Na era do 'internetês', tecnologia vira aliada no ensino do português

Letícia Alves
26/09/2015 às 09:02.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:51

“Vlw, entaum vou em ksa blz :)?”. Uma frase como essa nas redes sociais pode colocar professores em estado de alerta. Cheias de abreviações, expressões e emotions, a linguagem da internet ou “internetês”, no entanto, não deve ser vista como a grande vilã do ensino da Língua Portuguesa, defendem especialistas.   Doutor em Linguística Aplicada e Análise do Discurso pela PUC-SP, William Cereja é categórico ao afirmar que a internet não prejudica no processo de aprendizagem. “O uso da língua nesses gêneros de tecnologia pode influenciar a escrita de outros gêneros, mas não quer dizer que seja um problema”, afirma Cereja.   O especialista, que falará sobre o tema hoje na Educativa 2015, destaca que a criança ou o jovem é capaz de separar os ambientes em que não pode empregar uma comunicação informal, como a utilizada no WhatsApp.   O uso dos diferentes tipos de gêneros textuais apenas amplia o papel do professor, que deverá esclarecer aos alunos o emprego adequado de cada um. “É preciso mostrar que algumas coisas que vêm desses outros universos não são adequadas para certas situações na escola”, ressalta.   Na sala de aula   Professor de língua portuguesa e produção de texto nos colégios Padre Eustáquio e Santa Marcelina, Fabrício Miguez também considera que os estudantes são capazes de utilizar adequadamente os diferentes tipos de linguagem.   “Mesmo com o advento das novas tecnologias, o aluno sabe bem diferenciar um contexto formal de um informal”, afirma. Nas aulas, segundo ele, cada gênero linguístico tem lugar certo.   Nas provas e redações, os alunos utilizam bem a língua formal e quando a conversa é nos grupos do WhatsApp, as abreviações são recomendadas pelo professor. “Temos um grupo com os alunos de iniciação científica e lá eles sabem que é preciso escrever de forma rápida e o mais rápido possível”, explica.   Para William Cereja, atividades como a desenvolvida por Fabrício podem ser aliadas do ensino. Outras também podem ser inseridas de forma positiva, segundo ele, como o compartilhamento de documentos, pesquisas e mídias por meio da internet. “Os professores estão acordando para isso. Há relatos muito interessantes de uso do Facebook na educação. Esses meios são muito ricos”.   Aulas de artes mais práticas e interessantes com o uso de celulares em escolas de BH   Sem um direcionamento adequado, o uso de celulares em sala de aula pode conturbar. Mas ele deixou de ser um problema nas aulas de arte, onde a tecnologia tem espaço garantido. Os smartphones ajudam nas pesquisas dos conteúdos obrigatórios e também são usados em aulas práticas, como as de fotografia.   Professora de arte da Escola Estadual Pedro II, em BH, Célia Francisca Soares utiliza conteúdos e ferramentas on-line para atrair a atenção dos alunos. “Tento mostrar para eles que a arte não é só desenho. O mundo deles é diferente. É a realidade da imagem imediata”.   Nas aulas da Célia, tem de tudo um pouco: produção de fotografia, documentários e análise de animações. Para pesquisar história, acervos e artistas, os estudantes podem usar os celulares. “Essa ferramenta tecnológica pode contribuir para perpetuar tudo que já foi produzido”, afirma a professora.   Nas aulas de Marcos Palmeira, no Colégio Marista, a tecnologia também é aliada do aprendizado. Os celulares já foram utilizados para a realização de ensaios fotográficos com as turmas do 7º ano. “O trabalho foi feito todo com o celular. Depois montamos uma exposição na escola”. Para Palmeira, a internet, hoje, é fundamental para a educação. “A ferramenta está ali no bolso e a gente tem que usar a nosso favor”.

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