No primeiro dia útil, BRT é quatro vezes mais rápido que carro

Raquel Ramos e Danilo Emerich - Hoje em Dia
Publicado em 11/03/2014 às 07:13.Atualizado em 20/11/2021 às 16:33.
 (Eugênio Moraes)
(Eugênio Moraes)

Mesmo com as muitas pendências e falhas que precisam ser corrigidas no BRT/Move, o novo meio de transporte coletivo de Belo Horizonte conseguiu ser uma boa alternativa ao automóvel. Na última segunda-feira (10), na estreia do sistema em dia útil, as viagens nos ônibus articulados da estação São Gabriel ao Centro, no horário de pico, foram quatro vezes mais rápidas do que o trajeto de carro.

O teste foi feito pela reportagem do Hoje em Dia. No mesmo horário, uma equipe embarcou, na estação, na linha 82 (Região Hospitalar/Savassi). A outra fez o mesmo trajeto de carro, pela pista mista.

Seguindo nas faixas exclusivas da avenida Cristiano Machado, ônibus do Move demorou 23 minutos para chegar à Praça da Estação, mesmo parando em todas as plataformas. O trajeto feito de carro pela pista mista, onde a fila de carros chegava à região de Venda Nova, levou uma hora e 32 minutos.

Embora muita gente tenha atribuído a lentidão ao início do funcionamento do novo sistema, a BHTrans apontou outro motivo para o congestionamento. Segundo a empresa, na última segunda-feira (10) foi o primeiro dia útil após o período de Carnaval. Com isso, foi detectado um volume maior de veículos trafegando nas principais vias da cidade.

Era clara a frustração dos motoristas presos no congestionamento da avenida Cristiano Machado, enquanto os coletivos articulados do Move avançavam livremente.

PONTO FRACO

Mas as vantagens de optar pelo novo transporte público deixaram de existir assim que o ônibus articulado chegou ao Centro da cidade. Sem faixas preferenciais, disputava espaço com automóveis, motos e coletivos convencionais.

Com isso, uma das principais propostas do sistema – menor tempo de viagem – ficou comprometida. Com o cronômetro na mão, o relações públicas Marcos Plata tirou a prova. Desde a Estação São Gabriel, o tempo gasto foi de 39 minutos para chegar à rua Professor Moraes utilizando o Move. De carro, em dias anteriores, ele fazia a mesma viagem em 45 minutos.

“Como o trânsito estava muito intenso, acredito que fiquei no lucro. Mas em outros dias, não sei se valeria a pena”, comentou.

Sistema ainda tem que convencer passageiro

Já no terceiro dia de operação, alguns belo-horizontinos arriscaram deixar o conforto do automóvel próprio para experimentar o BRT/Move. Um deles foi Leandro Bicalho, que trabalha como assistente-técnico no bairro Palmares, na região Nordeste de BH. “Estou acostumado a fazer o trajeto de carro. Se der certo, vou utilizar o novo sistema diariamente. Estou cansado de ficar preso em trânsito”, disse.

Passageiros que utilizam o ônibus convencional também se mostraram dispostos a testar o novo meio de transporte. Após ficar uma hora agarrada dentro do coletivo da linha 5523, a bibliotecária Silene Machado desceu do veículo para recorrer ao Move. “Não faz mais sentido ficar nesses ônibus se a pista central está livre para o novo sistema”, comentou.

Por outro lado, mesmo preso por quase uma hora no congestionamento da avenida Cristiano Machado, o aeroviário Guilherme Oliveira, de 33 anos, afirmou que não deixaria o carro em casa. “Mesmo se o BRT for mais rápido, eu não troco. No meu carro tenho mais conforto, é mais cômodo”, disse.

Segundo o balanço da BHTrans, 41 viagens foram feitas na última segunda-feira (10) pelas linhas 83P e 83D. Os ônibus articulados da linha 82 fizeram o trajeto 42 vezes.

Curva estreita terá que ser adaptada para veículos articulados

O acesso da avenida Getúlio Vargas à rua Professor Morais, na Savassi, terá que ser adaptado para os novos ônibus do BRT/Move. Na última segunda-feira (10) pela manhã, uma equipe de técnicos da BHTrans esteve no local para vistoriar o que pode ser feito.

O motivo é a dificuldade de conversão à direita pelos coletivos articulados da linha 82 (Área Hospitalar/Savassi). Uma ilha para pedestres no cruzamento, com a presença de um semáforo, dificulta a manobra, exigindo redução da velocidade e muita atenção dos motoristas.

Devagar, os condutores precisam abrir a curva para, então, pegar o acesso. Um agente de trânsito da BHTrans reconheceu o problema e disse que muitos veículos chegaram a subir no passeio para fazer a curva.

Uma das possíveis soluções é a remoção da ilha para pedestres e a mudança da posição das faixas para a travessia. No local, até os coletivos convencionais têm um curto espaço para a manobra.

SEM PREFERÊNCIA

Também serão feitas alterações na avenida Cristiano Machado, logo após a Silviano Brandão. Como não há pista exclusiva para o Move nesse trecho, a BHTrans testou, na última segunda-feira (10), colocar cones para delimitar uma faixa preferencial para os ônibus articulados.

Sem bons resultados, porém, a barreira foi tirada ainda de manhã. Com isso, coletivos convencionais passaram ao lado da plataforma, atrapalhando o acesso do novo meio de transporte.

Segundo a BHTrans, o problema só será corrigido após a construção de um viaduto que ligará o corredor ao hipercentro. O edital para a obra foi publicado no fim de fevereiro e as propostas vencedoras serão apresentadas a partir de 2 de abril.

Problemas do fim de semana persistem

Dois dias era o tempo que a BHTrans se propôs a corrigir todas as falhas que ficaram evidentes na estreia do BRT/Move. Na última segunda-feira (10), no entanto, os mesmos problemas constatados no fim de semana permaneciam.

Na estação São Gabriel, as catracas que estavam com defeito e não faziam a leitura dos cartões ainda aguardavam por assistência técnica.

Mais pendências foram detectadas nas plataformas da avenida Cristiano Machado. Mesmo ligados, os painéis eletrônicos não mostravam informações sobre a chegada dos ônibus articulados. Além disso, as portas que deveriam ser automáticas ficaram o tempo todo abertas porque o sensor não foi instalado. Os extintores de incêndio também não foram colocados no local.

Em nota, a assessoria de imprensa da BHTrans informou que foram tomadas providências para todos os problemas detectados. Foram feitos remanejamento de equipes de orientação e ajustes nos itens tecnológicos do sistema.
 

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