Nem mesmo os radares instalados nas faixas exclusivas do transporte público de Belo Horizonte inibem o desrespeito de motoristas na capital mineira. Entre julho e dezembro de 2014, o número de multas cresceu quase quatro vezes em relação aos seis meses anteriores, segundo a BHTrans. No segundo semestre do ano passado, foram 41.462 autuações contra apenas 10.462 de janeiro a junho. Em um ano, o descumprimento da lei em Belo Horizonte rendeu R$ 2.110.930 aos cofres públicos.
Para a BHTrans, o crescimento no número de multas se deve à instalação de 14 novos radares no ano passado. No início de 2014, quando foi iniciada a expansão das faixas exclusivas, apenas quatro equipamentos operavam na capital, todos eles localizados na avenida Nossa Senhora do Carmo, na região Centro-Sul.
Com o fechamento do cerco aos motoristas infratores, 230 condutores, em média, foram flagrados diariamente invadindo faixas exclusivas no ano passado. Antes da instalação dos novos radares, eram 58 autuações por dia. Para Márcio Aguiar, professor do Departamento de Engenharia de Trânsito e Transporte da Fumec, o desrespeito
cresceu porque a punição ainda é leve. “As pessoas só vão obedecer quando começar a pesar no bolso e elas correrem o risco de perder a carteira”, afirmou. A invasão da pista da direita é considerada infração leve com multa de R$ 53,20. Já o valor para quem trafega pela faixa da esquerda sobe para R$ 127,69.
Saída de emergência
Nos pontos onde não há radares, o descumprimento da norma é ainda maior. Na última sexta-feira, em apenas dez minutos, a reportagem do Hoje em Dia flagrou mais de 15 carros invadindo a pista exclusiva para ônibus na avenida Pedro II, Noroeste da cidade. A maioria dos condutores comete a infração para fugir do engarrafamento.
“Por causa do congestionamento, o usuário aproveita qualquer brecha para entrar em um corredor livre. O que existe é uma irresponsabilidade do motorista para ganhar tempo”, frisou Márcio Aguiar.
Novos radares
Mais 351 trechos em corredores do Move e 827 em pistas mistas, onde também circulam coletivos comuns, receberão novos radares em 2015. Os equipamentos, já testados, estão sendo instalados pelo Consórcio ViasBH. Conforme a BHTrans, eles só poderão funcionar após serem homologados pelo Instituto de Pesos e Medidas de Minas
Gerais (Ipem-MG). A data em que os radares deverão entrar em operação não foi divulgada.
Comerciantes e taxistas reclamam de prejuízos
Polêmicas desde a implantação, as faixas exclusivas de ônibus instaladas na avenida Pedro II geraram prejuízos para motoristas e comerciantes que atuam na região.
A diminuição no número de corridas é sentida pelo taxista Juarez Barbosa Xavier, que trabalha há 30 anos em um ponto próximo à avenida. “O problema é que não tem como pegar o passageiro. Eu também evito porque é perigoso. O Move vem muito rápido e acidentes são comuns”.
As batidas são tão frequentes que Hélio Freire Monteiro, proprietário de uma loja de tintas automotivas no local há 15 anos, conta que todo dia alguém é surpreendido no trânsito. “Essa semana mesmo morreu um motoqueiro. O ônibus trafega rapidamente e ainda invade a pista da esquerda, quando a exclusiva está cheia”.
Hélio também teve prejuízos em função da implantação da faixa. “Antes, vendia cerca de R$ 5 mil por mês e agora não passa de R$ 2 mil”, afirmou.
O presidente do Sindicato dos Taxistas de Belo Horizonte, Ricardo Faedda, encaminhou um ofício à prefeitura, no ano passado, e realizou reuniões com a BHTrans com o objetivo de possibilitar que os táxis circulem nas vias exclusivas. “Ainda estamos aguardando uma solução”, destacou.