do grupo e o forte amparo econômico com que contava”.   Dos 22 denunciados, encontram-se foragidos os traficantes Álvaro Daniel, Carlos Simen Poeis e seu filho Sávio Simen, Claudiomar Ferreira e Ivan Martins.    William Silas encontra-se preso na Penitenciária de Ribeirão das Neves, na região Metropolitana de Belo Horizonte, em virtude de uma condenação por homicídio qualificado. Os demais acusados estão presos preventivamente na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, também na região Metropolitana da capital.   (*Com MPF)

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por