No meio do lixo, a história de quem ajuda a manter a cidade limpa

Milson Veloso - Do Portal HD
10/12/2012 às 15:40.
Atualizado em 21/11/2021 às 19:17
 (SAMUEL COSTA)

(SAMUEL COSTA)

Reginaldo Santos, 29 anos, percorre até 25 quilômetros diariamente, em um percurso que mescla corrida e caminhada. Ele não é atleta, mas precisa de muito preparo físico para aguentar a rotina pesada. Desde os 20 ele trabalha na coleta de lixo em Belo Horizonte e vive atrás do caminhão, recolhendo o material descartado pelas pessoas nas ruas da capital mineira.

Confira todas as reportagens do especial "BH aos Olhos das Ruas"

"Não é fácil não, mas a gente corre e se acostuma com o tempo. Nos primeiros dias meu corpo ficou todo dolorido, depois foi passando e não dói mais", explica. Reginaldo se esforça para conseguir sustentar a família, que inclui a esposa e um filho de 9 anos. "O mais difícil é lançar o lixo e ainda conseguir subir no caminhão", diz.
 
O gari é um dos 2.600 trabalhadores que atuam diretamente com a limpeza urbana em BH. São cerca de 800 em atividade só nos caminhões, além de 1.200 que fazem a varrição das vias públicas e outros 600 em outras tarefas. Esse pessoal recolhe, diariamente, 4.500 toneladas de lixo produzido pelos belo-horizontinos.
 
Além do material despejado pelas famílias, dados da Prefeitura de Belo Horizonte mostram outros números curiosos do serviço. São recolhidas, por exemplo, 13.500 carcaças de animais mortos nas ruas da cidade. Apenas nas vilas e favelas são produzidas 42 mil toneladas de detritos por ano. Do total de lixo recolhido no município, somente 10% são reciclados.
 
Confira no infográfico abaixo mais informações sobre a limpeza das ruas de BH:
 


 


"Ferra aê, motô"
 
Assim como o gari Reginaldo, o motorista Christian de Almeida, 32 anos, também atua na limpeza urbana. Ele é responsável por guiar um caminhão por uma rota pré-determinada na região da Pampulha, onde trabalha com mais quatro companheiros. Pelo caminho: lixo, muito lixo. "Segunda e terça são os dias mais difíceis, pois as pessoas descartam muito material do fim de semana", relata o motorista.
 
Para que a equipe consiga se entender em meio ao barulho e correria das ruas é necessário muito entrosamento e até mesmo uma linguagem própria. "A gente desenvolve alguns códigos para facilitar a compreensão do que está acontecendo em volta", explica. No vocabulário, a palavra "ferra" é um verbo para determinar o momento de pressionar os detritos na caçamba do veículo.
 
Mas a comunicação não é o único problema. A falta de colaboração da população e alguns acidentes fazem parte do dia a dia de quem constrói a história em meio ao que os outros jogam fora."Uma das principais dificuldade é o lixo espalhado, quando as pessoas deixam fora da sacola, pois atrasa na coleta", diz Christian, completando que também acontece de os garis se machucarem com material cortante, depositado de forma irregular.
 
Ao lado de Christian, estão os sempre sorridentes e entusiasmados Alexandre Domingos, 35 anos; Agnaldo Machado, 32; Leonardo Pereira, 25; e Osvaldo Nascimento, 32 anos. O Portal HD acompanhou o grupo durante um dia de trabalho e mostra um pouco mais sobre como é a rotina dos trabalhadores que
correm pela cidade para limpar a sujeira de mais de 2,3 milhões de habitantes.
 
Assista ao  vídeo abaixo:
 

 
 

Cidade modelo
 
Mesmo reciclando apenas um em cada 100 quilos de lixo recolhidos nas ruas, Belo Horizonte tem se destacado no país pelo serviço de coleta de materiais. É o que garante a engenheira sanitarista da SLU, Izabela Siqueira. "Nossa cidade se tornou modelo pela forma como é feito e descarte e por ter muito rigor no planejamento deste trabalho", diz.
 
De acordo com a representante do poder público, o sistema é programado em função da densidade populacional de cada região da cidade. Assim, é feito um roteiro pensando na quantidade de material que precisará ser recolhido e no percurso para os garis.
 
"Em cada trecho são retiradas, no máximo, sete toneladas e o caminhão faz até três viagens por dia. Além disso, a extensão percorrida pelo trabalhador não ultrapassa os 26 quilômetros", complementa Izabela.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por